//

Veja o que se sabe sobre o assassinato de uma estudante de jornalismo dentro da UFPI

A jovem Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, que morreu após calourada na Universidade Federal do Piauí, foi estuprada e teve o pescoço quebrado. É o que diz o laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) de Teresina.

Janaína da Silva Bezerra. Foto: Reprodução.

Em nota, o IML apontou a causa da morte como “trauma raquimedular por ação contundente”, que é uma lesão na coluna vertebral a nível cervical, o que provocou lesão da medula espinhal e morte. Ou seja, Janaína teve o pescoço quebrado. Veja a nota do IML na íntegra:

O Instituto de Medicina Legal do Piauí emitiu a Declaração de Óbito de Janaína da Silva Bezerra, estudante morta nesse sábado no prédio da Universidade Federal do Piauí, em Teresina. A causa da morte aponta para trauma raquimedular por ação contundente, ou seja, houve uma contusão na coluna vertebral a nível cervical, o que causou lesão da medula espinhal e a morte.

Segundo a legista, a ação contundente pode ter sido causada por pancada, torcendo a coluna vertebral ou traumatizando, ação das mãos no pescoço com intuito de matar ou fazer asfixia, queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas junto às investigações do caso.

Em depoimento à Policia Civil, o acusado com as iniciais T. M. S. B afirmou que já conhecia a vítima e teriam “ficado” em outras ocasiões. O acusado disse que estavam em uma “calourada” na UFPI e que por volta das 2h convidou a jovem para seguirem a um corredor e em seguida se dirigiram a uma das salas de aula onde praticaram sexo consensual e que após a prática sexual a vítima teria ficado desacordada por duas ocasiões, sendo a última por volta das 4h. Ele alega que permaneceu ao lado do corpo da vítima durante toda a madrugada e solicitou socorro à segurança da Universidade por volta das 9h, que conduziu a vítima ao Hospital da Primavera, onde foi constatado o óbito.

A Polícia Civil solicitou a prisão preventiva do acusado, que encontra-se neste momento em audiência de custódia. Segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa – DHPP, foram adotadas todas as providências necessárias para o fiel esclarecimento do caso, com a realização de entrevistas e a realização de exames periciais, além de perícia no local do crime. O inquérito policial será concluído em até dez dias.”

O CASO

Janaína foi estuprada e morta na madrugada de sábado, 28, em uma calourada que foi realizada no campus da Universidade Federal do Piauí. Segundo o coordenador do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Francisco Costa, um vigilante da Universidade viu um homem, identificado como Thiago Mayson da Silva Barbosa, carregando o corpo da estudante para fora de uma sala do Programa de Pós-Graduação em Matemática, no Centro de Ciências da Natureza (CCN) da UFPI.

Thiago Mayson da Silva Barbosa. Foto: Reprodução.

De acordo com o delegado, em depoimento o vigilante afirmou ter visto sangue nas roupas de Thiago e questionado o que tinha acontecido. Em resposta, o suspeito teria afirmado que a amiga “passou mal durante uma relação sexual consensual” e que a levaria até o hospital. O vigilante, então, deteve o suspeito, chamou reforço e se encaminhou para o hospital com os dois.

Para o delegado, o suspeito iria tentar descartar o corpo da vítima. “Estamos investigando o contato dele com uma pessoa. Pode ser que, ao sair da sala, ele não estivesse indo ao hospital. Acho que ele sabia que ela estava morta e pode ter entrado em contato com alguém pra pedir ajuda pra descartar o corpo”, disse.

Foto: Reprodução.

Janaína já chegou morta ao Hospital da Primavera, localizado na Zona Norte de Teresina. Ela apresentava lesões no rosto e em diversas regiões do corpo e, segundo o delegado do caso, “os ferimentos indicam um homicídio qualificado, um crime hediondo, em que o feminicídio pode ser apenas uma das qualificadoras”.

Thiago Mayson da Silva Barbosa teve a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva no domingo, 29. A Justiça considerou que os crimes cometidos contra Janaína são de “especial gravidade concreta, inclusive, perpetrados com violência física contra a vítima na condição de sexo feminino, a justificar com base na gravidade em concreto dos fatos a decretação da prisão preventiva”.

QUEM É A VÍTIMA?

Janaína da Silva Bezerra foi morta dentro da UFPI. Foto: Reprodução.

Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, era estudante de jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Ela foi a primeira da família a ingressar no ensino superior. A estudante conquistou a vaga no curso de jornalismo no segundo semestre de 2020 e já estava juntando dinheiro para pagar a formatura.

Em entrevista ao g1, a cunhada de Janaína, Andreza Almeida, contou que a vítima sonhava em escrever um livro. “Era muito estudiosa. Só vivia pra estudar. Gostava muito de ler, falava que um dia iria escrever um livro. Assim que entrou na universidade, precisava muito de um computador e, sem ter condições, começou a fazer bolos no pote pra vender e conseguir comprar”, contou.

Em uma rede social, a última publicação da jovem foi um poema, de autoria própria, que começava com o seguinte verso: “anseio o que o futuro tem pra mim”. Veja:

Último post de Janaína em uma rede social. Foto: Reprodução.

UNIVERSIDADE SE MANIFESTA

Universidade Federal do Piauí. Foto: Reprodução.

