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“Não há como aulas às 7h da manhã preservarem o sono dos adolescentes”, diz especialista

O especialista comentou a necessidade natural de sono que os jovens tem, mas estão perdendo

“Mais cinco minutinhos” é a frase que muitas pessoas dizem logo ao acordar, porém esse pequeno tempo de sono pode impactar na qualidade de vida, principalmente na rotina de estudantes. Segundo entrevista do neurocientista pós-graduado em Harvard e coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da Universidade Federal do Paraná (Labcrono – UFPR), Fernando Louzada, a reorganização do tempo pode influenciar em uma melhora para o ciclo de aprendizagem da educação como um todo.

A discussão em torno da regulação dos horários de aula para que jovens tenham um melhor desempenho acadêmico ganhou força nos últimos anos, principalmente no Brasil e Fernando conta que os adolescentes atualmente precisam, em média, de nove horas de sono, duas a mais do que adultos.

Essa demanda é por conta da condição natural que os adolescentes têm, chamada de atraso de fase de sono que, segundo Fernando, influência na qualidade de sono dos jovens.

“É uma tendência natural e universal a atrasar os horários de dormir e, consequentemente, de acordar também. Por isso, verificamos que a maioria dos adolescentes, principalmente nos grandes centros urbanos, dormem bem menos que isso durante os dias letivos”, diz ele.

Fernando afirma que os horários para os jovens podem ser inconstantes, por isso seu rendimento pode ser baixo: “Se as aulas começam às 7h, e muitos precisam acordar às 6h para chegar a tempo, seria necessário dormir às 21h. Mas é muito difícil pensar em adolescentes, com a tendência ao atraso do sono, dormirem nesse horário.”, disse o especialista.

O sono se demonstra muito importante durante essas fases da vida, “por isso, não há como um horário de início das aulas às 7h preservar o sono necessário dos adolescentes, o que levou muitos países a implementarem um horário mais tarde, e temos discutido muito isso aqui no Brasil”.

Fernando conta que o debate dessa questão no Brasil leva em conta o método de ensino tradicional, por conta de procedimentos das escolas que são cristalizados, consolidados há décadas, por isso muito difíceis de serem mudados.

“Uma série de coisas foram alteradas na pandemia e, quando voltaram às aulas presenciais, nada foi aproveitado, nenhum dos benefícios que poderiam ter sido incorporados no cotidiano escolar”, alega o especialista.

A inconsistência do sono entre os adolescentes é frequentemente associado a maus hábitos, logo é negligenciada, segundo o pesquisador, que conta das diversas maneiras observadas e estudadas de como a condição pode afetar os jovens: “foi estudando comunidades rurais, populações sem acesso a energia elétrica, no Brasil e em outros países que observamos que essa tendência é universal, presente em todos os adolescentes avaliados independentemente do local”.

Outro ponto importante é a influencia dos dispositivos eletrônicos, pois ele revela que o acesso às tecnologias, televisão, videogame, computador exacerba o atraso, já que só o estímulo luminoso sozinho já é capaz de aumentar a tendência a adiar o sono.

Durante o período pandêmico ocorreu um aumento de distúrbios do sono e o especialista contou que há uma série de medidas da chamada higiene do sono, para melhorar essa qualidade de repouso. As medidas vão desde as condições do ambiente, como garantir que ele esteja o mais silencioso, escuro e confortável possível, até hábitos como atividade física regular, alimentação adequada, evitar estimulantes, como cafeína, nas horas que antecedem o sono e reduzir a estimulação luminosa de telas nesse período.