O primeiro ministro britânico Boris Johnson – que, na prática, era quem mandava na terra da Rainha – entregou o cargo nesta quinta-feira. É mais um líder da direita populista que tomba por conta de escândalos que colocam em xeque não apenas a competência, mas a moral de seu governo.
Ex-líder do partido conservador, Johnson substituiu Theresa May em 2019 com a promessa de dar continuidade ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Ele conseguiu o que desejava, mas o delírio de isolamento do primeiro ministro que se intitulava liberal custou caro: em outubro de 2021, o presidente do Departamento de Responsabilidade Orçamentária do Reino Unido, Richard Hughes, afirmou que o Brexit provocou crises de abastecimento, falta de mão de obra e uma redução no PIB de 4%.
Na avaliação de Hughes, tudo isto causou um impacto negativo na economia do Reino Unido maior do que a pandemia de Covid. Aliás, falando em pandemia, o primeiro ministro Johnson foi um desses líderes que se negou a impor restrições necessárias para conter o avanço do vírus, e como resultado o Reino Unido teve 180 mil mortos por causa da doença – o maior índice dentre todos os países europeus.
Eventualmente Johnson cedeu e instituiu lockdown no país, mas ele próprio não seguiu essas regras: um dos escândalos de seu governo foi que membros do partido conservador participaram de festas durante o lockdown, sendo a pior de todas proporcionada pelo próprio Johnson, que se casou na abadia de Westminster em plena pandemia quando aglomerações eram proibidas.
Aqui vale fazer um aporte: tudo que fez Johnson balançar, e depois cair, é uma gota perto das peripécias do presidente do Brasil. A aglomeração proporcionada por Johnson em seu casamento, por exemplo, foi de 30 pessoas – menos gente do que a turma que costumava ir ao cercadinho do planalto. Ainda assim, o povo pediu a cabeça do primeiro ministro, enquanto aqui ainda se discute a possibilidade da reeleição.
Não que eu esperasse que Jair Bolsonaro seguisse o exemplo britânico, pontuado por renúncia e pedidos de desculpa após sua liderança ficar insustentável – esse não larga o osso, até porque, como o próprio já disse, se agarra com unhas e dentes ao cargo por medo de terminar atrás das grades (isso foi, acreditem, até discurso de campanha – só não sei se a favor, já que me parece um argumento que alimenta o adversário), mas esperava que seus apoiadores tivessem um pouco da pontualidade britânica para saber a hora de pular do barco.
O fato é que a queda de Johnson parece ser um dos capítulos finais da investida aventureira do conservadorismo populista, que permitiu a ascensão de líderes aloprados como Trump nos EUA, Salvini na Itália, Jansa na Eslovênia e o FPO na Áustria. Aqui Brasil, conforme indicam as pesquisas, essa hora vai chegar… ainda que com atraso por causa do fuso GMT-3.