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‘O Ciro podia ser vice do Lula. Ter a humildade de recuar’, diz Leonel Brizola Neto ao BT

O pré-candidato a deputado do Rio de Janeiro falou com Mary Tupiassu sobre sua saída do PDT e a briga com o presidente do partido

Foto: Reprodução.

Natural de Porto Alegre – RS, Leonel Brizola Neto passou parte da infância no Uruguai, entre 1975 e 1982, ao ter a família exilada depois do Golpe Militar de 1964. O pré-candidato a Deputado Estadual do Rio de Janeiro em 2022, conversou com Mary Tupiassu para o quadro “Incomoda!” do BT, e falou sobre a convivência com o avô, o legado que ele deixou, a saída conturbada do PDT, o desentendimento com o irmão, o ex-ministro do trabalho Carlos Daudt Brizola (também conhecido como Brizola Neto), e sobre as eleições de 2022 e qual o possível papel de Ciro Gomes nela.

O LEGADO

Leonel Brizola foi uma das figuras mais importantes da política brasileira. Foto: Reprodução.

Ao ser perguntado sobre o sentimento de carregar o legado do avô Leonel Brizola, falecido em 2004, Leonel Brizola Neto afirmou ter orgulho de carregar o nome do avô. “ Antes de ser neto eu sou um profundo admirador da prática política do Brizola, da coerência. Com o Brizola com quem me identifico na história, na política, na vida. Eu me chamo Leonel Brizola e não tenho muito pra onde correr, mas eu tenho orgulho do meu nome. Já sofri piadas e até covardias, mas eu tenho orgulho de ter esse nome, de ser neto do Brizola, pela grandeza dele”, declarou.

Leonel Brizola Neto falou ainda sobre a importância da figura política de seu avô e como enxerga o impacto dele no cenário nacional. “O Brizola não chegou a ser Presidente da República, mas é reconhecido como se tivesse sido. Ele foi o político que mais construiu escola no mundo, tá no Guiness Book. Ele foi o primeiro a fazer reforma agrária no país, inclusive entregou ⅓ das suas propriedades para a reforma agrária. E ele não deu só a terra, ele deu toda a infraestrutura para os agricultores. Isso na década de 50, uma coisa inédita de fato. Até hoje, na história do Brasil, terra e imposto são um problema grave. Hoje, a terra está toda dominada pelos grandes do agronegócio”, lamentou ele.

O pré-candidato falou ainda sobre o tempo que foi assessor do avô e, de bom humor, contou que pediu pelo emprego. “Eu fui lá pedir um emprego pra ele. Ele ficou surpreso. Eu precisava ajudar em casa, era uma espécie de família socialista, todo mundo trabalha e todo mundo contribui”, lembrou ele.

Sobre o seu caminho na política, Leonel Brizola Neto contou que nunca teve intenção de ser político e se emocionou ao falar do suporte do avô. “Eu nunca quis entrar para a política. Eu trabalhava e gostava porque eu tinha uma admiração profunda pelo Brizola, ele era uma bússula. Ele apontava e a gente ia, porque eu sabia que a gente tava bem cuidado, qualquer dúvida eu tinha com quem tirar essa dúvida.  O meu maior vazio hoje é com quem tirar a minha dúvida, eu não tenho mais esse norte. Então eu não queria, mas acabou tomando conta de mim e eu fui envolvido de uma maneira que não tinha mais saída”, disse Leonel emocionado.

SAÍDA DO PDT

Lula e Leonel Brizola Neto em cerimônia de filiação ao PT. Foto: Reprodução.

Leonel Brizola Neto, agora filiado do Partido dos Trabalhadores (PT), falou ainda sobre o PDT, partido fundado por seu avô mas que hoje, segundo o ex-vereador, não representa mais o legado do ex-governador do Rio de Janeiro. “Basta ver a prática política do PDT. Por exemplo, na Bahia tá aliado com ACM Neto (DEM), que descende do Antônio Carlos Magalhães, aliado da Rede Globo. Então é uma aliança com a Rede Globo. É do mesmo partido do Lacerda, inimigo mortal do Brizola. Não há como juntar água com óleo. No Mato Grosso, o PDT está aliado com o Caiado, um cara da União Democrática Ruralista (UDR). O PDT tá com alianças que o Brizola jamais se aliaria pra empurrar o caminhãozinho dele”, afirmou.

Sobre a sua saída do partido, Leonel Brizola Neto afirmou que um dos motivos foi a aliança com Sérgio Cabral (MDB), ex-governador do Rio de Janeiro. “Um dos motivos da minha saída é que se aliou com um projeto do Sérgio Cabral que destruiu os Cieps (Centro Integrado de Educação Pública). Quando o Brizola estabelece a inviolabilidade do lar, o Cabral quebra essas regras mesmo dentro da Constituição. Atira de helicóptero em cima da favela, botinada na porta, assassinatos, genocídios, um massacre aos mais pobres, uma cidade partida”, acusou Leonel Brizola Neto.

Carlos Lupi, presidente do PDT. Foto: Reprodução.

Ele falou ainda sobre a presidência do partido, que está nas mãos de Carlos Lupi há 17 anos. “Eu passei não só a ser um incômodo, mas fui ameaçado e agredido fisicamente pelo presidente do partido. Ele me deu um soco na cara quando eu estava discursando, relatando justamente isso, que o PDT estava se tornando autoritário, que não tinha mais eleições internas. Há 17 anos o Lupi é presidente de uma sigla que se diz democrática, mas que não há democracia interna alguma”, disse.

