Nesta quarta-feira, 9, o BT entrevistou o psicoterapeuta Leonardo Torres, que há seis anos se dedica a estudar as características do contágio psíquico. Em um momento de manifestações antidemocráticas e inconstitucionais de forma assustadora e acentuada pelo Brasil, é importante buscar compreender que tipo de ideologia sustenta psicologicamente essas pessoas que realizam bloqueios de rodovias e incitam a violência e o ódio.
NOTÍCIAS FALSAS
Torres fez avaliações sobre alguns vídeos que repercutiram nas redes sociais em protestos, como um em que uma manifestante bolsonarista chora amordaçada pedindo intervenção para as forças armadas, e outro, em Belém, onde uma senhora faz preces pedindo salvação e livramento do próximo governo eleito.
“Estamos falando de um delírio coletivo e não de eleitor X ou Y. São pessoas específicas que estão recebendo e acreditando fielmente em fake news e fazem outras pessoas sofrerem também. Temos que olhar para isso de uma forma psicológica e sociológica para entender o que a sociedade está trazendo”, explicou o especialista.
De acordo com Leonardo, o mecanismo propulsor de todas as manifestações pelo Brasil são as fake news e o compartilhamento dessas notícias falsas. ” As notícias falsas são avassaladoras. Se a gente for olhar as pesquisas sobre a vacina contra a covid-19 um ano atrás, 7 em cada 10 brasileiros acreditavam nas fake news da vacina. E hoje não é diferente, elas (fake news) estão criando uma realidade alternativa”, afirmou.
Notícias fictícias como a prisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes, e que as eleições teriam sido fraudadas, colocando em dúvida o processo eleitoral brasileiro, que é modelo de excelência para outras nações, são exemplos de desinformação cegamente tidas como verdade por apoiadores de Jair Bolsonaro.
MEDO
O psicoterapeuta acredita que as fake news são poderosas e podem fazer surgir um sentimento que alimenta e mantém dia após dia os protestos inconstitucionais nas ruas e os pedidos de intervenção militar.
“Toda a fake news, apesar da notícia ser falsas, têm uma verdade ali, a verdade que ela faz eclodir nas pessoas uma emoção. O nome dessa emoção é medo. As fake news mobilizam o medo na sociedade”, contou.
Além do medo, as fake news prejudicam e descredibilizam os jornalistas, que trabalham para mostrar a verdade dos fatos, ou seja, a notícia falsa não possui compromisso com a verdade.
“O jornalista traz o fato com o maior potencial de verdade para a população. O que estamos vendo é o contrário disso. Eles (os manifestantes) estão inventando para incitar o medo e fazer com que a população haja de uma forma totalmente emocional e violenta, tornando as pessoas praticamente um animal. Esse grupo de manifestantes está muito instável e volátil e não sabemos o que pode vir deles”, advertiu Leonardo.
RELIGIÃO E POLÍTICA
Outro fator crítico que agrava o cenário e ocasiona episódios de confiança cega dos radicais bolsonaristas e suas ideias compartilhadas em grupos de mensagens, onde eles interagem e se articulam, está associada na perigosa mistura entre política e religião.
“Não existe nenhuma sociedade que não tenha religião. Nós (pessoas), somos seres que acreditam, e que acreditam em algo acima de tudo. No Brasil a política usurpou a religião, usurpou a fé das pessoas. Usam a fé como um instrumento para fazer política. Inúmeras vezes a gente vê políticos se encontrando com líderes religiosos, existe uma certa relação”, destacou.
Dessa forma, a mistura entre política e religião gera uma confiança cega em determinado político, onde o eleitores acredita que determinado político é um enviado de Deus. “Essa pessoa vai entender que aquilo é o bem, e o contrário representa o mal”, observou o psicoterapeuta.
SOLUÇÃO
Por fim, todo o contexto de manifestações, delírios coletivos, incitação ao ódio e à violência afetam a sociedade de uma forma preocupante, bem como, abala a saúde mental das pessoas.
Torres elencou como possibilidades de solucionar o chamado “delírio coletivo”. “Com o tempo e com muita paciência a gente vai conseguir encontrar um caminho certo para sair desse labirinto. Recomendo que as pessoas se informem mais. A comunicação não só acontece em um grupo de Whatsapp. A realidade está em diversos veículos de comunicação, está na ciência, está na opinião divergente. Temos que ter consciência, e para ter consciência, temos que buscar os diversos lados e não acreditar em uma única fonte ou um único grupo de um mesmo candidato ou movimento”, sugere.
“É necessário estudar mais e ter mais reflexão sobre as informações no que se é recebido e compartilhado, para não cair em fake news”,finalizou.
Assista a entrevista: