//

Pesquisadora da UFPA se pronuncia e esclarece dúvidas sobre o caso da tartaruga morta em Algodoal

Na última semana, registros de uma tartaruga morta com mais de 400 ovos na barriga, em Algodoal, no município de Maracanã, no nordeste paraense, circularam na internet após uma publicação do “projeto Suruanã”, da Universidade Federal do Pará (UFPA), voltado para a conservação de quelônios no litoral paraense.

Em entrevista ao BT, a pesquisadora e membro do projeto Suruanã, Dra. Daniely Félix-Silva, se pronunciou sobre o ocorrido, e deu maiores detalhes e esclarecimentos sobre a tentativa de resgate, a denúncia, e comentou sobre quais medidas devem ser tomadas para evitar que casos como esse voltem a acontecer.

Daniely Félix, pesquisadora da UFPA e membro do projeto Suruanã deu detalhes e esclareceu dúvidas sobre o caso da tartaruga morta em Algodoal — Foto: Reprodução

Daniely esclarece primeiramente que a morte da tartaruga não está ligada a caça e que ela não seria consumida ou teria os seus ovos retirados; “ela ficou presa no curral de pesca, artefato muito utilizado em toda a costa paraense e que, frequentemente, captura acidentalmente tartarugas marinhas”.

“O pescador avisou que ela estava presa e pediu ajuda a uma voluntária do projeto. No entanto, no momento em que isso ocorreu, a maré estava alta e, portanto, era impossível retirar o animal. Quando a voluntária voltou ao local do curral, na maré baixa, o animal já estava morto e amarrado, pendurado nas paredes do curral”, disse a doutora. “É importante que isso fique claro, pois senão fica parecendo que a morte desses animais está diretamente relacionada às atividades de caça, o que era comum no passado, e não mais agora. Atualmente, com base no monitoramento que realizamos em diversos pontos do litoral paraense, o que vemos é a captura acidental por artefatos de pesca”, esclareceu.

Ela também explicou algumas das consequências possíveis que a morte da fêmea ovada tem para as populações da espécie. ” Sobretudo, porque vivemos um momento de intensa pressão antrópica sobre os ambientes naturais, a vulnerabilidade dos quelônios marinhos aumenta ainda mais. Quando falo em pressão antrópica sobre os ambientes naturais, estou me referindo a todo o tipo de poluição nas áreas de uso desses animais, como as áreas de desova (praias) e áreas de alimentação (recifes, costões rochosos e etc), além da destruição desses ambientes, da captura acidental, das mudanças climáticas, entre outros.

Daniely também cita outros fatores que acredita serem mais contribuintes à problemática do caso em questão. “Nesse caso específico, vejo que a falta de identificação e punição do(s) responsável(eis) pode levar à sensação de impunidade e, consequentemente, à diminuição de todos os esforços empregados até hoje, por várias entidades diferentes, para a conservação desses animais”, detalhou.

Como evitar que mais casos do tipo ocorram?

Daniely Félix diz que os membros do Projeto Suruanã acreditam que ações conjuntas dos diferentes atores que exercem atividades na região compõem o primeiro passo na prevenção de acidentes do tipo.

“Tais ações incluem, além do monitoramento sistemático das capturas acidentais, o estabelecimento e o fortalecimento da rede de parceiros locais (pescadores, ribeirinhos, barraqueiros, etc). O diálogo entre os parceiros e a sensibilização para o problema da conservação destes animais também é algo que precisa ser intensificado”, diz. “Apoio financeiro para o envolvimento sistemático de monitores de praia locais é outra atividade que poderá fortalecer a rede de monitoramento e, consequentemente, a conservação efetiva das tartarugas marinhas na costa paraense”, concluiu.