Vivemos um momento delicado de medo, tensão e violência nas instituições de ensino. Dentre as soluções propostas pelas esferas privadas e governamentais, está a presença de psicólogos nas escolas.
Desde 2019 há uma lei que determina isso. A lei 13.935/2019 determina a inclusão obrigatória de profissionais de Psicologia e Serviço Social em redes públicas de educação básica. Mais de três anos se passaram e, uma vez mais, esperamos o pior acontecer para entender a necessidade desses serviços no ambiente educacional.
Nesse contexto tenso de ataques, ameaças e mais ataques (o chamado “efeito contágio”, que explica a ocorrência sequencial das violências), são muitas as opiniões, algumas pertinentes, outras nem tanto.
É consenso o entendimento sobre os benefícios de psicólogos na escola, seja no desenvolvimento de estratégias que garantam aprendizagem de qualidade para todas(os) as(os) estudantes, em uma perspectiva plural e inclusiva, considerando suas diferenças, desigualdades e dificuldades ou mesmo no apoio à formação continuada de professoras(es), pedagogas(os), diretoras(es) e demais profissionais da educação em serviço, discutindo questões afetas ao cotidiano escolar e dos territórios do entorno das escolas, favorecendo a autonomia docente na solução dos problemas cotidianos da escola. (fonte: cfp.org.br)
Vamos pensar juntos: qual o nível de vulnerabilidade emocional das vítimas (sobreviventes) dos ataques? E os familiares daqueles que perderam a vida? Os colegas que presenciaram e perderam seus amigos? Sem falar na equipe (professores e demais profissionais) – como lidar com toda a dor e a responsabilidade de retomar as atividades? Como retomar? Isso pensando naqueles que sofreram os ataques de fato. Imagina a também a angústia da comunidade escolar que tem sofrido ameaça?
É inegável a urgência de psicólogos nas instituições de ensino.
Agora importa muito lembrar que um psicólogo não-é-um-milagreiro. Infelizmente vemos uma alta demanda por atendimentos e serviços psicológicos (especialmente na esfera pública) sendo direcionados à um pequeno número de profissionais da psicologia que tentam driblar escassez de todo tipo – falta material, falta lugar adequado para uma escuta, falta remuneração justa. E detalhe: psicólogo também precisa de psicólogo, considerando dentre tantas coisas a desvalorização e o desrespeito à essa área tão essencial.
As conversas sobre saúde mental, qualidade de vida, expressão de emoções, manejo de estresse, enfim, tudo que envolve nosso combo emocional e existencial não pode ficar restrito às paredes de um consultório.
A pandemia veio nos mostrando o quanto precisamos falar, lidar e trabalhar o “nosso psicológico”. Não assusta o aumento em 25% de incidência de ansiedade e depressão, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) nos últimos dois anos. Não à toa o curso de Psicologia foi o mais concorrido na seleção da UFPA deste ano.
Lidamos com a dura realidade de difícil acesso aos serviços de psicologia, ainda muito restritos à realidade de consultórios particulares, com valores por sessão que não cabem no bolso do trabalhador. O problema é que a conta vem, já veio nas escolas.
Sabias que um psicólogo tem diferentes áreas de atuação? Além da clínica e hospital, mais conhecidas, existem psis na área escolar, judiciária, nas organizações e empresas, na área social, nos esportes, no trânsito. É só pensar que estamos nos comportando e sentindo a todo momento, nos mais diferentes lugares. Logo, faz muito sentido ter profissionais da psicologia nos mais diferentes espaços.
Que o poder público compreenda e aja preventivamente sobre a necessidade de debatermos e entendermos o que é a saúde mental, de maneira preventiva. Uma boa parte da ação de um psicólogo também é sobre prevenção – apontando informações e orientações que auxiliem no manejo das demandas cotidianas, de forma saudável. Alternativas viáveis? Rodas de conversa, intervenções e ações nas ruas, nas praças. Até acontecem, pontualmente. Que a gestão pública articule ações amplas e acessíveis… Que possamos estar mais presentes nos mais diversos espaços. Que a conversa sobre saúde mental também seja servida na tua mesa.
Onde podes encontrar serviços de psicólogo clínico? (gratuitamente ou em valor social)? Nas clínicas-escola das faculdades que tenham o curso de psicologia na grade. Nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Nos postos de saúde. Casos de urgência/emergência são atendidos no Hospital de Clínicas Gaspar Viana, em Belém. Nas cidades do interior, os CAPS e UPAs são a referência.
Se cuidem.
Até a próxima.
Juliana Galvão
Psicóloga
CRP 10/3645