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Revoltosas: o corpo da mulher indígena ancestral amazônida

Foto 1: Fabíola Tuma Foto 2: Ana Dias

Entre a arqueologia e as artes, o corpo da mulher ancestral amazônida é um símbolo de poder cravado na terra, onde as águas dos rios esculpem memórias e os ventos cantam histórias de tempos remotos. É um corpo que guarda segredos medicinas, que fala a língua da mata e do fundo dos rios. Na arqueologia, ele é descoberto em pedaços — emergem como testemunhos de existências antigas, cerâmicas moldadas por mãos hábeis que contavam o cotidiano e o sagrado de sociedades indígenas matriarcais. Fragmentos que, ao serem escavados, nos contam histórias não de silêncio, mas de uma fala que ressurge e ecoa em cada pedra encontrada, em cada símbolo pintado.

Esse corpo pulsa. No solo, suas pegadas ainda estão lá, como impressões digitais da história, enquanto no espírito, ela se renova, renasce a cada batida do tambor, a cada pincelada que a imagina. E hoje representam um lugar de poder e memória viva para os povos indígenas em retomadas. Esse é o ponto que torna revoltosas não só esteticamente ou artisticamente elegante, mas socialmente e culturalmente necessária.

O projeto ‘As Revoltosas’

Revoltosas: o corpo da mulher indígena ancestral amazônida - Foto: Ana Dias
Revoltosas: o corpo da mulher indígena ancestral amazônida – Foto: Ana Dias

As Revoltosas é um projeto autoral e individual da Artista e Arqueóloga Cristiane Martins, de experimentação artística contemplado em premiação recebida da Fundação Cultural do Estado do Pará. Apresenta esculturas vestíveis em representações de cabeças/tampas de urnas funerárias e animais míticos, cabelos, pintura corporal e facial, grafismos, úteros de barro, tangas, instrumentos de proteção, indumentárias e rostos moldados com madeira, urucum, folhas de ouro, fios, fibras, marchetaria e porcelana fria. O projeto objetiva a divulgação e preservação do modo de saber-fazer ancestral de produção de adornos, indumentárias, ferramentas e utensílios, assim como das técnicas de manufatura de matérias-primas naturais.

Cristiane Martins nos conta que: “O ponto de partida do processo criativo foi uma curadoria detalhada no meu repertório de arqueóloga, com uma extensa pesquisa estética sobre corpos de cerâmica arqueológica encontrados nas aldeias indígenas ancestrais de 6 áreas amazônicas: Marajó, Baixo Tapajós, Acre, Amapá, Baixo Amazonas e Mairi (ou Belém Tupinambá, Pará). Tendo esta como referência, foram feitas releituras contemporâneas (e não réplicas) do feminino ancestral que deram forma às Revoltosas.”

A exposição As Revoltosas: Coleção de Esculturas Vestíveis Femininas e Ritual-Performance, da artista Cristiane Martins, com curadoria de Vânia Leal, foi aberta no dia 14 de setembro e segue para visitação até 22 de dezembro de 2024 no Centro Cultural Bienal das Amazônias (CCBA), Rua Manoel Barata, 400, Campina, com entrada gratuita. Nesta sexta-feira, dia 04 de outubro, às 15h, haverá a roda de conversa “Arte e Arqueologia: As Revoltosas”, com a artista e a curadora da exposição.


É importante pontuar que:
A mulher ancestral amazônida não é uma presença que se foi. Ela permanece viva nas curas que brotam das matas, nos cantos que as anciãs entoam ao anoitecer, nas mãos que continuam a moldar o barro e os futuros pelo saber das mulheres indígenas e amazônidas que escutam seus cantos revoltosos para que suas filhas relembrem não só de seu legado, mas de suas fúrias matriciais para esse tempo de crise climática e humanitária.

Conheça melhor As Revoltosas: Coleção de Esculturas Vestíveis Femininas e Ritual-Performance no perfil @asrevoltosas_

Texto da Historiadora e Antropóloga Indígena
Danielle Souza/Iacy Anambé

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