Negra, filha de empregada doméstica, amazônida, fisioterapeuta. Ela foi a vereadora mais votada de Belém em 2020, assumiu a vaga de Edmilson Rodrigues como Deputada Federal e, hoje, ocupa uma cadeira na Câmara dos Deputados em Brasília. Em entrevista para Mary Tupiassu, no quadro “Incomoda!” do BT, ela falou sobre a infância e o despertar para a política. “Como a gente sempre fala na política, nossos passos vêm de longe. Essa vontade e esse comprometimento com a política vem desde que eu era muito nova. Na Pedreira, no bairro do samba e do amor, eu sempre participei das atividades da igreja, de jovens, de bairro. Então é algo que sempre me encantou. Principalmente porque eu olhava para os lados, via as contradições desse mundo e sabia que eu precisava fazer algo, ou eu seria sufocada por esse sistema”, lembrou ela.
Sobre o começo da caminhada política dentro do PSOL, Vivi relembrou da luta contra a usina hidrelétrica de Belo Monte. “Minha história partidária, quando entrei no PSOL, quando comecei a organizar os movimentos da juventude, movimentos feministas, se deu a partir da luta contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Lá em 2011 eu já participava do movimento estudantil, mas foi ali que eu percebi que precisava fazer muito mais do que estar no movimento estudantil”, contou.
PRECONCEITO
Vivi Reis falou ainda sobre o tratamento que recebe na Câmara dos Deputados em Brasília e disse que o espaço é violento. “A Câmara dos Deputados é um espaço extremamente violento, mas não é só a Câmara dos Deputados. A gente sabe que aqui, a Câmara dos Vereadores, a Assembleia Legislativa. Eu acredito que todos esses espaços de poder eles ainda não estão preparados para receber as mulheres, para acolher as mulheres. Para que nós possamos realizar os trabalhos para o qual fomos eleitas”, afirmou.
Sem citar nomes, Vivi afirma que sofre preconceito não só de seguranças da Câmara, como também por parte de deputados. “Tem um deputado do Pará, que tem práticas misóginas, racistas, práticas que são da sua linha política, porque ele é um bolsonarista, um fascista assumido. Nos primeiros meses na Câmara dos Deputados ele dizia que não sabia o meu nome. Eu tenho certeza que, se fosse um deputado homem, ele procuraria saber o nome. Só ele sabia sim o meu, porque já tinha me atacado antes nas redes, mas ele quis insinuar que as mulheres negras não precisam ser respeitadas, não precisam ter seus nomes respeitados”, disse a deputada.
SEGURANÇA
A jornalista Mary Tupiassu relembrou o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco e perguntou se a Deputada Federal teme pela própria segurança, uma vez que está envolvida em diversos debates polêmicos. Para Vivi, quem não tem medo é porque se encaixa em um campo de privilégios. “Dizer que não tenho medo seria uma mentira. Quem não tem medo é porque sabe que está totalmente protegido, que não é ameaçado por nada e que está em um campo de privilégio muito grande. Nós, mulheres negras, LGBTs, pessoas que não tem famílias tradicionais na política, estamos a todo momento sendo atacados. Então é claro que eu tenho medo”, declarou ela.
Vivi, que já teve o escritório invadido duas vezes aqui em Belém, afirmou que não vê outra alternativa que não a luta. “Nós sabemos que somos ameaça. E que somos ameaçadas. Mas o que eu aprendi desde muito cedo é que não nos resta outra alternativa senão lutar. Não nos resta outra alternativa senão se posicionar, porque eu acredito que quando faço uma fala no plenário, quando faço um enfrentamento, eu não tô ali sozinha. Eu tô carregando o sentimento de diversos paraenses, de diversas mulheres, de diversos jovens. De diversas pessoas que, como eu, estão com tudo isso entalado, que não aguentam mais a política posta. Eu sou a única mulher negra, jovem, parlamentar do Pará. Eu não acho isso bonito, eu fico triste. Porque nós deveríamos ter muito mais pessoas como nós”, defendeu Vivi.
CHAPA LULA/ALCKMIN
Quando perguntada se uma frente da esquerda seria o suficiente para derrotar o bolsonarismo, a deputada foi enfática em dizer que sim, mas que não quer “maquiar” um candidato de direita para entrar na disputa. “É claro que é necessário ter uma frente de esquerda para derrotar o bolsonarismo. Mas quem é essa esquerda? Vamos fazer uma frente de esquerda ou vamos pegar alguns sujeitos que, historicamente, estiveram na direita, estiveram apoiando o projeto neoliberal, burguês, da grande mídia, e vamos maquiar de esquerda para poder entrar nessa disputa?”, questionou Vivi.
Sobre uma possível chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Vivi Reis declarou ser contra. “Hoje, janeiro de 2022, eu não apoio uma chapa Lula/Alckmin. Mas temos ainda muito chão para percorrer, até a pré campanha e a campanha, de análise de conjuntura. De como será o posicionamento político que vai ser desenhado. De qual vai ser o programa defendido por eles. De como o meu partido, nas conferências internas, vai definir a disputa. Se teremos ou não candidatura própria. Então, hoje, o cenário posto é esse: em janeiro de 2022, a minha posição política e o programa que eu defendo está distante do que essa chapa vem se propondo a falar”, finalizou.
Confira na íntegra a entrevista feita com Vivi Reis.