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Pesquisa diz que Brasileiro almoça coxinha e derivados por falta de condições financeiras

Crise da pandemia é um dos fatores causadores do aumento no consumo de produtos do tipo

Milhões de brasileiros trocaram refeições completas e nutritivas por pratos mais simples como coxinhas, pastéis ou outros salgados após a pandemia. De acordo com a consultoria Kantar, que monitora o consumo fora de casa de alimentos e bebidas em sete regiões metropolitanas do país, os brasileiros consumiram 170 milhões a mais de salgados prontos no ano passado. Em contrapartida, o consumo de refeições, com arroz, feijão, carne, por exemplo, diminuiu em 247 milhões de unidades na mesma base de comparação.

Parte dos brasileiros escolhe comer salgados e derivados para conseguir reduzir gastos manter renda estável — Foto: Reprodução

Segundo o levantamento, as classes D e E são as mais afetadas pela crise e as que mais consumiram alimentos do tipo, buscando gastar menos com refeições. Na última quarta-feira, 7, O Estadão acompanhou o comerciante Cícero Severiano Ribeiro, de 50 anos, que contou que de duas a três vezes na semana, almoça o tradicional prato feito, mas nos demais dias opta por um salgado e um suco. Antes da pandemia, ele comia arroz com feijão todo dia, mas “os tempos se tornaram difíceis”.

Segundo o Estadão, um prato feito, com arroz, feijão e carne não sai por menos de R$ 25 na região onde Cícero trabalha, o valor equivale ao desembolso de três dias almoçando salgado e suco.

O comerciante Cícero Severiano Ribeiro troca refeição por salgado duas vezes na semana — Foto: Helcio Nagamine/Estadão

Para concluir a pesquisa, a consultoria da Kantar monitorou diariamente, por meio de aplicativo, o consumo de alimentos e bebidas fora de casa de 4 mil adultos. Eles representam o comportamento de 48 milhões de pessoas que vivem nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Recife, Salvador, Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre.

O estudo da Consumer Insights mostra que, em 2019, salgados prontos ocupavam a quarta posição entre os alimentos mais consumidos fora de casa, mas subiu para a segunda colocação em 2022, passando à frente de sanduíches e pizzas, perdendo apenas para os snacks doces que continuaram na liderança nos dois períodos analisados respondiam por 11% do total de unidades de alimentos e bebidas consumidas fora de casa. Em 2022, essa fatia subiu para 15%. Em igual período, a participação das refeições encolheu de 7% para 4%.

“O salgado pronto ganhou tanto destaque que se tornou no ano passado o segundo alimento mais consumido fora de casa e o alimento salgado mais consumido”, afirma Hudson Romano, gerente sênior de Consumo Fora do Lar e responsável pela pesquisa.

Classes de menor renda foram as mais afetadas

A troca da refeição pelo salgado foi puxada pelas classes de menor renda (C, D e E). Por conta da alta dos commodities como arroz, feijão, carnes e óleo, o preço médio da refeição fora de casa cresceu 36% para as classes D e E; 24% para classe C; e recuou para classes A e B, que geralmente inclui outros ingredientes, aponta o estudo.

O aumento da preferência pelo salgado pronto e pelo consumo compartilhado do item virou uma alternativa de renda para os trabalhadores informais. A pesquisa mostra que o canal de vendas de ambulantes cresceu 45% no pós pandemia e foi o que mais aumentou no período, por ter preços menores em relação ao comércio formal.

A faxineira Maria do Rosário Ramos Silva completa renda fazendo salgados para vender Foto: Felipe Rau/ Estadão

A faxineira Maria do Rosário Ramos Silva, de 57 anos, por exemplo, tem como segunda fonte de renda vender salgados que prepara para os vizinhos. Ela tira um salário mínimo com as limpezas e ganha um extra com os quitutes. A coxinha custa R$ 2, bolinha de queijo e bolinho de carne saem por R$ 1. “O pessoal passa na minha casa, compra e leva para comer no trabalho ou à noite em casa e no lugar de uma refeição”, conta.