No domingo, 29, a Universidade Federal do Piauí se manifestou publicamente sobre o caso. À polícia, a UFPI afirmou que a calourada, festa em que Janaína foi morta, não tinha a permissão da administração para acontecer. A instituição também afirmou que está colaborando com as investigações e que vai buscar imagens de câmeras de segurança para ajudar. Veja a nota na íntegra:

Com imenso pesar, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) comunica e lamenta profundamente que, na manhã de hoje (28), a Coordenadoria de Segurança e Vigilância da Instituição encontrou, no espaço da sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE), no Campus de Teresina, uma jovem desacordada, que foi urgentemente levada, por equipe de seguranças da Universidade, para o Hospital da Primavera.

Até o momento da elaboração desta nota, não há identificação formal da vítima e divulgação de laudo pericial pelo órgão responsável. Todas as providências para colaborar com as investigações das autoridades policiais, como isolamento da referida área no campus e boletim de ocorrência, foram adotadas imediatamente pela UFPI. Além disso, a Universidade está efetuando o levantamento de todas as imagens captadas por câmeras de segurança.

O fato aconteceu em festa promovida pelo DCE, nas instalações do próprio Diretório, sediado no prédio do Centro de Ciências da Natureza (CCN), sem autorização de qualquer autoridade da Universidade.

A UFPI desaprova quaisquer eventos que adotem condutas que coloquem em risco a comunidade acadêmica, e preza pela segurança e bem estar de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos, com a adoção de diversas estratégias constantemente divulgadas à comunidade.

As primeiras informações apontam para a ligação do fato a um suspeito já detido pelas autoridades policiais, após condução do mesmo por seguranças da UFPI. A Administração Superior continuará acompanhando as informações oficiais sobre o fato e se une à sociedade no desejo por justiça.

Na manhã deste sábado (28), o Reitor da UFPI determinou a imediata instauração de processo administrativo para apuração dos fatos, bem como a responsabilização dos envolvidos e disponibilizará todo o apoio que possa auxiliar no trabalho das autoridades policiais.

Este é um momento de grande dor e tristeza, que deixa consternada toda a comunidade ufpiana. A UFPI se solidariza com familiares e amigos da vítima, e se coloca à disposição para apoio e providências. Manifesta as mais sinceras condolências diante do triste acontecimento.

Nas redes sociais, a UFPI repudiou o caso e afirmou que a violência cometida contra Janaína atinge todas as mulheres da instituição.

O QUE DIZ O DIRETÓRIO DOS ESTUDANTES?

Segundo o Diretório Central dos Estudantes (DCE), as atividades culturais realizadas dentro do campus da instituição nunca precisaram ser diretamente comunicadas, uma vez que são realizadas em espaço destinado às ações estudantis.

O DCE também afirmou que cede espaço para realização das calouradas, mas que os eventos são de responsabilidade dos respectivos centros acadêmicos (CAs) e/ou coletivos que compõe a instituição. Veja a nota na íntegra:

O Diretório Central dos Estudantes da UFPI (DCE UFPI) vem por meio desta nota tornar público a confirmação de falecimento de uma estudante nas dependências da Universidade Federal do Piauí (UFPI) hoje (27).

A Direção da atual Comissão Gestora tomou conhecimento por informações nas redes sociais nesta manhã e logo em seguida entrou em contato com a Universidade para confirmação do ocorrido.

No entanto, ainda não há informações sobre identidade da vítima, sobre as circunstâncias do ocorrido ou quaisquer informações que elucidem a causa da morte.

As informações iniciais que temos é que hoje, pela manhã, a vítima, estudante de Jornalismo da UFPI, foi encontrada desacordada por um profissional da instituição e, logo em seguida, encaminhada para o hospital. A ocorrência foi feita dentro do Centro onde fica o DCE.

As calouradas que ocorrem no espaço em frente ao DCE é cedida pelo Diretório para que os estudantes, centros acadêmicos (CAs) e coletivos que compõe a Universidade possam ter uma forma de integração entre cultura e arte ao ensino, como também autofinanciamento coletivo dos Estudantes para subsidiar projetos estudantis.

O debate de segurança na UFPI, embora lamentavelmente tenha chegado a esse ponto, não é novidade para o DCE. No último ano (2022), nós, junto com os CAs, buscamos fomento de iniciativas que garantissem minimamente segurança dentro do Campus Ministro Petrônio Portela.

No final do ano, em debate de semanas, conseguimos uma Comissão para dar início neste ano o atendimento a estudantes que sofrem com assédio na Universidade. Temos nítido, no entanto, que esse não é o máximo que a Administração Superior possa fazer para sanar a situação que ocorre hoje, sabemos que o debate de segurança na Universidade passa por um debate patrimônio e não de vida dos estudantes, e também que esse debate não acontece só na Universidade, mas no mundo que é cercado por uma super estrutura de violência.

O DCE se coloca a disposição para ajudar no que for preciso a família da vítima e também presta solidariedade aos amigos e a todo o corpo estudantil.

Nesse momento tão triste, de luto coletivo, nós estamos comprometidos em fazer todos os debates necessários para que nossa Universidade seja segura para todo o corpo estudantil.

Com informações G1*