Em Belém, recentemente, duas pessoas em sofrimento psíquico extremo atentaram contra a própria vida. Os dois casos aconteceram na mesma semana e no mesmo local neste mês de maio. As informações e imagens foram amplamente divulgadas em blogs pessoais e em grupos de mensagem. O fato levantou a discussão sobre a ‘espetacularização’ e a banalização da auto violência.
O BT conversou com a neurocientista e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), Cecília Benazzato, sobre a maneira adequada de se abordar o tema, considerando possíveis gatilhos para pacientes em sofrimento psíquico.
Cecília explicou que, apesar de não existir uma correlação direta entre a influência da mídia e o número de suicídios, “estudos realizados após a morte de alguma celebridade ou série relacionadas a suicídio apresentaram um aumento na taxa de suicídios em um período de 3 meses”.
Este é o “efeito copycat”, ou “efeito modelagem” e representa “um padrão de comportamento que se repete em casos de crimes e suicídios, causado pelo sensacionalismo e publicidade”, revelou a cientista.
No entanto, ela afirma que as estimativas apontam que 90% de casos de suicídio têm relação com transtornos psiquiátricos e apenas 10% estão relacionados à impulsividade.
Sobre a banalização do suicídio, a neurocientista ressaltou que é incorreto abordar o tema como “uma fase ou uma tentativa de chamar a atenção”. Ela afirma, ainda, que essa abordagem pode levar a uma interpretação errada a respeito do assunto. “Esta abordagem pode ser interpretada como livre-arbítrio e natural, estimulando a pessoa com intenção a refletir sobre suas angústias de forma que ela não encontre outra saída além do suicídio”, afirmou.
Ela alertou, também, para o sensacionalismo em cima de notícias sobre suicídios, uma vez que isso pode gerar uma “idealização de um método” para aqueles que estejam na intenção de cometer violência contra si mesmo. “Notícias que descrevem a morte de uma celebridade, por exemplo, muitas vezes descrevem o método utilizado pela pessoa, desta forma, dando visibilidade para pessoas com intenção uma maneira de ser efetivo, além de criar uma identificação com a notícia. Esse comportamento criado em relação à identificação da vítima é o ponto chave para determinar a linha de raciocínio que levará a pessoa com intenção para uma decisão de ajuda ou de fuga”, alertou a neurocientista.
Cecília fez um alerta para a importância de fazer uma abordagem responsável do assunto, chamando a atenção para possíveis sinais do comportamento suicida. A maioria das pessoas que têm esta intenção, disse ela, geralmente possuem transtorno psiquiátrico associado, como depressão, transtorno bipolar e alcoolismo. “É necessário falar sobre formas de prevenção, acolhimento e eventuais tratamentos para apresentar outras soluções para a pessoa com comportamento suicida”, contou.
Cecília também reforçou a importância do acolhimento a esses pacientes: “O acolhimento é a fase mais essencial no primeiro momento, uma vez que esta pessoa muitas vezes sequer reconhece que está doente ou precisando de ajuda”, finalizou.