As perguntas que a psicóloga Juliana Galvão responde esta semana são sobre violência. Os seguidores do BT perguntaram sobre violência verbal, psicológica física e outras formas. Confira o que a profissional fala sobre o tema.
Oi gente! Hoje é dia de resposta. Semana passada o tema do Pergunte à Psi foi Violência. Antes de trazer de fato as respostas, vou te apresentar algumas informações importantes.
Violência é um conceito amplo, composto por diversas variáveis, mas há um conceito definido por Minayo e Souza (disponível em unasus.org.br): “Qualquer ação intencional, perpetrada por indivíduo, grupo, instituição, classes ou nações dirigida a outrem, que cause prejuízos, danos físicos, sociais, psicológicos e (ou) espirituais.”
A violência foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como o “uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações”.
Aqui tu já percebes que há muitas formas de violência. Há muito se fala da violência física, aquela que implica agressões materiais, visíveis, corporais. Mas, importa buscarmos entender as outras formas. Dentre algumas classificações disponíveis, podemos citar, além da física, a violência psicológica, que pode ser entendida como toda ação que coloque em risco ou cause dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Esse tipo de violência também pode ser chamado de violência moral.
A violência é um fenômeno amplo. É um sério problema social e de saúde, por exemplo. Pensar soluções implica reunir, em amplo debate, sociedade e poder público. A ideia aqui é iniciar/provocar uma reflexão. Que possamos conversar mais sobre isso. Assunto importante que pode se apresentar de tantas formas e em qualquer lugar.
1- violência, falada dentro de casa?
2. Fui vítima de violência verbal em minha família a infância toda e hoje não consigo ter relações afetivas com ninguém.
3- eu e meu namorado brigamos de forma velada, nunca com agressão, e sim com omissão. Isso é um tipo de violência ou só é birra?
De forma geral, a família é o nosso principal núcleo de referência para nossas formas de ser, estar e agir diante do mundo. Tempos atrás era “comum” a presença de violência física como parte do processo educacional, usada muitas vezes como “corretivo”. Que bom que temos repensado e ressignificado isso (que tanto causou sequelas em muitos de nós). Contudo, existem as formas de violência, que podem se apresentar por meio de conversas, falas e “verdades” de uma família, que podem ser cruéis e causar sérios danos à alguém. Vezes são ações que são naturalizadas naquela família. Caso haja espaço, recomendo que se inicie um diálogo, em que você que está sofrendo, tenha a oportunidade de expor seus incômodos ou dores, quem sabe até propondo a terapia familiar como uma alternativa. Vale também para a pergunta de casal, a terapia de casa. Porém, há alguns núcleos familiares rígidos. Sem o hábito de diálogo. Nesse caso, indico a psicoterapia individual. Processo libertador. Já falei e repito: o autoconhecimento pode mudar de forma significativa a nossa vida. Seja te aproximando mais da família (ou namorado, na terceira pergunta) ou até criando um espaço saudável de distanciamento.
3- eu posso ser meu auto violador?
4- o que fazer quando percebemos que somos os causadores da violência?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece uma tipologia de três grandes grupos segundo quem comete o ato violento: violência contra si mesmo (autoprovocada ou auto infligida); violência interpessoal (doméstica e comunitária); e violência coletiva (grupos políticos, organizações terroristas, milícias).
Nos dois casos perguntados é possível perceber que a violência seja ela provocada a si ou direcionada aos outros é um fator de sofrimento. Aqui eu recomendo a leitura sobre uma técnica ou metodologia chamada Comunicação Não-violenta. Foi desenvolvida anos atrás por um psicólogo chamado Marshall Rosenberg. Existem livros, com conteúdo bem didático para que possa entender melhor como podemos reverter a violência nas nossas formas de ser. Há alguns perfis bem informativos sobre esse assunto: @institutocnvbrasil e a @cnvkonekt que trazem bastante conteúdo e ofertam cursos para nós direcionar na Comunicação Não-Violenta.
4- explodir por qualquer coisa é ruim?
A resposta aqui tá bem fácil. Para quem tá perto, sem dúvida é ruim. Por vezes, a explosão é inesperada e assustadora (até para quem é a pessoa que explode). Se essa explosão for constante, ela pode estar relacionada a alguns transtornos de ordem psicológica. Recomendo a avaliação com um profissional de saúde mental (psicólogo e/ou psiquiatra). Dá para ter uma vida bem melhor trabalhando o controle dessas explosões. Repito aqui a dica da Comunicação Não-violenta, com as referências aqui acima.
5- fui violentado sexualmente a minha infância toda por um vizinho, mas não consigo denunciar.
Primeiro, que tristeza! Imagino como deve ser difícil para você. É de nos deixar indignados que você tenha passado por isso. Diante da tua dificuldade, recomendo que você veja dentro de seu ciclo de pessoas próximas, alguém que você confie e que possa te ajudar com os trâmites necessários, que incluem delegacia, por exemplo. Caso não tenha alguém em quem confie, você pode buscar alguns canais, como a delegacia virtual. Você pode registrar a ocorrência sem ter que ir presencialmente, pela página delegaciavirtual.pa.gov.br
Caso a violência envolva criança ou adolescente há um número de telefone. O Disque Direitos Humanos (Disque 100) é um serviço de disseminação de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e de denúncias de violações de direitos humanos.O serviço funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel, basta discar 100.
Agradeço a participação de vocês e reforço que aqui iniciamos um debate, que é para todos os dias, com os amigos, família, em casa, no trabalho. Que possamos influenciar positivamente na mudança da cultura de violência.
Semana que vem eu volto. E o tema será Relacionamento interpessoal.
MAIS CONTEÚDO
Ouça o podcast da psicóloga Juliana Galvão no Spotify clicando aqui.