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Nos rios da Amazônia: a fotógrafa paraense Vitória Leona conta sua jornada pela Pan-Amazônia até Belém

O podcast e videocast “Amazônia no Ar” entrevistou a fotógrafa paraense de renome internacional, Vitória Leona, para falar sobre sua jornada até a nascente do Rio Amazonas e as experiências que a Pan-Amazônia trouxe. Durante o bate-papo, ela destacou as semelhanças culturais entre os povos amazônicos e os desafios ambientais que assolam o bioma, como desmatamento, queimadas e secas. Leona também refletiu sobre como sua viagem pela região ajudou a enxergar mais de perto a realidade dos habitantes da Amazônia e a importância da preservação deste grandioso ecossistema.

Iquitos, Peru

Em busca da nascente do maior rio do mundo

Você já imaginou enfrentar uma caminhada de quatro dias para alcançar a nascente do maior rio do mundo? Foi exatamente isso que Vitória Leona e seu companheiro, o australiano Steve, decidiram fazer. O Rio Amazonas, que nasce a 5.270 metros de altitude na Cordilheira dos Andes, no Peru, deságua no oceano Atlântico, na Ilha do Marajó, no Pará, após percorrer milhares de quilômetros.

Vitória Leona e seu companheiro Steve / Créditos: arquivo pessoal

“Não era para ser fácil, e nem tinha que ser. Conhecer a nascente do Rio Amazonas é quase uma busca por um tesouro”, conta Leona, ao descrever o desafio de alcançar o ponto de partida do rio. Apesar de existirem rotas alternativas, que poderiam ser mais rápidas ou confortáveis, o casal escolheu a trilha a pé — uma caminhada que durou quatro dias e 3 noites (ida e volta), incluindo duas noites acampados na nascente. Com mochilas carregadas com barraca, água e comida, enfrentaram as adversidades de uma altitude superior a 5 mil metros, onde o ar rarefeito aumenta o cansaço e desafia o corpo.

O percurso revelou outro obstáculo inesperado: a falta de guias digitais. “O Google Maps não localiza! Não há placas ou um caminho claramente traçado até a nascente,” explicou Leona. A ferramenta que os salvou foi o aplicativo Caltopo, especializado em topografia, que forneceu uma base para navegarem em meio ao terreno inclinado. Mesmo assim, a jornada exigiu persistência, preparo físico e, acima de tudo, espírito aventureiro.

Pan-amazônia um território plural

Além de alcançar a nascente do maior rio do mundo, Leona e Steven também viajaram pela Pan-Amazônia, explorando os países que margeiam o Rio Amazonas. Durante o trajeto, Leona percebeu que as similaridades culturais entre os povos amazônicos transcendem fronteiras nacionais e se destacam ainda mais em contraste com o restante do Brasil.

Rio Napo 

“Quando a gente olha pra nós mesmos, aqui no Norte do Brasil, nos sentimos diferentes, deslocados, afastados do restante do país,” reflete Leona. “É como se não fôssemos compreendidos pela falta de informação que existe sobre nós. Mas, ao mudar a perspectiva e olhar o Norte a partir do bioma Amazônia, percebemos que temos muito mais em comum com nossos vizinhos amazônicos do que imaginávamos.”

Feira de rua na cidade de Iquito no Peru

Essa conexão vai desde as casas de palafita e as pequenas embarcações, como as rabetas, até as encomendas que chegam de barco e o banho nas águas do rio. As semelhanças com países como Peru, Colômbia e Equador são tão marcantes que, para Leona, a Amazônia é uma identidade própria, que une em vez de dividir.

Casas de palafitas no caminho dos rios amazônico

Na cidade peruana de Santa Clotilde, por exemplo, Leona se viu cercada de lembranças de Cotijuba, uma ilha em Belém. “As motorretes, a hospitalidade das pessoas… Era tudo tão familiar! Mas o jeitinho gaiato do paraense, isso só no Pará mesmo,” brinca.

A simpática cidade de Santa Clotilde no Peru

Entre os mercados da região, como o mercado de Belén, em Iquitos, no Peru, Leona encontrou peixes familiares, como o pirarucu e a dourada, além de frutas e vestimentas que remetem ao Pará. Esses momentos reforçaram sua visão de que a Pan-Amazônia é plural, mas interligada por vivências compartilhadas. “Somos plurais na Pan-Amazônia e únicos no Brasil,” conclui.

A descida da dourada

Inspirada pela icônica dourada, um dos peixes mais apreciados da América do Sul, a fotógrafa decidiu percorrer uma jornada até Belém para o Festival Psica, já que a dourada foi escolhida como tema do festival em 2024.  “E se eu seguisse a trajetória da dourada, descendo os rios como ela até chegar em Belém para o Festival Psica?”, pensou. A ideia surgiu durante um trabalho voluntário no Peru e ganhou força quando Leona compartilhou o plano com Gerson Junior, um dos idealizadores do festival. Ele não apenas aprovou, mas também decidiu apoiar a aventura.

Desafios ambientais e impactos visíveis 

Durante o trajeto de barco, percorrendo o Rio Amazonas do Equador até Belém, Vitória Leona presenciou as diversas questões que assolam o bioma, como seca, desmatamento, queimadas, entre outras. Em sua fala, ela reflete sobre a profundidade da realidade amazônica para aqueles que realmente vivem nela. “As pessoas que vivem na Amazônia têm uma percepção diferente, porque, muitas vezes, quem está de fora só olha para a floresta, mas para a gente de dentro, a gente olha para as pessoas”, afirmou.

A primeira coisa que veio à sua mente, enquanto navegava, foi o seguinte pensamento: “Se você quer saber se os problemas da Amazônia são reais, se realmente está pegando fogo ou se está seco, faça uma viagem de barco. Porque eu vi tudo isso de perto.” Leona compartilha a impressão de como, em cada país que percorreu, viu diferentes aspectos dos problemas ambientais. Mas foi no Pará que ela encontrou todos os principais problemas juntos: desmatamento, deslizamento de terra e queimadas. Ela descreveu um momento marcante: “Steve me acordou às 2h da manhã, eu estava na rede e, ao olhar para trás, vi um incêndio gigante na floresta. Isso aconteceu enquanto navegávamos entre Santarém e Belém. Foi algo absurdo, porque sabemos que existe, mas não imaginamos”.

Confira a Entrevista na Íntegra:

Ficou interessado em conhecer mais sobre o trabalho da Vitória Leona?

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