O Outubro Rosa movimenta as redes sociais e uma grande fatia da comunicação publicitária neste período, que foi criado com o intuito de conscientizar e alertar mulheres sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e mais recentemente sobre o câncer de colo do útero. Mas como será que pacientes oncológicas se sentem durante este período? Por exemplo, será que elas querem ser chamadas de “guerreiras”, ou vivem o peso da romantização do tratamento?
Josiane Damasceno não concorda com esses rótulos e afirma que isso cria ainda mais um peso para a mulher, que se morrer em decorrência da doença, será dito “perdeu para o câncer”. Josiane descobriu o câncer de mama em 2015 e, desde então, busca maneiras para se reinventar e apoiar mulheres que passam pela mesma situação. Depois de um tempo ainda tratando o câncer de mama, ela descobriu que estava com metástase, formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra, no pulmão e em boa parte dos ossos. Segundo Josiane não tinha mais o tratamento curativo, pelo estado avançado, apenas o paliativo que é o conjunto de práticas de assistência ao paciente incurável que visa oferecer dignidade e diminuição de sofrimento mais comum em pacientes terminais ou em estágio avançado.
Ela é coordenadora do @grupolacosdeamor, e participa dos projetos @casapaliativa e @oncoguia. “Tive que ressignificar o que é a vida com câncer, adaptar ele à minha vida e não me adaptar a ele. Sou uma pessoa que tenho desejos, tenho casa e tenho um tumor, mas o tumor não me define ”, afirma Josiane.
Josiane chama atenção para que as pessoas entendam que o mês de outubro não é tão rosa assim, como é mostrado nas campanhas realizadas para a conscientização. “Nós vemos muito sobre a beleza física, as pessoas tentam embelezar e não ouvir”, afirma Josiane sobre a forma como a mídia representa o lugar da paciente oncológica, sem antes ouvir essa paciente.
Além dos aspectos físicos, a coordenadora lembra de questões econômico-sociais, como a falta de estrutura adequada para a prevenção da doença. “Não adianta só debater sobre diagnóstico precoce se não temos acesso à mamografia, isso sim precisa ser debatido. Onde que acha essa mamografia?”, questiona Josiane.
Em Belém, há apenas uma unidade especializada com tomógrafo, a Ure Saúde da Mulher, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). Há outros prestadores que ajudam nesse serviço, como o Hospital Ofir Loyola, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Unacon exclusiva de Oncologia Pediátrica) e o Hospital Universitário de João de Barros Barreto. Outras unidades completas para esse exame estão localizadas em Santarém, como o Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna (Unacon com serviços de Radioterapia). Os são estabelecimentos de saúde são habilitados e credenciados para o atendimento do câncer que integram a rede do SUS – Sistema Único de Saúde.
Convivendo com o câncer há seis anos, Josiane faz questão de reforçar que a doença não define aquilo que ela é. A coordenadora compartilha nas redes sociais ações realizadas para aumentar a autoestima das mulheres, como atividades físicas e corridas. Além de deixar o espaço aberto para as pessoas tirarem dúvidas sobre o assunto e compartilhem também seus medos e anseios.