No esporte, Brasil e Argentina protagonizam uma das maiores rivalidades do planeta. Como disse o célebre Galvão Bueno, “Se ganhar é bom, ganhar da argentina é melhor ainda” – uma máxima eternizada nas quatro linhas do futebol, mas que vale até pra disputa de par ou ímpar. No campo geopolítico, porém, os dois países ocupam o topo do pódio quando o quesito é covardia: os gigantes da América do Sul se recusam a impor sanções contra a Rússia após a invasão da Ucrânia, e num momento em que até a Suíça abandonou sua tradicional imparcialidade diante do absurdo do conflito.
Tanto Brasil quanto Argentina votaram a favor da resolução simbólica da Onu contra a invasão da Ucrânia, mas se abstiveram de qualquer atitude prática contra o invasor. Acontece que neutro, meus amigos, só xampu de bebê. Quando a gente fala de política a abstenção é um posicionamento, e sentar em cima do muro indica que você está fitando o lado do mais forte.
Ainda assim, os devotos de Maradona se aninharam confortavelmente nesta laje após o ministro das relações exteriores Santiago Cafiero alegar que o país não considera sanções unilaterais como um mecanismo capaz de gerar paz. Como também não vão se juntar na luta armada, imagino que Cafiero espere que a invasão da Ucrânia seja resolvida com diálogo, apelos ao bom-senso e sarau de poesia.
No caso do Brasil, a situação é ainda pior: na live de quinta o presidente Bolsonaro chegou a chamar Putin de “parceiro” na defesa da soberania e, ainda encantado pelo que viu durante a visita à Rússia antes do confronto (na qual afirmou que Putin era “Pessoa que busca a paz” – tá sabendo legal, hein?), chega a compartilhar textos apócrifos pelo Whatsapp defendendo o líder russo, como expôs o jornalista Lauro Jardim.
Oficialmente, o planalto diz que mantém relações com os dois países, e que é “mais sensato” adotar uma “posição de equilíbrio” – outra palavra para “não vamos fazer nada” que, aliás, é uma especialidade do presidente.
Só que Bolsonaro está sendo cobrado pela comunidade internacional pela inação. O primeiro ministro britânico Boris Johnson perdeu seu tempo ligando para o chefe do executivo Brasileiro cobrando adesão ao bloqueio econômico, e a Embaixada da Ucrânia em Brasília já pediu um posicionamento mais duro do governo diante do confronto.
Isto ocorre porque, embora diga que é neutro, fica evidente a simpatia de Bolsonaro por Putin – o que não é de se estranhar, se a gente lembrar de sua histórica admiração pelo autoritarismo. Só que esta simpatia vai custar caro ao Brasil: diplomaticamente, o país fica isolado diante de um movimento de pressão planetária para que a Russia cesse as agressões e, quando a guerra acabar, inevitavelmente ficará de fora do palco principal da geopolítica tão logo se costurem alianças e parcerias entre os países vencedores.
Enquanto a comunidade internacional compartilha histórias de bravura da resistência ucraniana e seus aliados, que certamente estarão em todos os livros de história do século XXI, ao Brasil covarde caberá, no máximo, uma nota de rodapé.