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Água verde e salgada em Icoaraci e Mosqueiro: fenômeno pode estar ligado a mudanças climáticas

Imagem: Reprodução / @Fabricio_photos_

O fenômeno chamou atenção nos últimos dias em que moradores de Mosqueiro e Icoaraci relataram nas redes sociais que as praias estão com uma coloração de água verde e azulada, no Pará. A diferença foi notória, já que o comum seria o aspecto barrento da água, porém o que pode parecer um fenômeno bonito e diferente pode ser motivo de preocupação. 

Em conversa com o BT, a professora Sury Monteiro, que é oceanógrafa (UFPA), Mestre em Geologia e Geoquímica (UFPA) e Doutora em Oceanografia Ambiental (UFES), falou sobre o fenômeno e as preocupações que ele causa.

Água esverdeada em Mosqueiro e em Icoaraci (Reprodução / @Fabricio_photos)

POSSÍVEIS CAUSAS

Segundo a especialista, a coloração dos rios é influenciada por vários aspectos, seja pela quantidade de partículas em suspensão, material dissolvido, pela oscilação da maré, até mesmo pelo horário do dia. 

A mudança na cor das águas dos rios nesta época é parcialmente influenciada pela entrada da água do mar, que possui tons mais claros, entre azul e verde. Sury ainda afirma que observações de longo indicam que essa água oceânica atinge áreas como as baías do Marajó e Guajará, chegando até Coraci.

Esse fenômeno traz um leve aumento de salinidade, mas a alta vazão dos rios na região ajuda a diluir essa influência marinha, controlando o impacto na coloração das águas locais. 

“No período de mais chuvas a gente tem maior vazão fluvial, maior descarga dos nossos rios e isso faz com que a gente tenha uma água mais amarronzada. E no período oposto, que é esse período que a gente está vivendo agora, que é o período de baixo índice de pluviosidade, a gente tem uma redução na vazão dos nossos rios e consequentemente a água marinha mais transparente com menos partículas em suspensão ela acaba penetrando o nosso sistema hidrográfico”, afirmou a professora. 

PREOCUPAÇÃO E MONITORAMENTO

A entrada de água marinha nos rios amazônicos, um fenômeno natural registrado, há décadas, pode estar sendo intensificada pelas mudanças climáticas. Para Sury Monteiro, é essencial acompanhar esse fenômeno de forma detalhada e científica: “É imprescindível que a gente compreenda que isso precisa ser monitorado, isso precisa ser pesquisado, isso precisa ser registrado através de medições e não somente de observações visíveis para que a gente possa realmente entender a influência das mudanças climáticas sobre essa intrusão marina.”

Esse monitoramento contínuo é importante para garantir a segurança hídrica e alimentar da Amazônia, já que a água doce da região é um recurso essencial para comunidades locais, atividades pesqueiras e agricultura. “Uma intrusão marinha mais severa ou por mais tempo pode impactar futuramente nas nossas atividades sociais econômicas”, alerta a oceanógrafa.

Especialistas monitoram esse processo há cerca de dez anos por meio do Observatório da Costa Amazônica, mas agora, o fenômeno está sob atenção redobrada devido aos possíveis impactos das alterações climáticas na região: “Esse processo pode estar sendo intensificado pelas mudanças climáticas, onde a gente tem observado efeitos extremos sobre a redução na vazão dos nossos rios, a redução no índice de pluviosidade ou eventos de tempestades extremos e isso faz com que a gente tenha uma intensificação, pode ter uma intensificação nessa intrusão de águas marinhas”, explicou a especialista.