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Ondas de calor atuais seriam “praticamente impossíveis” sem contribuição humana para as mudanças climáticas, dizem cientistas

Um novo estudo mostra que as recentes ondas de calor que assolam o hemisfério norte seriam “praticamente impossíveis” de acontecer na intensidade vista sem a influência humana sobre o clima do planeta. Para os cientistas, a crise climática causada pelo homem é “inegavelmente responsável” pelo cenário, que tem temperaturas constantemente acima dos 40ºC em quatro continentes.

A nova análise do grupo World Weather Attribution usou dados meteorológicos até 18 de julho e modelos computacionais para comparar o clima de hoje, com temperaturas médias 1,2°C mais altas que os níveis pré-industriais, com o clima do final do século XIX. E, a partir daí, compreender que intensidade de calor seria possível sem esse aquecimento global causado pelo homem.

O estudo descobriu que as ondas de calor na Europa e nos EUA foram, no mínimo, 950 e 4,4 mil vezes mais prováveis de acontecer devido às mudanças climáticas – tornando “virtualmente certo” que foram o resultado de emissões causadas pelo homem. Na China, que neste teve seu dia mais quente na história, a onda de calor foi 50 vezes mais provável.

“As temperaturas na Europa e na América do Norte teriam sido praticamente impossíveis sem os efeitos das mudanças climáticas”, disse à Reuters Izidine Pinto, do Instituto Meteorológico Real da Holanda, uma das autoras do estudo.

Os pesquisadores apontam que as emissões de gases de efeito estufa tornaram as ondas de calor 2,5°C mais quentes na Europa, 2°C mais quentes na América do Norte e 1°C mais quentes na China do que aconteceria sem a interferência humana no clima.

O crescente El Niño, fenômeno climático natural que contribui para o aumento das temperaturas e teve seu padrão de atuação confirmado recentemente, acrescentou “um pouco de calor” às ondas recentes, mas o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis foi o principal motivo de sua gravidade, disseram os cientistas.

Essas elevações de temperatura fizeram com que a primeira semana de julho fosse a mais quente da história. As seguidas ondas de calor no hemisfério norte causaram não só temperaturas altíssimas, mas também incêndios florestais de largas proporções. Na Grécia, 19 mil pessoas precisaram ser evacuadas da ilha de Rodes no último final de semana devido ao perigo das chamas.

As ondas de calor brutais não acontecerão mais apenas raramente, disseram os cientistas, e vão piorar em intensidade à medida que as emissões de carbono persistam e a temperatura global média siga subindo. Se o mundo esquentar 2°C, as ondas de calor acontecerão a cada dois a cinco anos.

“Essas ondas de calor não são mais raras, e o mais importante é que esses eventos extremos matam pessoas, principalmente destruindo as vidas e os meios de subsistência dos mais vulneráveis”, disse Friederike Otto, do Imperial College London, Reino Unido, que fez parte da equipe de análise.

Otto disse que é “absolutamente crítico” que os governos cheguem a um acordo para acelerar a eliminação dos combustíveis fósseis durante a COP28, que acontece nos Emirados Árabes Unidos em novembro. “Ainda temos tempo para garantir um futuro seguro e saudável. Se não o fizermos, dezenas de milhares de pessoas continuarão morrendo de causas relacionadas ao calor a cada ano.”

SECAS E INCÊNDIOS FLORESTAIS:
Os efeitos do clima escaldante, com junho tendo sido o mês mais quente já registrado em 174 anos de história de monitoramento de temperatura.

No ano passado, ondas de calor resultaram em mais de 61.600 mortes relacionadas ao calor em 35 países europeus e desencadearam incêndios florestais devastadores.

Este ano, as temperaturas podem ultrapassar o recorde atual da Europa de 48,8 graus Celsius (119,84 Fahrenheit), registrado na Sicília em agosto de 2021.

Abaixo está uma lista dos incêndios mais recentes e avisos relacionados ao calor emitidos na Europa.

FRANÇA
Cerca de seis incêndios de pequena escala foram registrados nas regiões de Nouvelle-Aquitaine, Occitanie, Grand Est, Bouches-Du-Rhone e na ilha da Córsega. Em meados de abril, o serviço geológico francês BRGM disse que os níveis muito baixos das águas subterrâneas colocaram a França a caminho de uma seca de verão pior do que no ano passado, principalmente na parte sul do país.

GRÉCIA
Os incêndios que queimam desde quarta-feira na ilha de Rodes forçaram a evacuação de 19.000 pessoas no fim de semana, quando um incêndio atingiu resorts costeiros no sudeste da ilha. As operadoras de turismo levaram para casa quase 1.500 turistas no início de uma evacuação em massa na segunda-feira e as autoridades disseram que a ameaça de novos incêndios é alta em quase todas as regiões do país.

Um incêndio florestal também forçou evacuações da ilha de Corfu no fim de semana. Quase 2.500 pessoas receberam abrigo, inclusive em estádios, embora muitos tenham retornado a seus hotéis na segunda-feira.

Os serviços de emergência também estavam lidando com incêndios na ilha de Evia, a leste de Atenas, e Aigio, a sudoeste de Atenas.

Um incêndio florestal a oeste de Atenas está queimando desde 17 de julho. Mais de 100 casas e empresas foram danificadas por este incêndio e outro perto de Atenas, que foi apagado na semana passada. Bombeiros, apoiados por bombardeiros de água e reforços de vários países, incluindo Chipre, França, Israel e Itália, estão tentando controlar o fogo. As chamas foram sustentadas por ventos fortes e ondas de calor, relataram vários meios de comunicação.

ITÁLIA
Incêndios queimavam em bosques e vegetação em várias partes da Calábria, a parte mais ao sul do continente italiano.

A agência de proteção civil da Sicília disse que a temperatura em algumas áreas no leste da Sicília subiu para 47 graus Celsius (116,6 Fahrenheit) no domingo, perto do recorde europeu de 48,8 graus Celsius de dois anos atrás. As propriedades da ilha sofreram apagões por causa da onda de calor.

Em 18 de julho, o ministério da saúde emitiu alertas meteorológicos vermelhos para 20 das 27 principais cidades do país. Roma registrou um novo recorde de temperatura de 41,8, informou o serviço meteorológico da região local do Lácio.

PORTUGAL
Portugal Continental enfrenta uma seca generalizada, com cerca de 90% do país afetado. A seca aumentou durante um abril anormalmente quente e seco, conforme relatado pela agência de meteorologia IPMA em maio.

RÚSSIA
Na região central dos Urais, na Rússia, na pequena aldeia de Shaidurikha perto de Yekaterinburg, os incêndios florestais se espalharam em 12 de julho e causaram danos significativos. Uma mulher morreu, duas pessoas foram hospitalizadas com queimaduras e 41 casas foram incendiadas enquanto o fogo se espalhava rapidamente. As condições de tempo seco e ventoso contribuíram para a intensidade do fogo.

ESPANHA
Um incêndio florestal começou em 15 de julho na ilha de La Palma, levando à evacuação de mais de 4.000 pessoas. O incêndio foi contido, informou o jornal espanhol El Pais em 19 de julho, depois de queimar 2.900 hectares da ilha, incluindo 200 hectares do Parque Nacional Caldera de Taburiente.