CIRO GOMES

Ciro Gomes, candidato do PDT para Presidência. Foto: Reprodução.

Sobre a figura mais representativa do PDT hoje, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, Leonel Brizola Neto afirmou que a origem política de Ciro é a direita. “O Ciro Gomes tem boas discussões, têm, em determinadas áreas, um bom preparo. Mas a origem embrionária dele é a direita.”, afirmou Leonel. E continuou, “O Ciro não é um trabalhista, ele é um liberal. A prática dele é liberal, de centro. Ele não é de esquerda, não é um nacionalista. Ele não toca em dois assuntos: o agronegócio, ele não pode falar. A Aliança deles é com o agronegócio. E a outra que ele não vai tocar é a questão dos minérios, esse saqueio. Ele vem daí, ele é fruto daí, ele não pode falar sequer disso. Ele não pode falar ou combater, por exemplo, a tragédia de Mariana”, disse ele.

Sobre o apoio de seu avô a Ciro na corrida presidencial de 2002, Leonel relembrou a retirada desse apoio e a aliança de seu avô com o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O Brizola em 2002 não foi candidato e apoiou o Ciro Gomes, mas retirou o apoio no primeiro turno. E o Ciro fazia campanha com Roberto Jefferson, meu avô sequer seguia eles, não tinha conversa. O companheiro do Ciro Gomes se chamava Roberto Jefferson. O Brizola falou, no partido, que ele (Ciro) não defende as nossas bandeiras. Que ele é intransigente e autoritário, e aí pediu pra apoiar e votar no Lula. E aí o Ciro xingou ele, o Brizola deu uma recuada, mas manteve o apoio ao Lula”, relembrou Leonel.

Roberto Jefferson, político envolvido no escândalo do mensalão. Foto: Reprodução.

Relembrando uma frase de seu avô, em que ele afirmava: “Se não nos unirmos agora, seremos degrau para a direita”, Leonel afirmou que foi isso que aconteceu nas eleições presidenciais de 2018. “Foi exatamente isso que aconteceu. Você imagina que o Brizola iria viajar pra fora do país em uma eleição que tava o Bolsonaro e qualquer outro? O Brizola jamais iria viajar, porque o Bolsonaro representa o aplauso da Ditadura Militar. Representa dizer que o oráculo da verdade é a tortura. Tanto que ele (Bolsonaro) elogiou o único militar condenado na justiça por tortura, Brilhante Ulstra. Não sei como ele não saiu preso. A cusparada do Jean Wyllys foi pouco”, afirmou ele.

DESENTENDIMENTO DE FAMÍLIA

Leonel Brizola e o irmão Carlos discutiram nas redes sociais. Foto: Reprodução.

Sobre os desentendimentos com o irmão Carlos Daudt Brizola, a respeito do apoio do avô a Lula, Leonel afirmou que os desentendimentos entre o avô e o ex-presidente mostravam a boa intenção dos dois em ajudar o país. “O que eu digo é que nas horas cruciais, e nós estamos vivendo um momento crucial, nas horas cruciais da nossa história o Brizola sempre esteve com Lula. Na eleição de 1989, que era importantíssima e o Brizola sabia, a Rede Globo inventou a figura do Collor para destruir o Brizola como inventou o Bolsonaro para destruir o PT”, afirmou Leonel.

Leonel afirmou ainda lamentar pelo caminho político dos dois irmãos, Carlos e a Deputada Estadual do Rio Grande do Sul, Juliana Brizola. “Eu lamento pelos meus irmãos estarem em um caminho que as próprias pesquisas mostram que é inviável. Você vê o povo sofrendo, comendo carcaça de animal na rua, mais de 600 mil mortes pela covid, a escola pública destruída, as perdas internacionais saindo daqui que nem água. Aí eu vou ficar em uma disputa com a esquerda pra dividir a esquerda? Quando o Brizola sempre lutou por essa unidade?”, questionou ele.

ELEIÇÕES 2022 

Lula e Alckmin. Foto: Reprodução.

Para as eleições presidenciais de 2022 e a possível aliança entre Lula e Geraldo Alckmin, Leonel é enfático em declarar que não apoia a chapa. “Não me agrada. A minha visão seria uma grande chapa de esquerda, incluindo o Ciro nela. Porque o Ciro não podia ser vice do Lula? Aguarda a vez, Ciro. Tenha a humildade de recuar. O Brizola é um exemplo da humildade desse recuo. De entender quem tá mais ali pelo próprio processo social. O povo escolheu. Tem que ter essa humildade de recuar. Então eu queria um grande campo de esquerda, com PSB, PCdoB, PSOL, PDT, os partidos menores também. Uma grande frente de esquerda  para combater esses vendilhões da pátria que estão aí”, disse ele.

Relembrando a aliança do avô com os integralistas no Rio Grande do Sul, Leonel afirmou que é preciso saber que tipo de aliança está sendo feita. “ (para o avô) foi possível, através de uma aliança, avançar e trazer progresso. Agora, tem que saber que tipo de aliança é, pra quê e como. Essa é a grande questão”, definiu.

Confira na íntegra a entrevista feita com Leonel Brizola Neto.