No dia 28 de junho de 2024, a influenciadora brasileira Kat Torres foi condenada a oito anos de prisão por tráfico humano e condições análogas à escravidão. A sentença foi proferida pelo juiz Marcelo Luzio Marques Araújo, da 10ª Vara Federal do Rio de Janeiro, e marca o desfecho de um caso que envolveu investigações internacionais e a colaboração do FBI, a Polícia Federal americana.
DESAPARECIMENTOS E DESCOBERTAS
O caso começou em setembro de 2022, quando duas jovens brasileiras foram reportadas como desaparecidas. A única pista era que estavam morando com Kat Torres nos Estados Unidos. A investigação, que envolveu a família das vítimas e o FBI, desvendou uma trama de tráfico humano e exploração, levando à prisão da influenciadora.
ABUSO E MANIPULAÇÃO
Ana, uma das vítimas que não estava entre as desaparecidas, foi fundamental para o resgate das jovens. Ela contou à BBC News Brasil como Kat a atraiu com promessas de ajuda espiritual e conselhos de vida, mas acabou submetendo-a a condições abusivas. Ana se mudou para a casa de Kat, em Nova York, em 2019, onde foi forçada a realizar tarefas domésticas sem receber seu salário.
“Ela dizia que já tinha superado vários relacionamentos abusivos e era justamente isso que eu estava buscando”, contou Ana, que enfrentava uma situação vulnerável devido a uma infância violenta e um relacionamento abusivo anterior.
Kat Torres usava sua influência nas redes sociais para atrair seguidoras, oferecendo conselhos de vida, espiritualidade e sucesso nos negócios. Suas vítimas, muitas vezes em situação de vulnerabilidade emocional, acabavam isoladas de amigos e familiares, e se viam obrigadas a cumprir exigências cada vez mais radicais.
Desirrê Freitas e Letícia Maia, cujos desaparecimentos motivaram a operação do FBI, foram submetidas a condições extremas de exploração. Desirrê, que escreveu sobre suas experiências no livro “@Searching Desirrê”, relatou que foi forçada a trabalhar em um clube de strip-tease e, posteriormente, como prostituta, sob ameaças de Kat.
A QUEDA DE KAT TORRES
As investigações revelaram que Kat utilizava técnicas de manipulação psicológica para controlar suas vítimas, ameaçando-as com supostos poderes espirituais e retendo seus documentos pessoais. A situação se agravou com a exposição midiática do caso, levando a uma operação policial que resgatou as vítimas e resultou na prisão de Kat.
Em entrevista à BBC, Kat Torres negou todas as acusações, mantendo-se calma e serena, mas não conseguiu refutar as evidências apresentadas. Após a sentença, seu advogado, Rodrigo Menezes, recorreu da condenação, insistindo na inocência de sua cliente.
O caso de Kat Torres é tema do documentário “Do like ao cativeiro: ascensão e queda de uma guru do Instagram”, publicado no canal da BBC News Brasil no YouTube. O documentário detalha as táticas de manipulação da influenciadora e a luta das vítimas por justiça.
A investigação sobre acusações de outras mulheres contra Kat continua no Brasil, com a expectativa de que mais vítimas se apresentem. Ana espera que sua história sirva como alerta, destacando a gravidade dos crimes de Kat e a necessidade de vigilância contra abusos disfarçados de aconselhamento espiritual.