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Suástica nazista e bandeira LGBTQIA+: imposição de sócio de escola causa revolta em alunos

O dia 17 de maio é marcado como o Dia Internacional de Luta Contra a lgbtfobia. Ironicamente, nesta mesma terça-feira, 17.05, a equipe do BT recebeu uma denúncia contra Cláudio Larrat Miranda, sócio administrador do Centro Educacional Mendara, localizado no bairro da Marambaia, em Belém.

O BT recebeu um vídeo onde Cláudio, que não é professor, aparece repreendendo alunos em sala de aula. Segundo relato de alunos, Cláudio então teria comparado a bandeira LGBTQIA+ com o símbolo nazista, a suástica, inclusive desenhada no quadro. A nossa equipe conversou com alguns adolescentes que estavam presentes no momento do ocorrido. Vamos relatar o que as denúncias alegam.

As bandeiras LGBTQIA+ foram coladas em uma porta de sala de aula da instituição. Imagem: Arquivo pessoal

Segundo os relatos tudo começou no dia 12 de maio, quinta-feira, quando Cláudio entrou em uma determinada sala de aula e afirmou que a bandeira LGBTQIA+ colada em um local da sala estaria causando desconforto em algumas pessoas da instituição, sem especificar de quem se tratava. Em seguida, o acusado teria desenhado, com uma caneta piloto, o símbolo nazista no quadro da sala de aula. Ele afirmou que depois explicaria.

Bandeira nazista desenhada em sala de aula pelo administrador Claudio Larrat. Imagem: arquivo pessoal

Na manhã desta terça-feira, 17, Cláudio retornou a sala na qual desenhou o símbolo nazista. O sócio da instituição, que não é professor, entrou no local durante uma aula de sociologia para, segundo as denúncias, pedir que fossem retiradas as bandeiras LGBTQIA+ da porta da sala. E permaneceu em sala durante toda a aula para “abrir um debate” entre os alunos.

No vídeo, registrado em sala de aula, Cláudio afirma se tratar de “propaganda”, e é questionado sobre. Segundo os alunos a pauta eram as bandeiras. Neste momento, Cláudio diz que: “a escola não assume nenhum lado, nem a favor, nem contra, nem de partido nem de LGBT, nem do NAZISMO, nem do Lula nem do Bolsonaro”, diz o sócio da instituição.

Em seguida ele é perguntado se a escola se diz neutra sobre a situação do nazismo e Cláudio responde que a escola “não pode fazer propaganda”.

Veja o vídeo:

Segundo os denunciantes, Claudio comparou o fato da bandeira LGBTQIA+ estar colada na porta da sala de aula com “imposição” e comparou o símbolo da luta contra a homofobia com a bandeira nazista. A comparação gerou revolta entre os alunos que debateram a questão em sala.

A denúncia foi feita pelas redes sociais do BT. Entramos em contato com a escola Mendara e com o sócio da escola, Cláudio Larrat, para falar sobre as denúncias apresentadas.

O QUE DIZ CLÁUDIO LARRAT?

Cláudio Larrat , sócio administrador da escola Mendara impondo que os alunos retirem o símbolo LGBTQIA+ afirmando serem regras da escola. Imagem: reprodução arquivo pessoal

Questionado pelo BT, Cláudio, que afirma ser judeu, alega que “debates” como este fazem parte da linha educacional da escola que tem o objetivo de “fazer os alunos pensarem. Abrir a mente”.

Segundo Cláudio, a escola tem uma forma de promover debates na instituição. Sobre a comparação da bandeira nazista com a bandeira LGBTQIA+, Cláudio diz que estava ali apenas incitando uma reflexão. “eu tenho que entender o objetivo da aula, o objetivo da aula não era combater nazismo, não era combater fascismo, não era combater lgbt, não era nada disso, o objetivo da aula era raciocinar, não pegar qualquer coisa que chegue e não filtrar”, explicou Cláudio.

“Esquerda ou direita, Bolsonaro ou Lula? Entre armamentista e não armamentista. E teve até por exemplo, em uma das turmas em que a gente pegou a turma de quem é quem, a quem aqui acha que é Bolsonaro que vai votar no Bolsonaro. Três foram para um lado, quem vai ser Lula três para outro” afirma Cláudio. Mesmo Cláudio não sendo professor e sim o administrador da escola, ele diz que participa e promove debates políticos com os alunos e usou a suástica como técnica pedagógica, “foi uma técnica para chamar a atenção, pra poder tá entendendo, o fato de deu desenhar é como qualquer coisa eu desenhar foi a técnica na aula pra poder chamar a atenção dos alunos”, afirmou.

