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“Conhecer o nosso corpo é um ato revolucionário”, diz especialista em ginecologia natural amazônica

Esta semana, o podcast e videocast “Amazônia no Ar” entrevistou a Antropóloga, Historiadora, Naturóloga e criadora da Ginecologia Natural Amazônica, Danielle Souza. Indígena do povo Anambé, a especialista conversou com a jornalista Mary Tupiassu sobre a importância da ginecologia natural, o aumento de casos de endometriose, a ginecologia médica e muito mais.

Logo no começo do papo, Danielle explicou falou sobre o que é a ginecologia natural amazônica. “É um movimento que nasceu na segunda onda dos movimento feminista, especialmente o movimento do ecofeminismo – que é um movimento que traz essa perspectiva que nós também somos natureza. Ao longo da história da humanidade temos momentos que olhamos um pouco pro passado e tentamos retomar coisas que deram certo, e no movimento feminista foi o ecofeminismo que representou esse momento de olha pra trás nessa tentativa de retomada de saberes e práticas que têm relação com a natureza”, explicou.

Corpo
Danielle Souza. Foto: Reprodução/redes sociais.

Entretanto, a especialista pontuou que o uso da ginecologia natural não substitui a medicina tradicional. “Ainda que tenhamos pessoas capacitadas pra entender as tecnologias e as técnicas da ginecologia natural, ela sempre traz essa perspectiva de que as pessoas podem tomar esse conhecimento pra si, a ponto de ter sua autonomia. Mas isso não substitui a utilização das medicinas médicas. A ideia é que sejam complementares”, alertou.

Danielle falou ainda sobre a importância da mulher reconhecer o próprio corpo. “A gente vem de uma sociedade patriarcal, onde o prazer feminino foi associado pelas culturas ocidentais ao pecado, ao proibido. Isso faz com que pessoas passem a não conhecer o próprio corpo. Então a ginecologia natural traz a educação sexual e menstrual com o objetivo de que isso auxilie as mulheres a se conhecerem.”

E seguiu: “E esse autoconhecimento é físico mesmo, de você se reconhecer como uma pessoa. Porque, quando a sociedade atribui a mulher a função doméstica, a função de criar filho, é uma escravidão. Você tira essa pessoa da sua humanidade. E a primeira retomada da ginecologia natural é essa: nos lembrar que somos humanas, primeiramente. Conhecer o nosso corpo é um ato revolucionário”.

A naturóloga falou ainda sobre a ação do anticoncepcional no corpo da mulher com útero e como ele age em tratamento de endometriose. “Ele contém os focos, mas em alguns casos é necessário fazer o processo cirúrgico mesmo. Ele é um amortecimento, tira o sintoma e quando faz isso parece que resolveu, só que não. Continua ali. Essa é uma das grandes críticas da ginecologia natural, porque o remédio bloqueia o ciclo menstrual, retém os focos da endometriose. Em alguns casos regride? Sim, mas, em alguns casos, a partir do momento que a mulher tira o hormônio temos o agravamento do caso”, relatou.

Confira a entrevista na íntegra: