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Entenda o impasse entre rodoviários e empresários e o motivo da greve de ônibus na capital paraense 

Foto: Reprodução.

Depois de ser decretada na noite da última segunda-feira, 2 , a greve dos rodoviários segue causando transtornos em Belém e região metropolitana.

O Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário da capital (Setransbel) afirma que apenas 11 dos 1.200 ônibus da capital estariam circulando e que motoristas estão sendo impedidos de sair das garagens com os carros. Em contrapartida, o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belém (Sintrebel) nega que esteja impedindo motoristas de trabalhar.

Enquanto isso a população reclama de muita dificuldade e transtornos causados pela paralisação na manhã desta terça-feira, 3.

O BT foi atrás de ouvir os dois lados para entender o que levou a mais uma greve de ônibus na capital paraense.

REAJUSTE SALARIAL

Um dos pontos mais críticos da negociação entre rodoviários e empresários gira em torno de um possível reajuste salarial. Enquanto o Setransbel alega que a categoria teve 7,57% de aumento nos salários e 12,57% de aumento no ticket alimentação entre os anos de 2019 e 2020, o Sintrebel rebate afirmando que o valor oferecido em reunião na última segunda-feira, 2, não chega nem perto das perdas salariais da categoria. “A divergência foi ontem em mesa de negociação, onde os empresários ofereceram um percentual de 4% linear de 4% para salário e ticket, clínica dos rodoviários, sendo que esse valor é muito abaixo de nossas perdas salariais, que chegam a 12%. Nem sequer ofereceram 50% de nossas perdas salariais”, disse Ewerton Paixão, vice-presidente do Sintrebel.

O vice-presidente da categoria afirma ainda que os números apresentados pelo Setransbel não condizem com a verdade, uma vez que parte dos valores ainda não teria sido recebido. “Em 2019 houve um reajuste de 2,5% que foi referente ali à pandemia, onde muitas categorias pararam. Simplesmente os empresários fizeram a reposição salarial, que foi 2,5%, os 7,5% foi em relação à 2020/2021 onde eles não deram. Foi julgado e nós ganhamos os 7,5% de forma retroativa. E até agora a gente ganhou no tribunal, mas não recebeu porque os empresários recorreram da decisão. Eu acho uma falta de respeito muito grande quando empresários falam dessa forma, que deram 7,5%, eles não deram. Empresário não dá nada. A gente ganhou isso em uma decisão judicial”, acusou o vice-presidente do Sintrebel.

Em contrapartida, o presidente do Setransbel, Paulo Gomes, afirma que é falsa a alegação de que não houve aumentos em 2020 e 2021. “Mostramos para eles que passamos três anos sem reajuste de tarifa e, mesmo assim, concedemos a eles, em 2019, 5,07% no salário e no ticket alimentação. Em 2020, concedemos 2,5% no salário e no ticket alimentação. E aí ficou uma pendência de 2021, que está sob júdice, mas é só no salário, porque nós demos 5% de aumento no ticket alimentação. Que eles não receberam aumento nenhum durante esses três anos, é mentira”, contrapõe Paulo.

Paulo Gomes afirmou ainda que havia sido acordado o aumento de 4% agora e que depois os empresários iriam concedendo novos reajustes. “A gente concederia de imediato 4% de reajuste desses 12% que eles almejam. E, no decorrer dessas possíveis desonerações que o poder público já sinalizou para que o sistema não quebre, a gente vai concedendo novos reajustes para eles. Para que eles também tenham essas perdas salariais da inflação dos últimos 12 meses reposta”, alegou. 

ÔNIBUS MENORES

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Outro ponto muito importante do debate se encontra na possibilidade de ônibus menores, de até 42 lugares, começarem a circular na capital. Isso porque, segundo o Sintrebel, alguns trabalhadores perderiam seus cargos, uma vez que os ônibus só circulariam com motorista, mas sem cobradores. “Ameaçaram colocar ônibus com 42 lugares sem cobrador. E a gente entende que isso é um risco muito grande, porque o ônibus com 42 lugares, sem cobrador, é um ônibus convencional grande, normal, onde o motorista não ganha, leva só 42 passageiros sentado e vai levar um ônibus lotado, que vai chegar a mais de 100 pessoas. Isso aí oferece um risco muito grande, porque o motorista, além de estar dirigindo ali, passando marcha, ele vai estar passando o troco e oferece risco não só para os usuários, mas também para os trabalhadores”, alegou Ewerton.

Entretanto, o presidente do Setransbel, Paulo Gomes, rebateu as acusações de Ewerton Paixão e afirmou que a exclusão de cobradores do sistema não foi uma opção debatida. “A nossa intenção, e isso foi explicado a eles durante as reuniões, não é retirar os cobradores da frota que hoje está operando em Belém. A nossa intenção com esta proposta foi, na verdade, a contratação de novos motoristas. Em 2019, Belém tinha uma frota operacional de 1.787 veículos. Hoje, a frota calculada pela Semob é de 1.237 veículos. É uma diferença de quase 600 veículos devido a todos esses fatores: pandemia, diminuição de passageiros, congelamento tarifário”, alegou ele. E continuou: “foram 2.400 operadores, entre motoristas e cobradores, que foram demitidos. Excluídos do sistema por todas essas conjunturas citadas. Hoje o peso do salário leva em torno de 45% das empresas, e é muito grande para o passageiro. A nossa intenção com essa cláusula é reativar linhas que foram excluídas com um custo operacional mais baixo, com um carro de 42 lugares, só com motorista, pra gente tentar trazer mais ônibus para o sistema e atender essas demandas desses bairros que tiveram suas linhas extintas devido a todos esses fatores apresentados”, disse Paulo Gomes.

GARAGENS FECHADAS

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No começo da manhã de hoje, o BT recebeu denúncias de que alguns motoristas estariam sendo impedidos de sair com ônibus das garagens por membros do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belém. Entretanto, o vice-presidente do Sintrebel negou a acusação. “Não procede. Estamos aqui em frente à empresa. Isso sem nenhuma obstrução, né? Os trabalhadores entenderam e aderiram ao movimento de greve e até agora não houve nenhuma sinalização. A gente não quer prejudicar a população, mas os trabalhadores estão prejudicados, estamos praticamente há mais de dois anos sem reajuste da categoria e a gente quer sair desse impasse. Nossos advogados, através do nosso setor jurídico, já estão tentando uma reunião de conciliação entre sindicato e o SETRANSBEL no Tribunal Regional do Trabalho”, afirmou Ewerton.

Segundo o presidente do Setransbel, piquetes foram feitos nas saídas de garagens para impedir motoristas que queriam sair com os ônibus. “Existem diversas imagens circulando que mostram piquetes nas portas das garagens, inclusive com intervenção policial, e até o impedimento de alguns funcionários se aproximarem das garagens”, acusou Paulo Gomes.

30% DA FROTA RODANDO

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Sobre a lei que coloca o transporte público como essencial e, por isso, deve ter mantido, pelo menos, 30% da frota circulando, Ewerton Paixão afirma que o sindicato ainda não recebeu nenhuma notificação a respeito. “Estamos aqui aguardando uma liminar que vai decidir o percentual, na verdade não é 30%, é muito mais. E quando chegar essa decisão judicial, a gente não discute, a gente cumpre. Mas afirmo mais uma vez que os trabalhadores estão revoltados com a situação da extinção dos cobradores, onde os empresários querem colocar ônibus sem cobradores. Os empresários não oferecem uma frota digna para a população, a frota dos empresários está sucateada e não tem manutenção. Essa é a verdade”, afirmou ele. 

Sobre essa questão, Paulo Gomes afirma que o Setransbel entrou com uma liminar para garantir a porcentagem prevista em lei. “Se depender das empresas e do Setransbel, nós estamos com toda a frota à disposição. Inclusive, impetramos, no Tribunal Regional do Trabalho, um pedido de medida cautelar com liminar para que os rodoviários mantenham a frota nas ruas”, contou.

Ao final desta matéria, o Tribunal Regional do Trabalho da 8° Região (TRT-8) acatou o pedido do Setransbel e determinou que 40% da frota volte a circular em Belém e região metropolitana, sob pena de R$ 10 mil por dia em caso de descumprimento.