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Pecuaristas, garimpeiros e políticos paraenses estão entre os envolvidos nas intervenções golpistas

Os envolvidos carregam acusações de garimpo ilegal, comércio irregular e assassinato.

O pecuarista Luciano Guedes, ex-assessor do senador Zequinha Marinho (PL-PA), estava entre os envolvidos nas intervenções golpistas de Brasília, e desde que as prisões dos radicais extremistas começaram, o produtor rural vem usando suas redes sociais para espalhar fake news e questionar a legalidade das detenções. Ele acusa o exército brasileiro de “traidor do povo”.

“As Forças Armadas entregaram os patriotas aos comunistas para serem torturados”, disse Guedes, em publicação nas redes.

Ele, que também é apoiador de grupos extremistas de direita do sul do Pará, chegou a receber uma cooperativa de garimpeiros suspeita de exploração ilegal de ouro na Amazônia, no gabinete do senador Zequinha Marinho, em Brasília, a quem ele assessorou de agosto de 2019 a julho de 2022. Guedes atuou ativamente na campanha fracassada de Marinho a governador do Pará em 2022.

Ex-assessor do senador Zequinha Marinho (PL-PA), Luciano Guedes esteve presente nos acampamentos em frente ao QG do exército em Brasília — Foto: Reprodução

No dia 7 de setembro do ano passado, Guedes esteve em Brasília manifestando apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.“Faça o que for necessário”, declarou o ruralista ao então presidente, com um cartaz em mãos. Com a derrota do candidato, passou a frequentar protestos em frente a quartéis.

Em vídeos, Guedes aparece à frente de um protesto no batalhão de Marabá carregando um cartaz escrito “SOS Forças Armadas”. Os protestantes pediam por intervenção militar para impedir “o socialismo de se instalar”.

Reprodução de Repórter Brasil.

Guedes foi prefeito de Pau D’Arco, município do Pará,  entre 2009 e 2012, já foi diretor geral da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), presidente do Sindicato Rural de Redenção e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Pará (Faepa), também são outros cargos exercídos. 

Ele é defensor do agronegócio e sempre misturou os trabalhos do campo com a política. Crítico dos movimentos sociais, Guedes publicou, em 2017, ano que Pau D’Arco foi palco da maior chacina do campo dos últimos 25 anos, um vídeo no qual insinuava que os dez sem-terra assassinados na chacina eram bandidos.

Outro envolvido na busca por intervenção militar é o comerciante Wellington Francisco Rosa. Ainda em novembro, Wellington saiu de casa, após a vitória de Lula, com destino a Marabá (PA), Wellington gravou um vídeo em que se dizia “mais um brasileiro indignado”. “Vou lutar bravamente para que as autoridades brasileiras possam ser claras e objetivas quanto ao resultado das urnas no dia da eleição.”

Reprodução de Repórter Brasil

Em Marabá está o 52º Batalhão de Infantaria de Selva, um dos pontos de encontro dos extremistas no Pará.

Em dezembro, Rosa esteve no acampamento golpista montado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, onde havia uma barraca financiada por empresários bolsonaristas do sul do Pará. Em vídeo, Rosa convocou “todos os brasileiros de bem” a se juntarem aos manifestantes nos dias 10, 11 e 12 daquele mês, quando seria estabelecido “o dia da vitória, o dia D”. “Nesses 3 dias, se você puder vir para cá, nós vamos estabelecer a vitória. O Exército brasileiro vai agir a nosso favor”, disse.

Reprodução de Repórter Brasil

No vídeo, ao lado de Rosa, estão os pecuaristas Lázaro de Deus Vieira Neto, conhecido como “Lazinho”, e João Franco da Silveira Bueno. Lázaro é um dos acusados do assassinato de duas lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Parauapebas (PA), em abril de 1998, caso que segue na justiça e deve ir a júri popular. João recebeu mais de R$9 milhões em multas ambientais de 2009 a 2019, por vender gado proveniente de áreas embargadas em São Félix do Xingu, segundo o Ibama. No último dia 12, o produtor foi alvo de denúncia do MPF na Justiça por descumprir o embargo e “impedir e dificultar a regeneração natural de florestas mediante o manejo de gado”.

