A coletiva de imprensa do G20 em Belém desta sexta-feira, 1, foi palco de um episódio de repressão contra comunicadores populares. O jornalista Luti Guedes, representante dos movimentos Observatório do Marajó e 350.org, teve sua credencial retirada pela Polícia Federal e pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. Mesmo com o credenciamento devidamente aprovado pela equipe organizadora, a autoridade presente decidiu expulsá-lo, alegando que o processo de inscrição havia sido um erro.
Antes de se dirigir à coletiva, o jornalista participou de um protesto próximo ao centro de convenções onde o evento ocorreu. A manifestação cobrava ação climática urgente dos países do G20 e exigia respeito do governo federal às demandas das comunidades tradicionais, como o fim do Marco Temporal e mudanças na tarifa social de energia. “Queríamos acompanhar a coletiva e fazer perguntas, mas, para eles, era um problema estarmos ali”, relatou o jornalista expulso. “Nos viram no protesto e resolveram nos barrar da coletiva, mesmo com tudo aprovado no credenciamento. Disseram que poderíamos assistir pelo YouTube, mas não fazer perguntas.”
Ao ser abordado por um delegado da Polícia Federal e um funcionário do Ministério do Desenvolvimento Regional, o jornalista foi intimado a entregar sua credencial e foi informado de que não poderia participar da coletiva. O motivo apresentado foi que ele “não seria um jornalista”, segundo os critérios estabelecidos pela organização. Questionados sobre os motivos para essa checagem específica, as autoridades não forneceram respostas concretas sobre quais informações estavam verificando ou o que definia a adequação para participar do evento.
Histórico e Credenciais
O jornalista atua há anos no Observatório do Marajó, com foco em temas ambientais e sociais que impactam as comunidades ribeirinhas. Além disso, já teve textos publicados em veículos de alcance nacional, como Carta Capital e Projeto Colabora, onde explora questões de sustentabilidade e direitos das comunidades tradicionais. No processo de credenciamento para o G20, ele deixou claro que seu trabalho incluiria a cobertura para o Observatório do Marajó e que seus materiais seriam destinados aos públicos dessas comunidades, com quem ele trabalha regularmente.
Segundo o jornalista, a decisão reflete uma arbitrariedade preocupante e um desrespeito à função social do jornalismo comunitário, que visa tornar acessíveis informações de interesse direto das comunidades populares.
O BT solicitou um posicionamento à assessoria de comunicação do G20 e também ao Ministério de Desenvolvimento Social e aguarda o retorno.