Esta semana um vídeo circulou em grupos de redes sociais e sacudiu o núcleo político da esquerda. Nele, a assessora legislativa Gabriela Esther fala sobre a sua experiência no meio e afirma que “partido político não é filtro de caráter”.
“Partido político não é filtro de caráter. E pessoas que levantam bandeiras de representatividade e renovação na política, mas que ‘é’ mais do mesmo”
Gabriela Esther
A criadora de conteúdo falou, sem citar nomes, que vivenciou situações de violência patrimonial e psicológica, e que viu pessoas serem humilhadas e coagidas dentro do ambiente profissional.
O Portal Belém Trânsito entrou em contato com Gabriela para saber quem era a figura política citada na denúncia, mas ela afirmou ter sido orientada a não citar nomes. Por isso, o BT foi atrás de outras fontes, que aceitaram falar com a nossa reportagem. Todos os seis são ex-funcionários e foram unânimes em citar que a vereadora acusada de assédio é Bia Caminha, do PT.
Você confere, a partir de agora, os relatos desses ex-funcionários, que não quiseram se identificar. Também temos prints de conversas de grupos com a participação de Bia, os quais não podemos divulgar sem a autorização prévia de todos os emissores.
BIA CAMINHA
Feminista, negra, bissexual e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Belém (CMB). É assim que a vereadora Bia Caminha (PT) se apresenta nas redes sociais. Entretanto, segundo informações de diversas fontes, o cenário no gabinete da parlamentar não parece refletir os ideais pelos quais ela foi eleita com 4.874 votos nas últimas eleições.
Os relatos dos ex-funcionários são alarmantes acerca da postura da parlamentar com sua equipe do gabinete.
Segundo relatos, o ambiente de trabalho era, muitas vezes, uma “rede de perseguição, humilhação e intrigas”. Quando eleita, a presidenta do PT Jovem do Pará, afirmou que havia construído sua campanha “com jovens, jovens negros, jovens da periferia, mulheres, pessoas LGBTQIA+”. Entretanto, foi em um gabinete sempre lotado de pessoas jovens, como os que a elegeram, que a vereadora supostamente cometeu todas as ações pelas quais está sendo acusada.
“A verdade é que a fala é calculada para alcançar os eleitores jovens e com sede de mudança, para que se sintam abraçados e contemplados. Mas a realidade é bem diferente. A realidade é que nem no seu partido ela é bem quista. Só é aturada por seu fácil acesso e aceitação com os jovens”
Denunciante 1.
Esse é um dos depoimentos que recebemos durante a nossa apuração. Segundo relatos dos ex-funcionários, o gabinete de Bia Caminha não oferece uma carga horária justa, os funcionários são questionados e sofrem com “deboches” na frente da equipe. Outro denunciante afirmou ainda que eles eram obrigados a estarem presentes nas agendas externas da vereadora, mesmo em finais de semana e fora do horário de trabalho.
“Foi criado um ambiente completamente adoecedor, onde jogavam os trabalhadores uns contra os outros, além de constantemente colocar nossa competência à prova”
Denunciante 2.
Segundo os relatos, o péssimo ambiente de trabalho levou as pessoas a desenvolverem distúrbios como ansiedade e compulsividade por comida. Além disso, alguns ex-funcionários afirmam que colegas começaram a tomar medicação “tarja preta” devido a pressão estabelecida no gabinete.
“Não conseguia dormir direito, desenvolvi compulsividade por comida e engordei 10 quilos enquanto estava lá”
Denunciante 3.
“A pressão é tanta, que convivemos com colegas tomando tarja preta, chorando fora do gabinete, crises de ansiedade e adoecimentos psicológicos no geral”
Denunciante 1.
Recebemos prints com exclusividade, onde é possível ver em conversa com Bia que um funcionário confirma essa queixa de ansiedade e problemas psicológicos em função do ambiente de trabalho.
“Nesse dia foi o dia que eu tomei remédio pra dormir. Porque estava com crise de ansiedade. Em pleno horário da tarde.” – disse um dos denunciantes nas mensagens.
Ainda segundo relatos, o círculo político mais próximo da vereadora é composto por jovens que “a apoiam cegamente e acabam por reproduzir o que os foi ensinado”. De acordo com um dos denunciantes, as pautas levantadas por Bia Caminha e seu círculo mais próximo só são defendidas quando os convém.
“Um gabinete formado por jovens de esquerda que apoiam bandeiras e pautas extremamente importantes e necessárias, mas apenas para os que os convém. Na realidade, a empatia por quem os rodeia sequer é uma opção”
Denunciante 1.
Um familiar da vereadora também foi citado nos relatos. Segundo um dos denunciantes, ele participava de todos os grupos de whatsapp para monitorar os funcionários da parlamentar e quaisquer grupos, sem a presença dele ou da vereadora, eram proibidos. “Nós éramos proibidos de formar grupos no whatsapp. Só se ela tivesse ou alguém da coordenação política estivesse. O familiar também era inserido em todos os grupos de whatsapp para ficar monitorando a gente. Nós não podíamos ter um grupo de amizade fora do trabalho”, contou o denunciante 4.
