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‘Mestras’ é o primeiro documentário longa metragem do Pará selecionado no Festival de Gramado

‘Mestras’ é o primeiro documentário longa metragem do Pará selecionado no Festival de Gramado

O cinema da Amazônia acaba de atingir um marco significativo: pela primeira vez, um documentário de longa-metragem do Pará é selecionado para o Festival de Gramado, o mais prestigiado evento audiovisual do Brasil. O filme “Mestras” está entre os cinco escolhidos na categoria, competindo com cerca de 150 inscrições. Dirigido pela cantora Aíla e pela artista visual Roberta Carvalho, a obra destaca o papel crucial de mulheres artistas na preservação e promoção das tradições culturais da região Norte.

A premiação do Festival de Gramado acontece em 17 de agosto, e o documentário será exibido no Canal Brasil no dia 13 de agosto. Produzido pela 11:11 ARTE, o projeto conta com patrocínios da Natura Musical, via Lei de Incentivo à Cultura Semear, Fundação Cultural do Pará e Governo do Pará.

Aíla, cantora e compositora, faz sua estreia no cinema com este filme, já concorrendo a um Kikito. “É muito emocionante ver isso acontecer, ainda mais com um filme feito por uma equipe 100% do Pará, do Norte. Estamos vibrando para que venha mais. Queremos o Kikito para ‘Mestras’! Espero que essa indicação ao Festival desperte o interesse pelo Brasil e mundo de ouvirem histórias da Amazônia contadas por amazônidas, em 1ª pessoa”, diz Aíla.

Diretoras de 'Mestras' Roberta Carvalho e Aíla. Foto: Julia Rodrigues
Diretoras de ‘Mestras’ Roberta Carvalho e Aíla. Foto: Julia Rodrigues

Na pesquisa para o filme, Aíla e Roberta Carvalho mapearam várias mestras do Pará, frequentemente omitidas nos registros da música nortista brasileira, o que destaca a predominância histórica de protagonistas masculinos em diversos setores, das artes à política. O documentário explora diferentes vertentes da música paraense, como o samba de cacete com a Mestra Iolanda do Pilão, o boi com a Mestra Miloca, e o carimbó com a Mestra Bigica do grupo Sereia do Mar. A cantora Dona Onete também participa, compartilhando momentos marcantes de sua trajetória, incluindo a gravação de seu primeiro disco aos 73 anos, consolidando-se como uma referência na música paraense nacional e internacionalmente.

Dona Onete participa do filme Mestras. Imagem: Reprodução
Dona Onete participa do filme. Imagem: Reprodução

“Registrar as trajetórias das mestras da música popular é um ato político e de ativismo cultural, uma vez que estamos abordando as inúmeras invisibilidades enfrentadas pelas mulheres. Elas são guardiãs de tradições ancestrais fundamentais para a identidade cultural do Pará e da Amazônia. O filme contribui para que possamos ouvir suas histórias, conhecimentos e músicas, preservando e transmitindo tudo isso para as futuras gerações, fortalecendo nosso patrimônio cultural”, afirma Roberta Carvalho.

Veja o trailer oficial de Mestras:

Multilinguagem e Narrativa Visual

Com uma abordagem multilinguagem, o filme combina documentário, drama, musical e artes visuais, com projeções assinadas por Roberta Carvalho. A obra é narrada por Aíla, que parte de suas memórias de infância e familiares. Ao contar histórias de sua mãe e avó, que desapareceram nas águas de uma Amazônia Atlântica pouco conhecida, Aíla presta homenagem às mestras ancestrais da música e da vida, mantendo vivo esse legado.

Mestra Bigica no filme Mestras. Imagem: Reprodução
Mestra Bigica. Imagem: Reprodução

“Além de ser um documentário, é também um drama. Há uma narrativa paralela que costura a história através das falas e relatos de cada Mestra, ligando à história da minha avó, que morreu afogada no mar aos 26 anos. Isso interliga o drama na minha busca por mulheres na narrativa do filme. É algo muito íntimo, mas que se conecta com a vida de todas as pessoas, sempre há um elemento que liga a narrativa ao espectador. É o particular que se torna coletivo”, explica Aíla.

Roberta destaca o papel das intervenções artísticas como parte essencial da narrativa. Ela projetou imagens das Mestras em grande formato em suas cidades de origem, homenageando-as e criando uma conexão emocional única entre suas histórias e o ambiente ao redor, proporcionando uma experiência visual e sensorial para o filme.

“Ao iluminar os espaços com projeções das imagens das Mestras, o filme transcende as fronteiras da tela e se conecta diretamente com as comunidades dessas artistas, exaltando-as e simbolicamente erguendo monumentos vivos de suas existências fundamentais para nossa cultura”, comenta Roberta.

Realizado por talentos paraenses, o filme conta com trilha original de Jade Guilhon, Sara Moraes e Luiz Pardal; roteiro de Aíla, Carolina Matos e Roberta Carvalho; montagem e finalização de Adrianna Oliveira; e direção de fotografia de Thiago Pelaes.

Ficha técnica

Selecionado pelo edital Natura Musical, através da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear), o documentário “Mestras” se junta a outros projetos como o Festival MANA, Nação Ogan, Festival Psica, Sumano MC e Nic Dias. Até 2022, a plataforma já apoiou mais de 80 projetos no Pará, incluindo artistas como Dona Onete, Raidol, Nic Dias e festivais como Mana, Lambateria e Psica.