Segue um mistério para a população a justificativa para a expulsão do bispo Emérito do Marajó, Dom José Luis Azcona Hermoso, da Prelazia do Marajó. Apesar das cobranças da Prelazia, da sociedade organizada e de protestos dos marajoaras, a Nunciatura Apostólica no Brasil ainda não deu explicações sobre o comunicado que fez, via telefone, ordenando a saída de Dom Azcona.
Em uma mensagem enviada aos fiéis, o bispo Dom José Ionilton, que deve chegar ao Marajó em janeiro, negou interferência no caso e disse que pretende interferir para tentar reverter a decisão. A expectativa é de que os bispos, Dom José Ionilton e Dom Azcona, se reúnam em Belém na terça-feira, 12, para deliberarem sobreo assunto.
Dom Azcona foi comunicado, semana passada, pela Nunciatura Apostólica no Brasil que deveria deixar o Marajó e não recebeu mais explicações. A Nunciatura é a representação diplomática do Vaticano no Brasil e se reporta diretamente ao Papa Francisco. Procurada pela reportagem, a Nunciatura ainda não se pronunciou.
Devida a repercussão do caso, boa parte da população marajoara desaprovou a expulsão do bispo, a Prelazia do Marajó confirmou que o Núncio Apostólico, Dom Giambattista Diquattro, pediu para Dom Azcona “não ter residência dentro da Prelazia do Marajó” e reforçou seu apoio ao bispo emérito.
“Não recebemos da Nunciatura nenhuma notificação das motivações para tal pedido e nem mesmo detalhes. Apenas foi confirmado para nós, pelo próprio Dom José o pedido do Sr. Núncio.”, explicou a nota assinada pelo padre Kazimierz Antoni Skorki, que disse esperar esperar uma explicação.
Ontem (10), também após repercussão negativa, o bispo Dom José Ionilton, que ainda permanecia na Prelazia de Itacoatiara, no Amazonas, enviou um áudio negando interferência na saída de Dom Azcona do Marajó. Ele disse que estava em visitas às comunidades locais e que não teve tempo de escrever, por isso encaminhava o áudio explicando como tomou conhecimento do caso e se comprometendo a defender a permanência de Dom Azcona.
“Tomei conhecimento, pelas redes sociais, desta transferência de Dom José Azcona. Já manifestei ao Clero, em um áudio, também já manifestei à própria Nunciatura e aqui quero que o povo católico da Prelazia do Marajó tenha conhecimento de que esta transferência de Dom Azcona foi uma solicitação minha”, afirmou.
“Eu não coloquei isso como condição para assumir o ministério na Prelazia. Aliás, este assunto não foi tratado comigo na conversa do Núncio quando me comunicou que eu estava sendo proposto para ir prestar este serviço como bispo aí na Prelazia do Marajó”, acrescentou Dom Ionilton.
O novo bispo disse que, quando recebeu o convite para assumir o Marajó, não havia se dado conta da presença de Dom Azcona e que, depois, ao tomar conhecimento, pediu informações sobre como se relacionar com o colega.
“A única coisa que posso dizer é que numa das conversas com o Núncio eu disse que gostaria de receber uma orientação sobre como um bispo titular deve se relacionar com um bispo emérito que mora na área da Diocese ou da Prelazia. Não coloquei isso como uma impossibilidade”, reforçou.
Quando recebeu um pedido da Nunciatura para informar o telefone de Dom Azcona, o novo bispo disse ter demonstrado preocupação e ter reforçado que não era o momento adequado para promover uma possível mudança.
“Eu disse ao Núncio que não era adequado fazer isso agora. Eu disse que quando chegasse aí [no Marajó], na medida em que a gente fosse convivendo com Dom Azcona, se houvesse necessidade de uma conversa posterior, a gente conversaria, mas depois da minha chegada”, justificou.
Por fim, Dom Ionilton informou que pretende defender a permanência de Dom Azcona no Marajó junto à Nunciatura.
“Vamos continuar lutando para que esta decisão seja revertida. Não sei se eu consigo isso, mas vamos tentar ver se o Núncio compreende que uma decisão como esta não foi a melhor decisão, não foi a decisão que o bispo que vai chegar solicitou e que não é a melhor decisão para um momento como este, de aproximação para a data de início dos serviços de um novo bispo”, concluiu.
A expectativa é de que ainda na terça-feira, ainda de manhã, os dois bispos se reúnam na Casa da Prelazia, em Belém, para tratarem sobre o assunto. Se não chegaram a um consenso e conseguirem reverter a decisão da Nunciatura, a tendência é de que Dom Azcona acate a decisão superior e se recolha.
POPULAÇÃO EM DEFESA DE AZCONA
Desde que a população soube da comunicação da saída de Dom Azcona da Prelazia, as manifestações ganharam as redes sociais e as ruas marajoaras. A ausência sentida foi de prefeituras, câmaras de vereadores e políticos, de quem Dom Azcona sempre foi crítico quando necessário.
Uma petição online já reunia quase 1,3 mil assinaturas na manhã desta segunda-feira solicitando a permanência de Dom Azcona.
Ontem à noite, após a missa, fiéis se reuniram em Soure com faixas e cartazes defendendo Dom Azcona. Nas redes sociais, as manifestações foram feitas por diversas entidades.
O Instituto Dom Azcona (IDA) lembrou a dedicação de mais de 40 anos do bispo em favor das causas sociais, “especialmente no enfrentamento ao abuso sexual de crianças e adolescentes e ao tráfico de pessoas” e tratou a saída como “expulsão”.
“A expulsão de Dom Azcona representa um desrespeito não apenas a ele, mas também à nossa comunidade. É inadmissível que um líder tão exemplar, que dedicou sua vida em prol do próximo, seja tratado desta forma injusta e arbitrária. Exigimos que as autoridades eclesiásticas reconsiderem essa decisão e restabeleçam o Bispo Dom José Luís Azcona em seu posto na Prelazia do Marajó. Sua presença é indispensável para continuarmos avançando na luta contra o abuso sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de pessoas.
*Feito com informações do site Notícias do Marajó.