Em entrevista à Rede Globo, durante o Jornal Nacional, na noite de segunda-feira, 21, o presidenciável, Jair Bolsonaro, foi questionado sobre problemas e atitudes do seu governo durante a crise da pandemia de coronavírus.
“Em menos de 48 horas cilindros de oxigênio começaram a chegar em Manaus”, afirmou o presidente. Entretanto, a empresa que forneceu cilindros de oxigênio para o Estado, White Martins, comunicou ao Ministério da Saúde a dificuldade de produção de insumo em 8 de janeiro de 2021, conforme a Procuradoria Geral da República (PGR).
Inclusive, meses depois desse episódio de desespero por falta de oxigênio, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), acerca de uma suposta omissão sobre a falta de cilindros de oxigênio em Manaus.
A crise da falta do insumo, que resultou em pelo menos 30 mortos, eclodiu quase uma semana depois, nos dias 14 e 15. A capacidade de três fornecedores da região era de 28,2 mil metros cúbicos diários. Mas a demanda chegou a 76,5 mil metros cúbicos em 14 de janeiro.
De fato, na madrugada do dia 15, aviões carregados com cilindros de oxigênio chegaram ao estado. Mas eles não foram encaminhados pelo governo federal e, sim, por São Paulo e uma empresa fornecedora. O então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou, naquele dia, que o governo não tinha capacidade para transportar cilindros por conta própria.
Ainda segundo a PGR, desde 6 de janeiro havia a recomendação de transferência dos pacientes graves para outros estados, o que só ocorreu dez dias mais tarde. A operação, responsável pela transferência de mais de 500 pacientes, se estendeu até 10 de fevereiro.
Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro se defendeu e disse que “não é competência” e “nem atribuição” do governo federal levar oxigênio para o Amazonas, e que não houve omissão diante da crise. “Temos um governo sem corrupção”, destacou Bolsonaro.
LOCKDOWN
Bolsonaro também disse que o ‘lockdown’ (fica em casa) durou mais de um ano. Porém, o Brasil nunca adotou um “lockdown” rígido como o aplicado em países europeus ou na China, por exemplo, em que houve o fechamento total de bairros, ruas, fábricas e paralisação da construção civil.
O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 15 de abril de 2020, que os governos estaduais e municipais tinham poder para determinar regras de flexibilização para o isolamento, quarentena e restrição de transporte e trânsito em rodovias devido à pandemia.
Dessa forma, cada governo estadual começou a tomar medidas de forma diversa, sem uma determinação de procedimentos oficial do governo federal para afrouxar ou apertar as medidas visando o distanciamento e o controle da transmissão do vírus .
VACINAS
Ainda na sabatina no Jornal Nacional, Jair Bolsonaro disse que “ainda são desconhecidos até hoje os efeitos da vacina”. No entanto, Os efeitos colaterais são conhecidos e citados nas bulas dos imunizantes registradas e aprovadas pela Anvisa. Os próprios laboratórios disponibilizam as bulas com todas essas informações online das vacinas aplicadas no Brasi AstraZeneca, Pfizer, Coronavac e Janssen. Os documentos também informam sobre as condições de saúde nas quais a aplicação da vacina não é recomendada.
A Organização Mundial da saúde (OMS) destacou que os efeitos colaterais relatados das vacinas Covid-19 têm sido, em sua maioria, leves a moderados e não duraram mais do que alguns dias. Efeitos colaterais típicos incluem dor no local da injeção, febre, fadiga, dor de cabeça, dor muscular, calafrios e diarreia. E as chances de que ocorra qualquer um desses efeitos colaterais após a vacinação variam de acordo com a vacina. Os efeitos colaterais menos comuns já relatados incluíram reações alérgicas graves como anafilaxia; no entanto, segundo a OMS, essa reação é extremamente rara.
TRATAMENTO ALTERNATIVO
O candidato voltou a pontuar que os medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina foram estratégias válidas, devido o enfrentamento a um vírus novo e desconhecido. Mas, os remédios são comprovadamente ineficazes por estudos científicos e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Contrário ao isolamento em casa, Bolsonaro comentou que ficar em casa é aumentam as chances de se contaminar com a covid-19.
Desde o início da pandemia circulam informações falsas sobre uma fala atribuída ao então governador de Nova York, Andrew Cuomo, sobre a contaminação dentro de casa. Mensagens nas redes sociais diziam, erroneamente, que ele havia usado um levantamento com pacientes de Covid-19 do Departamento de Saúde do estado para provar a ineficácia do isolamento social como forma de conter o avanço da doença.
Na ocasião, um levantamento realizado em maio de 2020 sobre pacientes hospitalizados por Covid-19 mostrava que 66% estavam isolados em casa. No entanto, Cuomo em nenhum momento usou essa informação para desacreditar o isolamento social, mas, sim, para pedir que as pessoas reforçassem os cuidados pessoais necessários, como a higienização das mãos e o uso de máscaras, e que evitassem visitar outras pessoas.
Logo, as pessoas que estavam em casa foram contaminadas porque tiveram contato com alguém infectado que não seguiu as regras do isolamento, conforme mostram estudos realizados ao longo da pandemia, como uma pesquisa dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC), de 20 de janeiro de 2020 a 27 de março daquele ano. Este estudo apontou que as pessoas tinham cinco vezes mais chances de pegar o coronavírus por meio da própria família do que de contatos externos. Além disso, as taxas de infecção dentro de casa eram mais altas quando os primeiros casos confirmados eram em adolescentes. Em conclusão, isso reforçava os conselhos de cientistas para manter o ensino remoto, pois a reabertura das escolas podia desencadear novos surtos.
CONFIRA TRECHO DA ENTREVISTA:
Além disso, relembramos aqui, o momento em que o candidato imita um paciente com covid-19 com falta de ar em uma live nas redes sociais.
Veja: