O artista visual e fotógrafo Luan Rodrigues registrou em imagens o tradicional Carnaval das Ilhas de Cametá, festividade que acontece dentro do recorte das vilas localizadas longe da cidade. Em entrevista ao BT, Luan relata que sem a devida exposição do que acontece dentro das comunidades, as pessoas de fora jamais terão acesso ao festejo. “O pessoal da cidade não tem acesso às ilhas. A não ser que tu tenhas uma família, ou algum conhecido pra te meter nas ilhas, tu fica no carnaval da cidade. Pra ir pra lá se depende de barco, qualquer deslocamento necessita de uma rabetinha ou algo do tipo, então é muito comum que muita gente não conheça o Carnaval das Águas em Cametá. São poucos os registros que tem de lá”.
Luan, que frequentemente fotografa as manifestações do Carnaval das Águas e possui amplo trabalho de registro de comunidades tradicionais pelo mundo, foi pela primeira vez ao Carnaval em 2012, na companhia da professora Viviane Menna Barreto. O artista relata que, um dia, comentou com a professora que era natural de Cametá mas que nunca tinha ido à festividade. “Na época, conseguimos nos articular com as meninas da ‘Casa Fora do Eixo’, e em três dias conseguimos montar uma equipe de voluntários e partimos para Cametá. Tínhamos o contato do mestre Engole-Cobra, na ilha do Juaba, e fomos para a casa dele. De lá fizemos a cobertura”.
“A partir dessa viagem que nós fizemos, a Viviane continuou indo por mais três ou quatro anos, fazendo a extensão de um projeto dela chamado “Cartografias da Amazônia”. Ela conseguiu integrar outras pessoas para fazer a captação. Fizemos documentários e ela tem até um site onde fizemos o mapeamento dos diversos blocos nas diversas ilhas”, declarou Luan.
O fotógrafo explica que o trabalho feito pela equipe do site carnavaldaaguas.com é o ponto de informação mais precioso sobre o evento, pois nem mesmo a prefeitura de Cametá tem um mapeamento a ser divulgado sobre as festas. “Na época do carnaval, eles (a prefeitura) liberam uma ‘graninha’ para o pessoal construir suas fantasias, mas tudo o que acontece dentro da cidade de Cametá relacionado ao Carnaval das Águas é uma passagem dos blocos dentro da avenida, um atrás do outro”.
Luan explicou, também, sobre a sua relação com o Carnaval tradicional das ilhas. Eu fiz a primeira viagem ao local há dez anos, a gente passou uma semana lá, então eu tenho muito material dessa época. Ao decorrer desses dez anos eu fui mais umas duas vezes, uma pra região do Joropa, e outra vez para o Tentem, na região do Mutuacá. Esse ano eu fui novamente pra lá. Agora que eu estou mais próximo quero tentar instigar novos projetos e novas perspectivas da região.”
Além das tradicionais fotos do evento. Luan comenta sobre as criações feitas com a ajuda de Inteligência Artificial (I.A) a partir dos registros que tem feito dos cordões. “Eu percebi que o Carnaval das Águas é um recorte tão isolado que nós não temos ponto referencial estético algum na internet. O imaginário da galera nunca viu algo do tipo, então eu usei o advento da I.A para chamar mais atenção para a cultura deles”.
“Quando eu fiz a postagem das imagens, eu misturei as feitas por mim com as feitas por inteligência artificial. Isso confundiu muita gente, e muita gente nem percebeu que haviam ali imagens criadas por inteligência artificial. Pois o Carnaval das Águas é tão fantástico que é facilmente confundido com um mundo criado artificialmente”, conta Luan.
“Existem muitas histórias a serem contadas da região, mas eu não posso te contar, pois eu não sei. São informações que estão guardadas ali. Eu costumo dizer que ali existe um El Dorado de informações que nem mesmo os cametaenses conhecem”, finalizou o artista.