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São falsas as notícias que afirmam que indígenas Yanomami em condição de desnutrição são venezuelanos

Circulam nas redes sociais notícias sobre os indígenas Yanomami serem, na realidade, venezuelanos em estado de fome. A informação falsa foi compartilhada em massa entre grupos bolsonaristas.

No seu título, a fake news apontava a crise humanitária sofrida pelos Yanomami como culpa de Nicolás Maduro e do presidente Lula: “Indígenas em estado de desnutrição em Roraima são venezuelanos e fruto do comunismo de Maduro e Lula”. A notícia falsa foi publicada pelo portal “Poder DF”, baseada em um post de Oswaldo Eustáquio, que é investigado em um inquérito de fake news, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Recentemente o deputado da Assembleia Nacional Venezuelana, Romel Guzamana, declarou que, na verdade, os indígenas encontrados em estado de  desnutrição são venezuelanos emigrantes.

Em seu twitter, o deputado compartilhou que os indígenas estão sofrendo um caso grave de desnutrição após cruzar a fronteira entre Bolívar e Roraima, para fugir do governo ditatorial de Nicolás Maduro: “Denuncio a grave desnutrição de nossos irmãos indígenas ianomâmis do Estado Bolívar. Cruzaram ao Brasil em busca de comida, outra violação aos direitos humanos indígenas por culpa do regime de Maduro”, afirmou Romel.

SITUAÇÃO REAL

Segundo uma nota de esclarecimento, emitida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, as comunidades indígenas venezuelanas recebidas durante a Operação Acolhida não apresentam relação com os povo indígena Yanomami.

A Presidente do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Sheila de Carvalho, afirmou que a situação atual envolvendo os Yanomami já vem de um histórico de negligências do governo Brasileiro: “São mais de centenas de quilômetros que separam essas duas realidades humanitárias. Aqui em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, há um sistema de acolhida. Os Yanomami são indígenas brasileiros vivendo em comunidades no território nacional, onde, há anos, existe negligência sistêmica por parte do Estado”, afirmou Sheila.

A pesquisadora e ativista da Survival International, Priscilla Oliveira, afirmou que os dados estatísticos divulgados sobre a situação atual são somente sobre o lado brasileiro da fronteira: “Inicialmente a gente tem que esclarecer que existem Yanomamis dos dois lados da fronteira tanto na Venezuela quanto no Brasil. E que desses dois lados da fronteira existe a atuação do garimpo ilegal. Mas o que a gente está vendo agora, esses dados estatísticos que estão sendo divulgados, eles se referem somente ao lado brasileiro da fronteira. A gente está falando da terra indígena Yanomami no Brasil. Essa crise de saúde catastrófica que a gente está vendo é um genocídio que já estava em andamento há anos. Durante o governo Bolsonaro a situação piorou drasticamente”, disse a pesquisadora.

 A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também desmentiu as informações. Em seu perfil no Twitter, a organização afirmou: “É falsa a informação de que os indígenas em estado grave de saúde na Terra Indígena Yanomami não são brasileiros.” 

Com informações da Folha de São Paulo e G1*