O jovem Isaac Cunha, de 28 anos, denunciou em seu Instagram ter sido vítima de agressão física, ameaça e injúria racial em seu local de trabalho. Isaac é gerente do Ámmar Gastro Bar, localizado na Avenida Almirante Wandenkolk, no bairro de Nazaré, em Belém e contou ao BT que foi vítima de um candidato do partido União e um apoiador do político, que frequentavam o bar no último sábado, 3.
Em contato com o BT, o gerente revelou tratar-se do candidato à reeleição como deputado federal, Jaques Neves, conhecido como Dr. Jaques. O político tinha uma reserva e teria iniciado uma confusão no local por desrespeitar a regra da casa que proíbe propaganda política no ambiente. Isaac alega ter sido agredido por um apoiador de Jaques e ameaçado pelo político. Além disso, o jovem afirma que o tratamento do candidato foi completamente diferente e respeitoso com um dos proprietários do estabelecimento, um homem branco.
O gerente registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil do Comércio neste domingo, 4. O documento identifica o fato como crime de ameaça, mas Isaac pretende denunciar também como injúria racial.
INÍCIO DA CONFUSÃO
O próprio político, como mostram imagens do circuito de segurança do local obtidas por Isaac, começou a distribuir santinhos para os frequentadores do Ámmar. A recepcionista do local informou ao grupo que a casa proíbe qualquer tipo de propaganda política no espaço e informou ao gerente o ocorrido. Isaac conversou com uma mulher que estava no grupo e explicou sobre a proibição e a situação parecia ter sido resolvida.
Entretanto, o candidato Dr. Jaques teria retornado ao Ámmar cerca de duas horas depois, utilizando um adesivo de seu irmão e candidato a deputado federal Jair Neves (União Brasil) pregado na camisa. Isaac relatou que Jaques teria dado um nome falso na recepção e ofendido a recepcionista que tentou impedi-lo de entrar por conta do conteúdo político
Tentando dar fim à confusão, Isaac tentou novamente conversar com o grupo de políticos, mas ouviu de Jaques que ele não lhe dirigiria a palavra. Em seguida, o denunciante afirma ter sido cercado pelos dois irmãos e um terceiro homem não identificado até então. Uma discussão se iniciou e o homem desconhecido teria apontado o dedo com força no peito de Isaac.
Além desta suposta agressão, o jovem também diz ter sido ameaçado com a menção de um tapa no rosto pelo mesmo homem. O tratamento teria sido diferente quando um dos proprietários, sem se identificar, interviu. O homem de pele branca ouviu as explicações dos políticos e a justificativa de que não sabiam da proibição de propaganda política no local.
Antes de ir embora, Jaques ainda teria ameaçado Isaac, afirmando que o trabalhador iria “se ver” com ele.
“Você que não vive isso direto vai achar que é besteira, que é vitimismo, mas o tratar foi diferente. Ele tratou com tom baixo, não agrediu o proprietário, sem o proprietário se identificar. Ele falou por diversas vezes que eu era mentiroso. Mas só que é diferente, conversando com o proprietário, chegou até no ouvido do proprietário pra falar macio, leve e dizer que quem tava fora do controle era eu. Eu me senti sim com preconceito. Ele tratou diferente”, afirmou Isaac em um vídeo nas redes sociais.
Indignado, Isaac conversou com o BT e afirmou que irá levar o processo adiante, mesmo com várias pessoas dizendo que “não vai dar em nada”, por se tratar de políticos envolvidos.
“Não espere o racista falar que você é negro e que ele te odeia para demonstrar racismo. Atitudes também, gestos também são”, desabafou o profissional.
O deputado estadual Dr. Jaques divulgou uma nota em suas redes sociais negando as acusações. A assessoria do candidato à reeleição afirmou que está apurando os ataques e que “as providências legais já foram adotadas”. Leia abaixo o posicionamento.