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Blefe e imposição: professor de história explica como foi a Adesão do Pará à independência do Brasil

Em 15 de agosto de 1823, a Província do Grão Pará deu um passo crucial em sua história ao aderir formalmente à independência do Brasil. Este dia é celebrado como o “Dia da Adesão do Pará”, um marco que remonta ao último estado a se integrar ao novo império brasileiro. No entanto, o professor de história Márcio Neco, explica que essa adesão foi, na verdade, uma imposição, e não um ato de escolha livre.

FORTE LIGAÇÃO COM LISBOA

“Durante o período de independência, o Pará enfrentou uma resistência significativa, principalmente devido à forte ligação política e econômica da elite local com Lisboa, capital portuguesa. Esta elite, composta por portugueses que governavam a província, estava profundamente enraizada no sistema colonial e temia a perda de seus privilégios e conexões comerciais com a metrópole. A adesão ao Brasil não era desejada por muitos deles, pois representava a perda desses interesses. Porém, tudo isso acabou após a visita de Jhon Grenfell, que negociou a manutenção dos privilégios dessa elite local e assinando a ata de Adesão do Pará a independência do Brasil”, afirma Neco.

A situação mudou radicalmente com a intervenção de Jhon Grenfell, um militar e mercenário inglês que se destacou pela brutalidade e pela sua capacidade de resolver conflitos por meios violentos. Segundo Neco, Grenfell utilizou uma estratégia de blefe para forçar a adesão: ele afirmou à junta governantes locais na ocasião, que possuía uma esquadra de 23 navios prontos para bombardear Belém caso a província não aceitasse a independência e se recusasse a aderir.

“As classes mais simples como ribeirinhos, indígenas, escravizados e outros pobres não participaram desse debate, facilitando ao Jhon Grenfell, que barganhou e negociou apenas com a elite portuguesa da cidade, excluindo a maioria da população”, argumenta.

Adesão

POR QUE JHON GRENFELL?

A escolha de Jhon Grenfell para liderar essa imposição não foi por acaso. Conforme conta o professor, ele foi enviado por Dom Pedro I pois tinha relações com o imperador e foi um nome escolhido pela Inglatera.

“Ele (Grenfell) era extremamente violento e sanguinário, resolvia as coisas assim, e tinha essa reputação, de resolver conflitos de forma rápida e violenta. Sua missão era garantir que o Pará se unisse ao Brasil sem mais delongas, e sua presença foi decisiva para romper a resistência da elite portuguesa. A decisão de enviar Grenfell foi uma indicação direta da Inglaterra, que tinha interesses estratégicos na resolução rápida da questão”, destaca Neco.

Na manhã do dia 15 de agosto de 1823, após a assinatura da ata de adesão, o cenário em Belém era de festa e alívio. A assinatura foi marcada por celebrações em frente ao palácio do governo, incluindo uma parada militar e uma manifestação popular com bandeirinhas do Brasil, embora a bandeira não fosse a atual. Os sinos da catedral tocaram em celebração, e uma santa missa em ação de graças selou oficialmente a adesão do Pará ao Brasil.

A adesão do Pará simbolizou a conclusão de um longo processo de independência, mas também revelou as complexidades e as pressões políticas que moldaram a história do Brasil. A decisão de aceitar a independência foi menos uma escolha autêntica e mais uma imposição decorrente de estratégias e interesses.

“Existiam três grupos de pessoas: As que queriam a adesão do Pará ao Brasil, as que queriam se manter atreladas a Portugal e as que queriam que o Pará se tornasse uma república. O Pará foi o último a aderir a independência por conta dessa resistência da elite portuguesa. Posteriormente anos depois foi confeccionada em 19 de novembro de 1889 a atual bandeira nacional, onde a estrela solitária representa o Pará por ser o último estado a aderir a independência do Brasil”, conclui o professor.

Bandeira do Brasil. Imagem reprodução.

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