Uma extensa reportagem publicada pela revista Piauí, na edição de julho, narra com detalhes os bastidores dos últimos 30 anos da vida de Gal Costa (1945-2022), marcados por uma conturbada relação com a empresária Wilma Petrillo.
O texto, assinado pelo jornalista Thallys Braga, busca desvendar a partir de 13 entrevistas feitas com ex-funcionários de Gal, amigos e parentes as acusações de assédio moral, ameaças e golpes financeiros aplicados por Petrillo. Hoje viúva, ela também tem nas costas acusações de levar a estrela, considerada uma das maiores de todos os tempos, à falência.
Na última semana, uma reportagem da Folha de S. Paulo já tinha exposto um calote dado por Wilma na proprietária da residência em que viveu com Gal, na capital paulista. Ela teria deixado de pagar as contas de luz e gás do local.
Um dos casos relatados é do médico Bruno Prado, que se tornou amigo do casal. Ele conta que Wilma chegou a pedir entre R$ 10 e R$ 15 mil emprestados para uma cirurgia nos olhos. O pagamento não foi feito na data combinada.
Em retaliação, deixou de ser convidado para shows e para a casa de Gal. Tempos depois, Bruno, que é gay, mas à época não tinha falado sobre sua orientação sexual para a família, teria ouvido de Wilma: “Se você continuar me cobrando, eu vou fazer uma coisa muito bonitinha: conto pro teu pai que você é viado”.
Ele escreveu um e-mail para Gal, relatando a situação, e ela prometeu que a dívida seria paga. A empresária cumpriu com a promessa, mas as ameaças continuaram. “Você vai tomar uma surra tão bonita que vai aprender a respeitar os outros”, afirmou.
“Ela dizia coisas como: ‘você não tem vergonha de pedir dinheiro para uma mulher mais velha, sua bicha?’”. O rapaz nunca mais falou com Wilma ou com Gal.
O produtor musical Ricardo Frugoli conta que trabalha com Wilma Petrillo era difícil e que Gal chegou a perder oportunidades de shows no Brasil e no exterior por conta do comportamento da empresária. Ele afirma que chegou a abrir o jogo com a cantora sobre o que acontecia e ela se mostrou “furiosa” diante da possibilidade de estar sendo roubada. Os dois nunca mais falaram sobre o assunto.
“Durante muito tempo, fui o cara que não deixou a bomba explodir. Continuar ali era importante para protegê-la do que vinha acontecendo na carreira e dentro de casa”, explica.
Entre os casos relatados está um convite feito a Gal para que se apresentasse no prestigiado Carnegie Hall, em Nova York. “Na próxima vez que ligarem, diga que a Gal não gosta de se apresentar nos Estados Unidos”, teria dito Wilma.
Ao ficar sabendo do comentário, a cantora negou veementemente. “Isso é mentira”. Gal, segundo amigos, não voltava aos Estados Unidos por medo de ser presa já que vendeu um imóvel em Nova York e Wilma, responsável pela negociação, não pagou os devidos impostos.
A atriz Sônia Braga também se afastou de Gal após ter sido vítima de um suposto golpe. Ela não respondeu aos pedidos de entrevista da revista Piauí, ao contrário de Ney Matogrosso. Ele recorda um encontro com Gal no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, depois de algum tempo sem ver a artista.
“Você não gosta mais de mim?”, perguntou Gal, provocando surpresa. “Nós fomos muito íntimos, era uma delícia me encontrar com ela. Falávamos de sacanagem, dávamos beijinhos, vivíamos toda aquela loucura que só quem viveu os anos 1970 sabe”, disse.
“Diante de uma pergunta como aquela, eu só pude responder: ‘Como eu não gosto de você, Gal? Eu te amo’. Daí ela me disse ‘Então por que você recusou as duas vezes que eu te pedi para me dirigir no palco?’”.
O cantor lembra que recebeu apenas um convite e que aceitou prontamente. No entanto, depois de pedir que enviassem um disco físico para que pudesse entender o projeto, foi ignorado. Um dia, Petrillo ligou afirmando que não havia mais tempo hábil para executar o projeto.
“Ela foi tão definitiva com a resposta negativa que eu preferi nem questionar a decisão”, conta. Gal chegou a perguntar na ocasião “se o nome da pessoa que tinha negado começava com a letra W”. Constrangido, ele se negou a responder, ao passo que a cantora murmurou: “Eu sei que foi ela”.