Diversidade na erudição: evento com orquestra e dança contemporânea apresenta nova expressão artística

O Theatro da Paz recebeu em seu palco o evento “A Sinfônica vai ao ballet”, que aconteceu na última quinta-feira (13), unindo música clássica, dança contemporânea e muita representatividade. A Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP), regida por Matheus Avlis de Sousa, apresentou um repertório formado por obras dos compositores russos de música clássica, Serguei Prokofiev e Tchaikovsky, grandes nomes da composição para a dança clássica. 

A apresentação, apesar de representar a música clássica, contou com a performance solo de Jothan Netto (Instagram @jothan_netto), 22 anos e acadêmico do curso de Licenciatura em Dança pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Jothan é um artista da dança negro, trans e não-binário, apaixonado pelo movimento do voguing – uma dança contemporânea popularizada pelos ballrooms e boates LGBTQIA+ na década de 1980, que utiliza de poses e linhas estilizadas como expressão corporal e que chegou até o Pará no ano de 2017 -, além de seus estudos na dança de salão e dança contemporânea, que foi muito bem representada durante o evento. 

“Quando eu adentrei a Universidade, comecei a ter ensinamentos de dança na minha própria licenciatura, como as técnicas de Laban e de improvisação. Já no final do ano passado, comecei a investir no estudo de acrobacias, mortais e afins para somar com a dança contemporânea, que é enriquecida pelo meu corpo trans, prete e periférico, então trago toda essa bagagem com a minha dança”, comentou Netto sobre sua conexão com a dança.

Hoje, os espaços que sempre foram ocupados por pessoas brancas e da alta sociedade, está sendo tomado por pessoas negras, periféricas e LGBTQIA+, trazendo não apenas uma grande representatividade, mas um novo olhar e uma nova história para ambientes que antes eram negados a quem vive às margens da sociedade. Em entrevista ao BT, Jothan comentou sobre o assunto. “O maestro Matheus Avlis de Sousa me oportunizou, me convidou, para a gente ressignificar e potencializar essa música que é erudita, branca e elitizada, trazendo um corpo prete para a cena, ou seja, quebrando totalmente esses padrões da música clássica.”

Segundo Netto, a apresentação foi um desafio tanto para ele, quanto para os músicos, mas o mesmo foi recebido cheio de carinho pelo público, inclusive pelas redes sociais. “O resultado disso foi inesperado, todo mundo ficou muito maravilhade, me parabenizaram bastante pela performance. Saí de lá com muitos elogios, inclusive do maestro, então acredito que foi muito bem acolhido e recebido”

A junção da erudição e da contemporaneidade é uma mistura de mundos opostos, mas que se completam e trazem uma nova identidade à expressão artística e à forma com que o entretenimento é consumido pela sociedade, assim como a representatividade de pessoas LGBTQIA+ adentra o mundo da cultura pop, por exemplo.