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Coluna Ingo Müller | Vacinação em banho-maria

Boas notícias, pessoal! Chegou ao Brasil o primeiro carregamento de vacinas da Pfizer com imunizantes para aplicação em crianças de 5 a 11 anos. Segundo o governo do estado, o Pará recebeu 62 mil doses de vacinas nesta sexta-feira. Essas doses serão enviadas para centros regionais em até 48 horas e, tão logo sejam distribuídas aos municípios, vamos poder sentir o alívio de ver nossos filhos vacinados. Aqui em Belém são mais de 141 mil crianças aptas a receber a vacina contra covid, que trará proteção e tranquilidade para as famílias diante da maior crise sanitária enfrentada em nossos tempos.

É duro ser pai durante a pandemia. Quem tem filho, e cuida dele, sabe como sofre o pai de criança doente – qualquer febre ou resfriado, qualquer nariz escorrendo, qualquer desconforto ou dor da criança dói duas vezes na gente. Por isso fazemos de tudo para evitar que a doença chegue neles, e por isso é que achamos inconcebível pensar que essas vacinas chegarão ao seu público mais de um mês depois do órgão competente – a Anvisa – ter aprovado esta vacinação.

Qualquer ser humano decente, quando o assunto é a saúde de crianças, já deixaria os preparativos adiantados para, tão logo viesse a aprovação, iniciar a imunização deste público. Só que infelizmente pessoas decentes parecem estar em falta na esfera do executivo federal, que cozinhou em banho-maria a aquisição dessas doses através da criação de dificuldades artificiais que incluíram a intimidação de servidores, uma ridícula consulta pública e até a possibilidade criminosamente elitista de aplicar vacina apenas com prescrição médica.

O próprio presidente, na sua costumeira catástrofe cognitiva, questionou “qual é a pressa em vacinar?” – uma pergunta que, convenhamos, não merece nem resposta… até porque a melhor resposta aos delírios presidenciais já foi dada pelo presidente da Anvisa naquela célebre carta em que, basicamente, coloca Jair no seu devido lugar.

Lógico que, nesta altura da pandemia, surpreende zero pessoas a lerdeza do governo federal quando o assunto é vacina. Mas, confesso, fiquei chocado ao perceber que o desprezo à vida cultivado pelo presidente também se estende a crianças: em vez de proteger este grupo, Bolsonaro usou dados mentirosos para dialogar com seu eleitorado (que, considerando o derretimento de sua popularidade, anda composto quase que exclusivamente dos devotos mais ferrenhos do negacionismo científico) e alegar que as crianças não precisam ser vacinadas.

Não satisfeito em sabotar a vacinação, Bolsonaro seguiu fazendo campanha para o vírus dizendo inclusive que a chegada da variante ômicron é “bem-vinda” – duas palavras que, pelo que me recordo, ele jamais usou para falar das vacinas.