RETIRADA DAS BANDEIRAS

Alunos retirando as bandeiras LGBTQIA+ pregadas na porta da sala de aula. Imagem: reprodução arquivo pessoal.

Cláudio negou que tenha entrado na sala para impor a retirada das bandeiras LGBTQIA+ da porta e afirma que o que ocorreu foi um “debate” e fazia parte de uma programação frequente da escola. “Pode ser que alguém de repente na sala possa não ter entendido, entendeu de forma equivocada o que se tentou passar”, disse. “Tanto que não foi só em uma turma, o professor de sociologia estava lá a gente pegou lá e disse bora fazer um bate e volta, como teve semana passada, retrasada, por exemplo.” acrescentou.

O BT questionou se ele havia pedido para tirar as bandeiras, já que essa informação foi repassada pelos alunos. Cláudio negou veementemente e disse que. “A escola não rasgou, não mandou jogar fora, nada, só pediu por questão de limpeza, eu tenho a foto de como estava pregado, estava pregado com durex na porta”, disse. Ele afirma que os alunos retiraram as bandeiras por decisão própria e não por uma imposição.

Mas não é isso que mostram as imagens que recebemos com exclusividade e que foram gravadas pelos próprios alunos. No vídeo é possível ver Cláudio sentado, falando, enquanto o professor de sociologia está em pé, com sua aula interrompida. Uma aluna afirma que o administrador está usando sua autoridade pra impor uma regra. “Você tá vindo aqui como autoridade, exigindo que a gente retire as bandeiras”, disse a aluna que é cortada por Cláudio. 

Larrat diz que existem normas a serem cumpridas. “Porque existem regras, que não fui eu que criei, foi a sociedade que criou”. A aluna tenta falar mais é cortada novamente. “A sociedade… e existem as regras da instituição. A instituição tem certas regras e ela não aceita propaganda de nenhum dos lados”, diz Cláudio, como se a bandeira LGBT representasse algum lado político partidário. 

Ao fundo dá pra ouvir a voz de uma outra aluna. “Senhor, perdão, isso não é propaganda”. Cláudio continua dizendo que é errado e que “vai estar influenciando” para um lado ou outro. Ele ainda diz que poderia colocar a foto do presidente. “A foto do presidente não é propaganda política”, afirma Cláudio. Nesse momento alguns alunos levantam para retirar as bandeiras que restavam, já que as maiores já haviam sido retiradas. É possível ver uma aluna com a bandeira LGBTQIA+ na blusa. 

Veja o Vídeo:

O QUE DIZ A ESCOLA

Escola Mendara. Imagem: reprodução internet

Entramos em contato com a escola Mendara.  A instituição nega que tenha qualquer posicionamento preconceituoso e diz que repudia o teor das denúncias. A nota diz que a postura da escola ao longo de 41 anos é de absoluto respeito às pessoas, vistas acima de tudo como seres humanos. A nota diz ainda que a denúncia não tem o menor fundamento, e que o fato ocorrido na sala de aula está distorcido. 

A nota também afirma que a escola possui uma linha neutra diante de manifestações ou opiniões  dos alunos de diferentes formações. O objetivo como instituição escolar é estimular o debate, o conhecimento e o senso crítico dos alunos sem proselitismo de qualquer ordem. 

Segunda a escola, a aula de Sociologia e Filosofia é um lugar apropriado para estes debates.  “Diante do tema trazido por algum aluno, possivelmente, afixando a bandeira LGBT+ à porta da sala de aula, procurou-se mostrar que o tema é polêmico e que a obrigação da escola é permitir o debate respeitando as  opiniões divergentes”, diz a declaração oficial. 

Sobre o desenho da suástica,  a nota afirma que o intuito foi de provocar a reflexão igualmente para temas tão importantes e atuais. Não significa a opção da escola por esta terrível linha ideológica, o que pode ser comprovado por recente postagem da escola sobre o Holocausto, no facebook da escola.

 
 
 
 
 
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O QUE DIZ O MOVIMENTO LGBTQIA+

Conversamos com Marcos Melo, jornalista e presidente da ONG Olivia, que afirmou que comparar a vivência de uma população que luta pelo reconhecimento de seus direitos, a uma ideologia é um ato irresponsável e de violência simbólica. “isso é ainda mais absurdo quando ocorre dentro de um espaço voltado à educação. Os dados de mortes da população LGBTI+ no Brasil mostram o quanto ainda precisamos evoluir na discussão acerca de gênero e sexualidade. Somos um país inseguro para pessoas LGBTI+, e essa evolução é fruto de uma educação inclusiva, plural, democrática e que estimule o respeito. A LGBTIfobia segue não apenas tirando vidas, mas impedindo pessoas de seguirem suas vidas.”, concluiu o jornalista.