O ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), recebeu R$ 2,4 milhões em doações de campanha para as eleições de outubro de 2022. Desse total, R$ 1,84 milhão veio de pessoas físicas. O valor corresponde a 76% do total. Todos os doadores eram empresários de diversos ramos.
Alguns dos nomes da lista destacam-se por serem de empresas que supostamente adotam políticas de “sustentabilidade”, mas, mesmo assim, apoiaram um candidato que prometeu “passar a boiada”, ao se referir às regulamentações ambientais de 2020.
Dentre os bilionários que apoiaram a candidatura de Salles está Marcos Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, que foi candidato à segunda suplência do Senado na chapa de Marconi Perillo, sendo o candidato mais rico das eleições de 2022, com uma fortuna declarada ao TSE de R$ 1,3 bilhão. Moraes deu a Salles R$ 250 mil, valor 25 vezes maior relacionado ao que doou o ex-ministro bolsonarista na eleição anterior.
Marcos de Moraes é um dos herdeiros do Grupo Votorantim, e é filho de Ermírio Pereira de Moraes, dono de um patrimônio de R$ 20,65 bilhões, segundo o ranking da revista Forbes. O Grupo começou como uma empresa de produção de produção de eucalipto para celulose, mas se estabeleceu na produção de cimento e, em 2020, entrou no agronegócio com a Viter, que produz e comercializa fertilizantes e corretivos de solo e lançou em 2022 um protetor solar para plantas. No site oficial da empresa, é dito que o produto foi concebido devido a preocupação com a “sustentabilidade e o ecossistema”
O bilionário José Salim Mattar Júnior, dono da Localiza Hertz, empresa de aluguel de carros e jatinhos, doou também R$ 250 mil à Salles. A Localiza possui um valor de capital declarado de R$ 2,18 bilhões, segundo a Forbes. José é dono da Haras Sahara, em Matozinhos (MG), e foi ministro da Desestatização e Privatização do governo Bolsonaro. em 2018, ele havia doado R$ 200 mil. A Localiza está em primeiro lugar no ranking do Radar ESG, um ranking corporativo elaborado a partir de parâmetros próprios para questões ambientais (Enviromental), sociais (Social) e de governança corporativa (Governance).
Hélio Seibel, cujo patrimônio declarado ultrapassa os R$ 2,6 bilhões, doou R$ 100 mil para Salles, quadruplicando a oferta anterior de R$ 25 mil feita na campanha de 2018. Hélio é controlador do Grupo Ligna junto de seu irmão, Salo Davi. O Grupo tem diversas participações acionárias, entre elas, na Leo Madeiras, na Klabin e na Duratex – nesta última, dividindo a sociedade com o Banco Itaú.
Rubens Ometto é empresário da indústria sucroenergética, setor com maior número de doações para o deputado. Ele descende de uma das mais antigas famílias canavieiras do país e é controlador da Cosan, maior processadora de cana de açúcar do mundo, com uma fortuna calculada em R$ 14,5 bilhões pela Forbes. Em 2005, ele foi o primeiro usineiro brasileiro a lançar ações na Bovespa. Dois anos depois, tornou-se o primeiro bilionário de etanol do mundo. Em 2010, sua empresa se associou à holandesa Shell, criando outra gigante do setor, a Raízen.
Ometto também tem negócios no transporte ferroviário com a Rumo, além de ser sócio da Comgás e de ter um grande números de propriedades rurais arrendadas.
Salles e Ometto têm uma grande relação de proximidade. Ainda ministro, o deputado participou, junto com Bolsonaro, da inauguração de uma estação de biogás da Raízen e fez questão de chamá-lo de “meu amigo Binho”. Na última eleição: Ometto não havia doado para Salles em 2018, mas contribuiu com R$ 50 mil em 2022.
Usineiros são os principais financiadores de Salles
Além de Rubens Ometto, outros vinte usineiros – a maioria com colégio eleitoral em São Paulo – doaram para Salles em 2022. Ao todo, o setor sucroenergético deu R$ 775.856,72 para sua campanha de 2022, 42% do total recebido por pessoas físicas.
Marcelo Campos Ometto, dono da Usina São Martinho, doou R$ 100 mil para o deputado, quatro vezes mais do que o valor repassado em 2018. Ele é conselheiro da União das Indústria de Cana-de-Acúcar (Unica), e atualmente é o terceiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), depois da destituição de Josué Gomes da Silva da presidência.
Antonio Eduardo Toniello, dono da Copersucar, também doou R$ 100 mil para Salles. Luiz Roberto Kaysel Cruz, sócio da empresa, deu pouco mais de R$ 32 mil. Gastão de Souza Mesquita, da Melhoramentos Norte do Paraná, dobrou o financiamento a Salles: de R$ 50 mil em 2018 para R$ 100 mil em 2022. Seu filho, Gastão de Souza Mesquita Filho, é um dos idealizadores do movimento Endireita Brasil, fundado pelo próprio Salles.
Os Biagi, família tradicional de canavieiros, também forneceram capital a Salles, com cinco membros doando ao todo mais de R$ 65 mil. Houve também aporte do usineiro Ismael Perina Júnior, que morreu neste ano; ele já foi vice-presidente do Instituto Pensar Agro (IPA), o braço ideológico da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A face mais organizada da bancada ruralista.
Com informações De Olho nos Ruralistas*