A rede de interações entre plantas e insetos que ocorre no Parque Estadual “Camillo Vianna” é objeto de pesquisa do Projeto “Flora do Utinga”, que já registrou 98 espécies de plantas, visitadas por 65 espécies de insetos, resultando em 223 interações inseto-plantas, algumas altamente especializadas.
A iniciativa é desenvolvida desde 2018 pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), nas Unidades de Conservação (UCs) da Região Metropolitana de Belém (RMB).
O resultado da pesquisa foi apresentado em um trabalho de iniciação científica da discente do curso de Ciências Biológicas, do Instituto Federal do Pará (IFPA), e também pesquisadora do “Flora do Utinga”, Juliana Tavares Antunes Amorim, sob a orientação do pesquisador e coordenador de Botânica do (MPEG), Leandro Valle Ferreira.
Karla Bengtson, presidente do Ideflor-Bio, ressalta que o projeto objetiva fazer o reconhecimento da biodiversidade das áreas de proteção ambiental das unidades de conservação da RMB. Em quatro anos de pesquisa, ele já registrou 821 espécies, algumas espécies de plantas e fungos, registradas pela primeira vez no estado, o que reforça a importância da pesquisa para possibilitar a melhor compreensão da importância biológica da Unidade de Conservação.
O pesquisador Leandro Ferreira reforça que a complexa rede de interações é fundamental para o processo de polinização pelos insetos, sem o qual a vida não teria continuidade.
“A polinização é um processo de transferência de grão de pólen das antenas para o estigma, que pode acontecer na mesma flor ou entre flores diferentes realizadas por agentes polinizadores”, detalha. Esses importantes resultados serão apresentados no Seminário do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, que ocorrerá de 22 a 26 de agosto no (MPEG).
INTERAÇÕES
Ferreira ressalta ainda que uma das áreas mais importantes do Parque do Utinga para o registro da interação inseto-planta é o corredor de vegetação nas margens do lago Água Preta, onde já foram registradas mais quase 100 espécies de plantas, que são a base de alimentação para quase uma centena de espécies de insetos que promovem a polinização.
Para Juliana Amorim, o estudo tem como objetivo coletar e identificar os insetos que visitam as flores, além de registrar, sem coleta, os vertebrados visitantes. As coletas dos visitantes foram realizadas a cada dois dias, de 6 às 10 horas. Cada planta visitada foi fotografada, coletada e identificada. Os visitantes foram fotografados e coletados com rede entomológica, também conhecida como puçá ou rede de pegar borboletas. As identificações foram feitas por taxonomistas, responsável pela organização e classificação dos organismos encontrados e encaminhados à coleção entomológica da UFPA, área que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relações com o homem, as plantas, os animais e o meio ambiente.
“As plantas foram classificadas em oito formas de vida, em que as espécies arbóreas, arbustivas e epífitas foram as mais frequentes. A maioria das espécies de plantas foi visitada por poucas espécies de insetos, com exceção de Sphagneticola trilobata (Asteraceae) Senna latifolia (Fabaceae), Mandevilla hirtusa (Apocynaceae) e Varronia multispicata (Boraginaceae) que totalizam 18% do total de visitantes. As 65 espécies de insetos foram divididas em sete grupos biológicos, com destaque para as abelhas, borboletas e moscas”, destacou Juliana.
Os insetos mais freqüentes nas flores foram as abelhas Apis melífera, Euglossa sp., Trigona guianaee e T. pallens (Apidae) e as moscas Ornidia obesa e Palpada vinetorum (Chloropidae) que totalizaram mais de 65% do total de visitas. Esse estudo registrou algumas espécies de plantas, tais como, a liana Centrosema brasilianum (Fabaceae) e algumas espécies de orquídeas, que dependem exclusivamente de abelhas de grande porte, tais como, Epicharis umbraculata, Eulaema nigrita, Xylocopa frontalis e Euglossa sp.