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Aos 55 anos, aluna de cursinho popular é aprovada em veterinária na UFPA de Castanhal

Nilce Sena, de 55 anos, é técnica em enfermagem, servidora do município, negra, mãe de cinco filhos, nascida no Maranhão e moradora do bairro do Jaderlândia, em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. Ela foi aprovada no curso de Medicina Veterinária na unidade de Castanhal da Universidade Federal do Pará (Ufpa). “Eu ainda nem estou acreditando, mas estou ansiosa para estudar. Minha cabeça fica dando voltas e voltas e fico pensado em tudo que passei para chegar até aqui. Minha vida nunca foi fácil e tudo que conquistei foi com muita luta”.

Nilce foi uma das 8 alunas aprovadas pelo cursinho que frequentou — Foto: Reprodução

Dona Nilce Entrou no cursinho gratuito oferecido pelos professores da UFPA em março do ano passado. Ela conta que a turma começou com 40 alunos, mas terminou com menos da metade. Destes, oito conseguiram vaga na universidade. “Eu fui uma dessas pessoas que foi até o fim. Os professores falavam que eu ia passar, mas eu não acreditava muito”.

Medicina Veterinária não foi a primeira opção de Nilce, que cita os estudos como fator principal para o fim de sua depressão. “Eu nem queria mais trabalhar com vidas por causa de tudo que já passei e vivi, e pensei em fazer matemática porque gosto muito de cálculo, mas, na hora eu marquei veterinária e fiz as provas do Enem”, contou.

Dona Nilce perdeu uma neta em 2018 e sofreu um acidente de moto em 2020. Mesmo tudo isso a tendo abalado, ela não desistiu. “Minha filha disse pra eu me matricular no cursinho e voltar a estudar. Foi então que eu resolvi encarar e ia todos os dias para as aulas, até mesmo aos sábados, quando os professores davam o intensivão”, contou.

Ir até a Universidade para frequentar as aulas era um desafio para a estudante, que mora bem distante. Ela conta que tinha dias que ia a pé até uma praça mais próxima para esperar alguma carona ou o ônibus. “Aqui os ônibus são poucos e demoram muito e eu mesmo puxando a perna porque fiquei com sequelas do acidente, ia caminhando um logo percurso para não perder as aulas. Eu pensava também nos professores que davam a aula de graça e alguns vinham até de Belém. Eu não faltava por nada”, relatou.

Amor pelos animais e pela Veterinária

“Fui criada no meio dos bichos e me acostumei a lidar com eles. Quando fiquei adulta cuidei muito das pessoas porque sou técnica de enfermagem. Então, não vou ter dificuldade. Já estou me imaginando tratando de um cavalo bem grande”, disse Dona Nilce.

Ela relatou ainda um episódio onde seu cachorrinho ‘Minho’ foi atropelado e quem o socorreu e tratou foi a própria dona Nilce. “Antes de ele ser atropelado, passou uma semana internado na clínica por causa de um remédio para carrapato. E quando foi atropelado eu não tinha mais dinheiro, então eu mesma cuidei dele com remédios caseiros. Ele ficou bom e sem nenhuma sequela”, explicou.

O amor pelos animais e o dom para a profissão já era evidente em Nilce — Foto: Reprodução

Nilce foi informada por um de seus professores que havia sido aprovada: “O professor Renato disse que estava vindo pra cá para casa para me levar lá pra Ufpa e depois pra casa de outra colega do cursinho, que também tinha conseguido entrar pelo Enem. Eu nem estava acreditando. Quando vi eles chegaram com os ovos e foram me sujando e fazendo aquela festa toda”, relembrou

A universitária se prepara para a nova fase da vida com muito entusiasmo e emoção. “Eu sou a prova de que uma mulher negra, com quase 60 anos pode sim entrar na faculdade e ser uma doutora. Vou ser a doutora Nilce, que vai cuidar de muitos animais”, prometeu.