Com acontecimentos como esses relatados, o gabinete da parlamentar começou a ser internamente batizado por funcionários como “Gabinete do ódio”. “O que acontece no gabinete do ódio, como popularmente é conhecido: uma rede de perseguição, humilhação e intrigas” – Denunciante 1.
UM SONHO DE LIBERDADE
Como citamos antes, Bia Caminha foi eleita com 4.874 votos. Destes, a grande maioria foi de um público jovem que enxergava na então candidata um vislumbre da mudança que eles queriam para o Brasil.
Entretanto, de acordo com os relatos que recebemos, o sonho e a esperança de alguns dos jovens que trabalharam no “gabinete do ódio” não foram muito para frente. “Quando cheguei lá, a gente tinha muitos sonhos, foi uma candidatura de muitos sonhos. Havia esse engajamento por parte de todo mundo, essa esperança”, relembrou o denunciante 5.
De acordo com depoimentos, essa esperança por mudanças levou alguns jovens a largarem seus empregos para trabalhar para a vereadora. Todavia, o ambiente encontrado no gabinete não passou nem perto do que eles um dia imaginaram. “Algumas pessoas saíram de trabalhos muito bons e apostaram na candidatura da Bia por uma carreira por ativismo. Saíram justamente por acreditar que iriam assessorar uma jovem vereadora que tinha tudo para colocar as coisas para andarem”, disse o denunciante 5.
O questionamento acerca dos seus respectivos trabalhos sempre foi uma constante no gabinete da vereadora mais jovem a ser eleita em Belém, segundo relatos. “Constantemente nossos trabalhos eram rechaçados, nunca estava bom, nunca era algo positivo, todo nosso conhecimento técnico para ser uma equipe de comunicação foi colocado em cheque”, afirmou o denunciante 5.
Outra familiar da vereadora também foi citada nos relatos. Segundo um dos denunciantes, ela chegou a gritar com a equipe da vereadora quando a mesma estava perdendo seguidores nas redes sociais.
“Ela entrou, chamou a equipe de comunicação e começou simplesmente a gritar. Falando que tava tudo errado, estava tudo bagunçado”
Denunciante 5.
As alianças políticas da vereadora também foram afetadas pelo seu comportamento, de acordo com um dos denunciantes. “A Bia não construiu alianças com ninguém, toda vez que a gente propunha alguma aliança não dava certo”, afirmou o denunciante 5.
Os denunciantes que entraram em contato com o Portal Belém Trânsito foram firmes em descrever o comportamento da vereadora. Por vezes, não faltaram adjetivos para definir a postura da vice-presidente do PT-PA.
“O cerne disso tudo é que ninguém esperava que no lugar que nós fomos para ser, em grande parte até ativistas, nós não esperávamos que fossemos lidar com uma pessoa instável, arrogante e difamadora”
Denunciante 5.
Por vezes, o comportamento da líder do PT na CMB foi apontado como “passivo-agressivo” e “intimidador”. “A Bia tem uma conduta passiva agressiva, sabe? Ela te ofende rindo, te ridicularizando na frente das pessoas, da equipe. Menospreza teu trabalho. Usa recursos de intimidação, e a gente sente medo”, contou o denunciante 6.
Um dos relatos descreve o comportamento debochado da vereadora. “Se tinha alguma coisa pra fazer ela ficava contando: “quero isso em uma hora”, e ficava “passou 20 min”, “passou 10 min”, enquanto ficava na sala dela comendo pizza e rindo alto com os amigos de militância dela”, conta o denunciante 6.
A vereadora ainda foi acusada de usar o Direção e Assessoramento Superior (DAS) para “colocar as pessoas na linha”. “Quem tá com ela ganha seu DAS de boas, quem bate de frente pra tentar arrumar as coisas, é a primeira coisa que ela faz, tira DAS, tira Gratificação, tira abono. Até a pessoa abaixar a cabeça e ficar caladinha de novo. As pessoas iam pro banheiro chorar, limpar o rosto e tentar terminar o dia. Era assustador”, declarou o denunciante 6.
RESPOSTA DA VEREADORA
Entramos em contato com a assessoria da vereadora Bia Caminha e pedimos seu posicionamento quanto às acusações, mas até a publicação da matéria não obtivemos resposta.
RESPOSTA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES
Entramos em contato com a assessoria do Partido dos Trabalhadores, mas até a publicação desta matéria não tivemos retorno.
RESPOSTA DA CÂMARA MUNICIPAL DE BELÉM
Em nota, a Câmara Municipal dos Vereadores de Belém (CMB) informou que desconhece e que não existe internamente qualquer denúncia sobre o suposto ocorrido. A nota diz ainda que a postura da referida vereadora sempre foi ilibada, sem contrariar os princípios da casa.