O BT recebeu a denúncia de estudantes do curso de Letras Libras da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em Belém, que relatam que está em falta professores com formação especializada em libras, e que por isso, os alunos recebem apenas aulas de português.
“Essa falta de professores com formação em libras causa grandes perdas pois não aprendemos libras, apenas português. Os professores pegam a disciplina que deveria ser voltada para docência e fluência em libras e ensinam somente a estrutura de língua portuguesa, e isso está errado. O curso é novo e apenas três (professores) são concursados para ensinar quatro turmas do curso de libras com média de 20 alunos em cada sala. Alguns desses professores não têm conhecimento em libras e ministram aula. Eles contratam professores que ficam por dois anos e depois são mandados embora porque se ficar mais de dois anos tem que contratar, e a UFRA não quer contratar”, contou ao BT um estudante de libras da instituição.
Ainda Segundo a denúncia, outro problema é que o Projeto Pedagógico do Curso de Libras não é seguido como deveria. “Os professores de língua portuguesa estão atuando para mudar o PPC para não perderem a carga horária. Aí querem mudar a grade e colocar cerca de 80% do ensino do curso só de língua portuguesa, quando o certo é 50% língua portuguesa e 50% libras. Com essa complicação, não somos formados (os estudantes de libras) com dupla habilitação nos quatro anos de curso, porque estamos estudando muito mais língua portuguesa do que libras. Eles (professores de português) defendem o sistema de ensino oralista e ouvintista. Precisamos urgente de professores especialistas em libras”, detalhou o estudante que preferiu não ter a identidade revelada por medo de represálias.
Confira abaixo as reivindicações dos estudantes do curso de libras da UFRA:
- Contratação de professores com formação em libras;
- Que a direção e coordenação do curso seja de um professor formado em libras, e não em português, como é atualmente;
- Revisão do Projeto Pedagógico do Curso de Libras para a equidade na carga de ensino entre libras e língua portuguesa, ajustado em 70% libras e 30% língua portuguesa;
De acordo com os estudantes que denunciam a situação, o curso de libras da UFRA está entre aqueles com maior índice de evasão de alunos. “É muito triste toda essa situação. Estudamos para passar e entrar no ensino superior e passar por tudo isso é decepcionante para nós alunos. Muitos já saíram do curso por conta disso”, desbafou o estudante.
Sobre as denúncias relatadas nesta matéria, o BT entrou em contato com a UFRA. Em resposta a instituição disse que que o quadro de professores voltados para o ensino da Libras é equivalente ao quadro de professores das áreas que compõem a estrutura do curso, sedo composto por 14 docentes, sendo 12 doutores e 2 doutorandos. Todo e qualquer curso de graduação atua alicerçado em diferentes grandes áreas.
Confira a nota na íntegra abaixo:
“A instituição informa que o quadro de professores voltados para o ensino da Libras é equivalente ao quadro de professores das áreas que compõem a estrutura do curso, sedo composto por 14 docentes, sendo 12 doutores e 2 doutorandos. Todo e qualquer curso de graduação atua alicerçado em diferentes grandes áreas. No caso do curso de Licenciatura em Letras Libras, as grandes áreas que servem à formação discente são: Libras, Linguística, Literatura e Educação (incluindo a Educação Especial). A Ufra esclarece que não há registro, dentro dos oito anos de existência do curso, de professores sem formação em Libras lotados para ministrarem disciplinas da área de Libras, o que pode ser comprovado no site da instituição e/ou no SIGAA do curso. Os professores formados em Língua Portuguesa, que porventura não possuam especialização, mestrado ou doutorado na área de Libras, atuam restritamente ao ensino da Língua e, quando ministram aulas em sua língua materna e há a presença de aluno surdo, contam com o apoio de uma equipe de intérpretes de Libras. A contratação de novos professores encontra-se nos planos da instituição. No entanto, por conta da implementação da Emenda Constitucional 95, no ano de 2016, que limitou por 20 anos os gastos públicos, os concursos públicos só podem ser realizados para a criação de novos cursos ou preenchimento de vagas já existentes por ocasião de aposentadoria ou morte de docente, sendo esta uma realidade toda a rede federal de ensino”.
Sobre o Projeto Pedagógico do Curso de Libras, a UFRA disse:
“Em março de 2020, o curso passou por avaliação do Ministério da Educação (MEC) e atingiu nota 5, considerada a nota máxima. Nesta avaliação, um dos critérios mais relevantes para a obtenção da nota é a qualidade do Projeto Pedagógico do Curso (PPC). O PPC do curso de Letras Libras conta com 24 disciplinas na área de Libras e 05 disciplinas comuns em linguística, totalizando 29 disciplinas em Libras. As disciplinas da área de educação são 13, as de linguística somam 11 e as da área de Literatura são apenas 03. Tanto o PPC do curso quanto à avaliação do MEC são informações de domínio público e podem ser consultadas nos sites da UFRA (Sistema Integrado de Gestão Acadêmica – SIGAA) e do MEC, respectivamente. No mais, a Ufra tem a esclarecer que atua de forma a cumprir com sua missão institucional de formar profissionais qualificados, compartilhar conhecimentos com a sociedade e contribuir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, concluiu a instituição amazônida de ensino.