Lázaro doou R$ 100 mil na pré-campanha para o diretório nacional do PL em 2022, e mais R$1.000 para a campanha à reeleição de Bolsonaro. E João foi um dos principais financiadores da campanha de Flexa Ribeiro ao cargo de senador pelo Pará em 2022, com R$120 mil. Doou outros R$5.000 para Bolsonaro.

Ambos aparecem em um segundo vídeo gravado no acampamento do QG de Brasília, ao lado de outros bolsonaristas do Pará, convocando manifestantes a se juntarem ao grupo.

Reprodução de Repórter Brasil

Rosa é dono da Casa da Roça, rede com 12 lojas de produtos agropecuários espalhadas por nove cidades do Pará, cujo capital social ultrapassa os R$4 milhões. O empresário também milita no grupo Direita Xinguara, organização da extrema direita, apoiadora de Bolsonaro e conhecida na região por fazer ataques diretos à Lula. 

O pastor, pecuarista e garimpeiro João José de Souza, como Pr. J Sousa, esteve em frente ao Palácio da Alvorada, em Dezembro, clamando que Bolsonaro convocasse as forças armadas. 

Desde a derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais, Sousa ataca o presidente Lula e o ministro do STF Alexandre de Moraes nas redes sociais. Ele questiona o resultado das urnas, pede por intervenção militar e declara guerra ao comunismo. Alguns dos vídeos publicados por ele foram gravados no acampamento em frente ao QG do Exército, em Brasília, onde Sousa esteve de 14 de novembro até o final de dezembro.

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“Não vamos entregar o nosso Brasil nas mãos dos comunistas. Bandidos, ladrões não haverão de governar o nosso país”, declarou em vídeo.

Ele também convocou apoiadores a comparecerem às manifestações.”Saia do seu lar, venha conosco nessa grande manifestação”, disse.

O pastor é morador de Ourilândia do Norte (PA), e foi candidato a deputado estadual no Pará em 2022 pelo PL, mas não se elegeu.

O pastor se autodenomina garimpeiro e é defensor ferrenho da atividade. Em janeiro de 2020, quando ainda era secretário de finanças de Ourilândia, esteve em Brasília e foi recebido na diretoria colegiada da Agência Nacional de Mineração (ANM). Na pauta da reunião estava a defesa do exercício do garimpo.

Grande parte dos serviços do garimpo são realizados em terras indígenas, onde a prática é ilegal. Em 2021, incentivado pelo governo Bolsonaro, o garimpo registrou o seu maior crescimento em 36 anos, alcançando 196 mil hectares, dos quais mais de 90% estão na Amazônia.

Quando o presidente Lula assumiu o cargo, Sousa protestou em redes sociais contra a revogação do decreto assinado por Bolsonaro que estimulava o chamado “garimpo artesanal’ – medida que, na prática, abria brecha para a exploração ilegal. “Meu Deus do céu! Por que tanta perseguição contra o trabalhador brasileiro? Garimpeiro não é bandido”, declarou em vídeo

Na sexta-feira (20), a Polícia Federal deflagrou a Operação Lesa Pátria. Indo atrás de bolsonaristas envolvidos nos atos anti-democráticos do dia 8 de janeiro. As investigações seguem em curso. Nenhum empresário mencionado nesta reportagem é alvo dos inquéritos até agora divulgados.

O pecuarista Vitório Guimarães da Silva também esteve nos protestos de Marabá. Ele aparece em vídeo puxando o coro das forças armadas, trajando chapéu e camisa da seleção brasileira.

Em outra gravação do mesmo dia, Guimarães evoca o golpe de 1964. “Quero lembrar vocês que, em 64, quem fez a diferença foi a Marcha da Família, liderada pelas mulheres. As mulheres fizeram a diferença. Peço a vocês, em nome dos seus filhos, que façam novamente a diferença.”

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Em 2008, O fazendeiro foi candidato a vice-prefeito do município de Redenção-PA. Seu patrimônio declarado na época foi de R$1,9 milhão.

*Com informações de Portal Metrópoles.