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Após relatos de cegueira, Anvisa anuncia a proibição da venda de pomadas capilares

A cabelereira e trocologista Rosi Ribeiro conversa com a Agência Brasil sobre o uso de pomadas capilares e os perigos de alguns cosméticos

Após diversos relatos de clientes que tiveram problemas de saúde decorrentes do uso de pomadas capilares, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a restrição e o recolhimento de pomadas capilares do mercado.

Ao todo, 11 pomadas modeladoras de cabelo foram suspensas das vendas para que seja feita a investigação das substâncias contidas nesses produtos e possa haver a regularização.

Segundo a Anvisa, os produtos são alvo de investigação pela própria agência reguladora e pelos órgãos de Vigilância Sanitária locais. Pacientes relataram que sofreram com adversidades graves após o uso.

A Anvisa explica também que a interdição das pomadas é uma medida cautelar que visa proteger a saúde da população e que permanecerá vigente enquanto estiverem sendo realizados testes, provas, análises ou outras providências requeridas para investigação aprofundada do caso. 

Em entrevista à Agência Brasil, a tricologista e cabeleireira Rosi Ribeiro, explicou que os efeitos negativos das pomadas capilares podem ser sentidos tanto pelo profissional que aplica o produto quanto pelo cliente. Explica também que além dos sintomas como coceira e vermelhidão nos olhos, irritação na pele, inflamação no folículo capilar e até cegueira provisória, o uso reiterado da pomada ao entupimento dos folículos e a queda dos cabelos.

Cabeleireira e tricologista Rosi Ribeiro — Foto: Reprodução

“Houve um caso em que a cliente usou trança durante três meses, o cabelo caiu e o folículo fechou. Em vez de retirar a trança, ela refez o penteado. O maior problema é que, com o fechamento desse folículo, o cabelo não nasce mais”, contou a tricologista. 

COMO ACONTECE

Ela explica que os efeitos adversos acontecem quando o produto entra em contato com a água, que faz a pomada escorrer para o rosto e para os olhos. Rosi RIbeiro diz que a melhor forma de prevenção é a informação.

“Há um mito de que a mulher precisa sofrer para ficar bonita, mas isso não é verdade. O essencial é ter informação. Atualmente, cada um pode fazer seu produto. Vai ao laboratório e faz um produto sem controle de quantidade desses conservantes e coloca em excesso. Não é que as substâncias não podem ser usadas, mas que devem seguir regras específicas e com a possibilidade de enxágue – o que não acontece atualmente. Assim, as pessoas precisam saber quais são as substâncias que podem provocar riscos à saúde”, explicou.

11 tipos de pomadas capilares serão recolhidas dos mercados por causarem efeitos adversos nos clientes — Foto: Reprodução

Consumidores que adquiriram o produto são aconselhados a não utilizá-los e entrar em contato com a empresa para verificar os meios de devolução. 

Caso o produto já tenha sido usado e efeitos adversos tenham ocorrido, o ideal é procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo e informar a Anvisa pelas páginas de cidadão e profissional que maneja o produto ou de empresas e profissionais da saúde.

CUIDADOS

Rosi Ribeiro sugere que os clientes procurem produtos com base em substâncias naturais, sem conservantes e por consequência, com validade curta.

“Há uma carência de informação na área de cachos e cabelos afro. Profissionais precisam entender que é possível o serviço ser feito com a mesma qualidade, sem até mesmo o uso da pomada”, afirmou. “Muitas pessoas optam por determinadas opções pelo preço, mas a recorrência de produtos muito mais baratos, sem nenhuma regulamentação, a curto prazo. Só que a longo prazo, ou até médio prazo (de 3 a 6 meses), a pessoa pode ter uma calvície permanente”, explicou.

Rosi destaca o impacto que os efeitos negativos do uso dos produtos pode ter em mulheres: “O uso desses produtos pode levar a uma calvície permanente e isso vai abalar psicologicamente a sua autoestima, sua parte física, além de levar a gastos com diversos profissionais como dermatologistas e psicólogos”, disse.

Rosi explica que o abalo psicológico deixado pelos efeitos negativos do uso do produto é grande
Foto: Reprodução

A influenciadora digital Bielle Elizabeth relatou em seu perfil no Instagram a experiência de ter ficado temporariamente cega após a pomada modeladora usada por ela escorrer para os seus olhos em virtude de uma chuva.

A influenciadora Bielle Elizabeth sofreu com cegueira temporária devido ao uso dos produtos capilares Foto: Instagram/Reprodução

“Usei a pomada para poder finalizar o baby hair, porque é isso que a gente faz. É uma coisa normal, não tem culpado a não ser a marca da pomada que não tem as indicações corretas para deixar circular no mercado”, disse. “Usei a pomada e fui para um evento, eu estava fazendo a publicidade, e choveu. Peguei chuva e automaticamente a pomada escorreu e veio nos meus olhos. Na mesma hora, tive reação”, relatou.

Elizabeth foi medicada em um pronto-socorro e recuperou a visão gradualmente. 

“Quem aqui já não deixou um pingo de shampoo cair no olho ao lavar o cabelo no banho? É a regra ficar cego por isso? Não. O mesmo pensamento deve ser aplicado para a pasta modeladora. É de uma extrema irresponsabilidade e covardia culpar as vítimas. Choveu, suou. Algo natural, que em nenhum momento deve ser colocado em xeque para justificar um produto que cause dor ao cliente”, disse. “Uma irritação é aceitável até e na exceção. Mas o que estamos vendo aqui é a regra de apenas um dia 140 pessoas tendo reações a um produto que tem em sua química o poder de cegar uma pessoa”, completou.

*Com informações de Agência Brasil.