“Eu tô conseguindo falar, eu consigo comer, mas é tudo com bastante cautela, com bastante cuidado”.
Assim tem sido os dias da professora Syelle D’Paula desde o dia 21 de março, quando ela buscou um procedimento na Clínica-Escola de Odontologia da Unama, em Belém. Os atendimentos são realizados pelos alunos e professores do curso de forma gratuita.
Justamente por ser um serviço mais acessível, Syelle buscou o local para fazer uma restauração nos dentes, mas, desta vez, o resultado não foi o esperado. Em um desabafo nas redes sociais, Syelle contou que “já tinha ido outras vezes e estava ciente de que era um ambiente acadêmico onde os alunos realizavam os procedimentos”.
Ver esta publicação no Instagram
Em conversa com o BT, Syelle explicou o ocorrido. Uma professora, que ela prefere não identificar, supervisionava o tratamento feito pelas alunas em Syelle. Em determinado momento, a dentista alegou que algo que as acadêmicas haviam feito estava errado e foi demonstrar como seria a maneira correta.
“Ela interferiu no procedimento que as estudantes estavam fazendo, alegando que havia algo errado e iria demonstrar como fazia. Ela invadiu minha boca. Não usou nenhum instrumento para isso, simplesmente usou a mão e forçou minha mandíbula, até que estalou”, detalhou ela.
A educadora revelou ainda que a própria professora reconheceu que deslocou sua mandíbula. “Quando eu levantei já chorando de dor, ela disse que sentiu quando a minha mandíbula estalou, mas é porque eu sofria de um problema e que deveria buscar um especialista. E ela nem sequer tentou ver ou me prestar socorro depois”, contou.
Syelle afirma que, ao pedir uma explicação à profissional, “ela só disse que eu deveria procurar um especialista. Disse que eu tinha um problema na ATM (articulação temporomandibular)”.
Além do trauma e da dor, Syelle conta que foi responsabilizada pela professora, que alegou que ela já tinha o problema antes, o que a jovem nega. “Se ela identificou isso, porque continuou o procedimento? Por que não parou ou foi mais cuidadosa? Ao contrário, só me culpou dizendo que eu já sofria com isso, mas eu não sofria, eu não sentia nada. Tanto que já havia ido outras vezes à clínica da Unama e não havia acontecido nada, ninguém havia reclamado nada sobre isso”, revelou.
SEM AMPARO
Em contato com a Clínica-Escola após o ocorrido, Syelle foi avaliada por um especialista indicado pela instituição que deu “alta” para ela, pois “não havia mais nada que a Unama pudesse fazer e ele estaria me mandando buscar atendimento no Hospital Barros Barreto, pelo SUS”, continuou Syelle.
Ela solicitou ao profissional um documento que comprovasse o atendimento e a “alta” e soube então que o médico não era ligado à Unama e sim ao Hospital Barros Barreto. Ele alegou que não poderia dar nenhum comprovante à Syelle, pois não poderia se vincular à instituição privada.
No vídeo enviado para o BT Mais, Syelle demonstra a dificuldade em abrir a boca por conta da dor. Ela relata também que não consegue mais bocejar e precisa segurar a boca.
Com a repercussão do caso nas redes sociais, a educadora disse que o próprio Hospital de Barros Barreto entrou em contato com ela e agendou uma consulta com um especialista no caso. “Paralelo a isso, vou ter que fazer exames também, né. Vou ver se consigo fazer tudo pelo SUS, mas gostaria que a Unama se responsabilizasse e me indenizasse porque eu posso ficar com sequelas”, desabafou Syelle.
PREJUÍZOS FINANCEIROS
A vida profissional de Syelle também tem sido prejudicada. Ela, que é professora horista, já deixou de dar aula várias vezes, pois tem dias que as dores são insuportáveis. Ela teme perder o emprego. “Eu fico muito preocupada com meu emprego, porque volta e meia tenho que faltar. Sem contar que sou horista, eu ganho por horas de trabalho, ou seja, meu financeiro está totalmente afetado, revelou.
A jovem pretende acionar a justiça após se sentir lesada pela Unama “Sei que eles estarão buscando meios de se proteger disso”, finalizou ela.
O BT Mais entrou em contato com a Unama e aguarda resposta. Sobre o envolvimento do profissional do Hospital João de Barros Barreto, o BT Mais também solicitou um posicionamento à unidade.