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COP-27: Amazônia, o maior desafio do combate ao aquecimento global; entenda!

No último domingo(06), começou a COP-27 no Egito, o evento vai até o dia 18 de novembro e reúne os líderes mundiais mais importantes do planeta. A reunião tem o objetivo de traçar estratégias para o combate ao aquecimento global. E por que a Amazônia deve ser o maior desafio do combate ao aquecimento global? 

Antes vamos entender a importância do evento deste ano!

COP-27 acontece de 6 a 18 de novembro no Egito com líderes mundiais, ambientalistas e protetores da floresta. Imagem: Reprodução INESC.

A expectativa em torno desta edição gira em torno das recentes e preocupantes declarações de Patrícia Espinosa, secretária executiva da Convenção do Clima da ONU. Segundo Patrícia,  “devemos ver mais ações extremas do clima nesta década”, disse ela no começo de 2022. 

Segundo os especialistas, o cenário de mudanças climáticas se agravou nos últimos anos. A COP-27 deve acontecer num cenário de muita pressão, já que os países estão bem distantes de alcançar as metas do Acordo de Paris, segundo a ONU. No evento anterior, foi exigido que os países apresentassem planos mais fortes, e ainda no evento, os governos concordaram com a necessidade de fornecer mais apoio aos países em desenvolvimento.

Agora, por que a Amazônia é o maior desafio do aquecimento global no mundo? 

Imagem aérea de sobrevoo de monitoramento de desmatamento na Amazônia no município de Lábrea, Amazonas, 26 de março de 2022. Imagem: Reprodução Imazon.

Segundo análise feita por mais de 30 cientistas, publicada no periódico Frontiers in Forests and Global Change, a floresta amazônica já está contribuindo para o aquecimento do planeta. Sim, é isso mesmo que você leu. 

Mas como isso pode acontecer? A conta do uso dos recursos naturais de maneira predatória, não fecha com a conta da sustentabilidade do ecossistema. O aumento das temperaturas, a estiagem e o desmatamento estão reduzindo a capacidade da maior floresta tropical do mundo de absorver dióxido de carbono da atmosfera. E aí vem o alerta mais preocupante: algumas regiões amazônicas já podem até mesmo estar liberando mais carbono do que a quantidade que armazenam.

As atividades na Amazônia, sobretudo as ações humanas, podem alterar significativamente a dinâmica da floresta tropical, aquecendo o ar e liberando gases de efeito estufa que produzem o tão fatal aquecimento. Que ações seriam essas? 

  • A compactação do solo devido à exploração madeireira, aumenta as emissões de óxido nitroso, um gás de efeito estufa
  • Os incêndios para limpeza de terrenos agrícolas liberam carbono negro, pequenas partículas de fuligem que absorvem a luz solar e aumentam o calor
  • O desmatamento altera os padrões de chuva, o que resseca e aquece ainda mais a floresta.
  • Inundações regulares, construção de barragens e a pecuária, liberam o potente gás metano, um dos principais motivos pelos quais as florestas são destruídas.

Além dessas desastrosas ações humanas, naturalmente cerca de 3,5% de todo o metano liberado no mundo é produzido pelas árvores da Amazônia.

A pesquisa aponta que o aquecimento atmosférico de todas essas fontes combinadas está comprometendo a capacidade de resfriamento natural da floresta. “O desmatamento da floresta está interferindo na absorção de carbono”, afirma Kristofer Covey, líder da pesquisa. “Mas quando começamos a avaliar esses outros fatores juntamente com o CO2, é bem difícil visualizar que o efeito não signifique que a Amazônia como um todo esteja de fato aquecendo o clima global”, afirmou. 

A boa notícia é que segundo o autor e seus colegas, o dano ainda pode ser revertido. Além da detenção das emissões globais de carvão, petróleo e gás natural, conter o desmatamento na Amazônia é a palavra de ordem. E isso deve ser realizado em conjunto com a redução da construção de barragens e aumento do reflorestamento.

José Carlos é ambientalista e membro do Partido Verde, que defende a Amazônia. Imagem: Reprodução.

Seguir devastando a floresta nas taxas atuais é uma ameaça para o mundo inteiro. Especialistas acreditam que a COP-27 pode ser a reinserção do Brasil na pauta ativa contra o desmatamento da Amazônia, depois de quase quatro anos em que o governo Bolsonaro desmantelou mecanismos de proteção do bioma. Para o ambientalista Zé Carlos, integrante do Partido Verde, a COP-27, devolve o protagonismo ambiental para o Brasil. “Agora as urgências são muito maiores, porque se discutirá também o mercado de carbono. O Brasil volta com protagonismo na conferência, porque durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, nós nos afastamos dos acordos internacionais, principalmente sobre defesa da Amazônia”, afirma.

O ambientalista também citou a inclusão da população local na política econômica de uso das matérias-primas da floresta e criticou a exploração predatória do bioma. “A principal responsabilidade nossa hoje é apresentar pro mundo as nossas metas, cumprir as nossas metas, e cumprir a meta na Amazônia significa manter a floresta em pé, gerando emprego e renda, principalmente para mais de 50% da sua população que ao longo desse tempo, foi excluída dos benefícios econômicos gerados pela exploração irracional da floresta, explica. 

Brunella Pianna Veronez é mestre em engenharia ambiental. Imagem: Reprodução.

Para Brunella Pianna Veronez, mestre em engenharia ambiental, a Amazônia estará no epicentro das discussões da COP-27. “Amazônia e as altas taxas de desmatamento são para onde os holofotes da COP 27 estarão apontados. Para que o Brasil cumpra o compromisso assumido de mitigar 50% de suas emissões de gases de efeito estufa até 2030, às restrições ao desmatamento ilegal na região Amazônica e investimentos em reflorestamento de cerca de 18 milhões de hectares de floresta beneficiarão a região nos próximos anos”, disse Brunella. 

Outro ponto delicado citado por Brunella, seriam os interesses que pairam sobre as riquezas da maior floresta tropical do mundo. “Um importante ponto é a preocupação com tantos interesses externos na nossa floresta, considerando o pouco cuidado que outros países sempre tiveram com seus recursos naturais e biodiversidade na Terra”, pontuou.

 

José Mattos, CEO da Via Floresta, empresa consultora sobre sustentabilidade na Amazônia. Imagem: Reprodução.

Especialista em sustentabilidade na Amazônia, José Mattos, acredita que a COP-27 vai exigir um compromisso maior entre os países que podem ajudar e os que precisam de apoio. “Depois do acordo firmado na reunião de Paris em 2015, a expectativa é que ocorra uma cooperação mais prática entre os países ricos e os países em desenvolvimento, como o Brasil. Nos últimos quatro anos, vimos muito descaso e queimadas na Amazônia”, destacou o CEO da Via Floresta, empresa de consultoria sobre Amazônia.