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Ingo Müller | Lula, Moro e o pêndulo da história

A última sexta-feira foi um marco histórico para a imprensa paraense: quis o destino que os colegas de O Liberal entrevistassem o ex-presidente Lula no dia em que a justiça arquivou o famigerado processo do Triplex, permitindo que fosse um veículo do estado o primeiro a ouvir o petista sobre esta decisão.

Lula, aliviado, começou a conversa com os jornalistas Abner Luiz e Natália Melo dizendo-se feliz. “Eu acabei de saber a notícia de que a 12ª Vara da Justiça Federal de Brasília anulou e arquivou o processo do triplex. Está lembrado o famoso do processo do triplex? A mentira contada pelos meus algozes? (…) A Justiça Federal matou definitivamente esse processo. E eu estou feliz porque eu sempre acreditei que a verdade viria à tona”, disse o ex-presidente.

A declaração ecoou em toda a imprensa nacional, mas Lula não se limitou ao respiro de alívio: sem citar nomes, o favorito para a disputa eleitoral deste ano disparou contra seus opositores. “Acho que a história vai se encarregar de colocar da coisa no devido lugar. Eu estou convencido que desde o golpe da Dilma até a minha prisão foi uma coisa planejada. Era preciso tirar o Lula da disputa presidencial, porque se tiver eleição para presidente o Lula vai ganhar”, afirmou o petista que, segundo as pesquisas mais recentes, teria 44% das intenções de voto caso a eleição fosse hoje.

Do outro lado da gangorra está o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, que parece encolher de forma simultânea ao renascimento do petista – ao ponto do petista afirmar, sem citar nomes, que “ quem era herói está virando bandido e que era bandido virando herói”.

Outrora apontado como herói nacional, o hoje candidato do Podemos teria apenas 8% de preferência do eleitorado. Pra piorar, sua possibilidade de crescimento nas pesquisas é baixa, já que acumula uma grande rejeição dos eleitores da esquerda, que enxergam sua atuação política enquanto magistrado, e da extrema direita, que o considera um traidor do bolsonarismo. De certa forma, ambos estão certos.

Moro tenta se apresentar como um candidato da chamada “terceira via”, mas sem trazer as características associadas ao termo, como a ortodoxia econômica aliada ao progresso social. Além de vagos discursos sobre combate à corrupção, Moro ainda não disse para o que veio: sua campanha parece se basear no simples fato de não ser Lula nem Bolsonaro, mas fora isso o ex-juiz parece ter muita dificuldade em formular alguma ideia original que possa apresentar ao seu mirrado eleitorado. Ver um discurso de Sérgio Moro é tipo assistir uma pipa tentando decolar sem vento.

Sua declaração desastrosa sobre os auxílios sociais “explorarem a pobreza para fins eleitorais” mostra exatamente isso: o pré-candidato Moro mira na mentalidade de youtuber de 13 anos do liberal brasileiro, mas acerta o próprio pé ao ignorar o que disseram os verdadeiros liberais – aqueles que escrevem e lêem livros – sobre a necessidade da renda básica para os mais pobres. Não existe liberdade diante da escravidão imposta pela necessidade, afinal.

Ao criticar os benefícios sociais, moro se revela duas coisas: desinformado, porque a necessidade de se garantir de subsistência para a população foi postulada há mais de 500 anos pelo filósofo Thomas More; e hipócrita porque ele próprio, enquanto juiz, recebia auxílio moradia de 4 mil reais para residir em Curitiba – cidade onde, vale lembrar, ele tinha imóvel e, portanto, não precisaria do benefício.

Na cabeça de pessoas como Moro, juízes ganham pouco e as famílias famintas sangram as contas da nação. Resta saber se seria possível ele se eleger só com os votos desses juízes que, com ou sem toga, se empenham em sentenciar o país a ser um lugar tão hostil para os mais pobres.