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Ferrogrão: saída de Raoni de ‘Grupo de Trabalho’ revela desentendimento com governo Lula

Em carta, Raoni critica exclusão dos povos indígenas do GT (Foto: reprodução)

As lideranças indígenas Raoni Metyktire, Mydjere Kayapó e Alessandra Munduruku retiraram-se do Grupo de Trabalho (GT) criado pelo Ministério dos Transportes para discutir o projeto da Ferrogrão. A decisão veio após críticas de que o governo avançou com o projeto sem consultar devidamente o GT e ignorou as preocupações levantadas pelos participantes.

O grupo de trabalho foi formado no final de 2023, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu o projeto da Ferrogrão e exigiu a criação de um espaço de diálogo envolvendo o governo federal, comunidades indígenas e sociedade civil. Contudo, os representantes alegam que a Casa Civil não enviou representantes a nenhuma das reuniões .

Em uma carta publicada, os indígenas expressaram sua frustração, afirmando que o GT, que deveria servir como um espaço de debate aprofundado, acabou se tornando um ambiente de exclusão no processo de tomada de decisões. “O que deveria ser um espaço de diálogo transversal e interministerial terminou esvaziado”, criticaram, destacando que o Ministério dos Transportes e a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) avançaram com estudos e inclusão da ferrovia no cronograma de leilões para 2025 sem considerar as opiniões do grupo.

O cacique Kayapó, Raoni Metuktire, comentou a situação afirmando: “Se o governo der a canetada para prosseguir, desobedecendo o STF, Lula chegará à COP30 de Belém com as mãos sujas de sangue e de soja. Mostrará para o mundo que sua equipe, assim como outras anteriores, não é capaz de planejar uma ferrovia sustentável com um traçado viável. Mais do que isso, mostrará que nossa luta em defesa da floresta e do clima não é nada perto da luta pelo desenvolvimento a qualquer preço.”

A presidente da associação indígena Pariri e liderança Munduruku, Alessandra Munduruku expressou seu descontentamento, afirmando que o governo não tem consultado adequadamente as comunidades afetadas e que há uma falta de respeito com os processos de consulta necessários. Munduruku criticou a rapidez com que o governo pretende avançar com o projeto, desconsiderando o impacto nas terras indígenas.

FERROGRÃO

Ferrogrão
Indígenas em protesto contra à Ferrogrão (Foto: Lucas Landau/Instituto Kabu)

O projeto da Ferrogrão, que visa construir uma ferrovia ligando o centro-oeste ao norte do Brasil, é alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no STF. A proposta gera preocupações significativas devido ao potencial de desmatamento de mais de 2 mil km² de floresta nativa e ao impacto em cerca de 4,9 milhões de hectares de Áreas Protegidas, além de afetar pelo menos 16 Terras Indígenas e diversas comunidades tradicionais.

Recentemente, a FUNAI concluiu uma análise técnica que indica que o traçado da ferrovia se sobrepõe a áreas habitadas por povos indígenas Isolados na região do Tapajós, no Pará. Em resposta, o governo federal está tentando avançar com o projeto, incluindo estudos de viabilidade econômica e impactos socioambientais, que, segundo os críticos, foram conduzidos sem o devido diálogo com o GT.

Com informações da Folha e Climatempo*

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