////

Ingo Müller | O exército da mentira

A empresa Meta, que controla as redes sociais Facebook, Instagram e o Whatsapp, tirou do ar uma série de páginas dedicadas a propagar informações falsas a favor do governo. De acordo com um relatório divulgado pelo grupo, foram banidos 14 perfis e 9 páginas no Facebook, além de 39 contas no instagram.

Os perfis tiveram picos de atividade entre abril e junho de 2020, quando divulgavam informações falsas sobre temas diversos, da pandemia de Covid até a Reforma Agrária; e entre maio e junho de 2021, quando a rede de mentiras se dedicou a espalhar fake News sobre desmatamento e questões ambientais.

De acordo com a Graphika, agência de análise e mapeamento de informações online contratada pela empresa de Mark Zuckerberg para investigar estes fakes, os operadores destes perfis usavam várias táticas para propagar suas mentiras, que iam da divulgação de memes com dados inventados até a criação de ongs de fantasia e falsos ativistas ambientais para repassar informações supostamente críveis sobre o desmatamento.  

Através desta falácia de autoridade, plantavam a mentira de que o governo estava combatendo o desmatamento quando todos os dados – seja de ONGs de verdade como o Imazon, ou do Inpe que pertence ao próprio governo – apontam recordes sucessivos de desmatamento nos meses de governo Bolsonaro.

Pelo que foi divulgado no relatório desta quinta, o esquema de inverdades parece uma operação de guerra – e não é para menos, já que dois comandantes desta máquina da mentira são ligados ao exército Brasileiro.  A Graphika não informou nomes ou patentes destes irresponsáveis, e até o momento as forças armadas não se pronunciaram sobre o envolvimento de seus membros neste esquema criminoso de lesa-informação, mas eu gostaria muito que suas identidades fossem divulgadas e as transgressões punidas exemplarmente, até porque recai sobre esta atividade a suspeita de algo muito maior, que envolve dinheiro público e servidores federais em atos espúrios e antidemocráticos.

Infelizmente a participação de militares em redes de mentiras favoráveis ao governo federal, embora absurdo, não é exatamente surpreendente. Há tempos o bolsonarismo é um movimento identitário dentro das fileiras das forças armadas: não importa o que o presidente faça, ganha aplausos na caserna e conta com o apoio irrestrito daqueles que preferem defender o capitão do que a nação. A consequência disto é que as instituições que alegam proteger o país acabam se tornando numa milícia particular, que é arrastada pelo presidente para a lama mais profunda em que já estiveram desde a redemocratização.

Um amigo querido, que pendurou a farda em 2022 após oito anos de serviço, contou que há um abismo entre a mentalidade dos militares temporários, que entram após processo seletivo, e os de carreira. Estes últimos são aqueles que ingressam jovens nas Forças Armadas e passam décadas lá sem ter tido uma vida civil.

A existência dessas pessoas se confunde com o próprio exército, e isto é muito ruim para a sociedade: quem trata a farda como uma segunda pele se sente mais propenso a defender suas divisas do que atender o seu propósito – porque para ele não há vida fora do exército. Então, Zuckerberg, pode preparar o pente fino… porque se depender dessa tropa digital, o exército de Fake News ainda vai trabalhar muito daqui até outubro.