“O colapso climático já começou”, disse em entrevista o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, na tentativa de quebrar a apatia diante de um desastre ambiental, como destacou a imprensa francesa na última quinta-feira, 7.
O alerta ocupa toda a primeira página do jornal Libération, que destaca “o calor anormal na França, chuvas diluvianas na Grécia e Espanha, depois do verão mais quente em 120 mil anos”. Marcado por fenômenos extremos de calor, numerosos incêndios e poluição do ar. O último trimestre foi o mais quente da história da humanidade, segundo o observatório europeu do clima, Copernicus, com uma média de 16,77° Celsius.
Os recordes de temperatura foram registrados nos hemisférios norte e sul e o ano de 2023 deverá superar o calor extremo de 2016, até agora o ano mais quente já vivido pelo homem. Além disso, “a temperatura da superfície do mar também está excepcionalmente elevada”.
“Nosso clima está implodindo mais rápido do que podemos enfrentar, com fenômenos meteorológicos extremos que afetam todos os cantos do planeta”, afirmou em um comunicado. “Os cientistas alertam há muito tempo sobre as consequências de nossa dependência dos combustíveis fósseis”, acrescentou Guterres.
Ondas de calor, secas, inundações e incêndios afetaram a Ásia, Europa e América do Norte durante o verão boreal, em proporções dramáticas e, em alguns casos, sem precedentes, com mortes e danos elevados para as economias e o meio ambiente.
O hemisfério sul, com recordes de calor em pleno inverno, também foi afetado.
PREOCUPAÇÃO REAL
Na quarta-feira, 6, 45 departamentos franceses estiveram em alerta para o calor. E hoje será mais um dia excepcionalmente quente, com máximas previstas de 37°C, com possibilidade de picos de até 40°C em algumas regiões, de acordo com a Météo France.
O resultado ficou 0,66°C acima da média no período 1991-2020, que também registrou um aumento das temperaturas médias do planeta devido à mudança climática provocada pela atividade humana. E superior – quase dois décimos – ao recorde anterior de 2019.
Nos oito primeiros meses do ano, a temperatura média do planeta está “apenas 0,01°C atrás de 2016, o ano mais quente já registrado”.
Mas o recorde deve cair em breve, levando em consideração as previsões meteorológicas e o retorno do fenômeno climático ‘El Niño’ no Oceano Pacífico, que resultará em mais aquecimento.
SOLUÇÕES
A solução já é conhecida, destaca o diário: “sairmos de nossa dependência suicida aos combustíveis fósseis, responsáveis por mais de 80% das emissões de gases de efeito estufa”.
O assunto também é destaque no diário econômico francês Les Echos, que analisa a declaração final da primeira Cúpula Africana para o Clima, ocorrida em Nairobi, no Quênia, três meses antes da COP 28. Os dirigentes de países africanos apelam a um forte estímulo ao financiamento externo para aumentar em seis vezes a quantidade de energia produzida a partir de fontes renováveis, até o fim desta década. “Um desafio colossal”, segundo o artigo, quando “um em cada dois africanos não tem sequer eletricidade em casa”.
Abrigando 20% da população mundial, a África conta com apenas 2% dos recursos mundiais para energias limpas, aponta o texto. Já os recursos necessários para projetos de adaptação às mudanças climáticas são estimados em € 93 bilhões por ano.
SUPERAQUECIMENTO DOS OCEANOS
Apesar de três anos consecutivos de ‘La Niña’, fenômeno inverso ao ‘El Niño’ que compensa parcialmente o aquecimento, o período 2015-2022 foi o mais quente já registrado.
O superaquecimento dos oceanos, que continuam absorvendo 90% do excesso de calor provocado pela atividade humana desde o início da era industrial, tem um papel crucial no processo.
Desde abril, a temperatura média de superfície dos oceanos registra níveis de calor inéditos.
“De 31 de julho a 31 de agosto, esta temperatura superou todos os dias o recorde anterior, de março 2016”, destacou o Copernicus, atingindo a marca simbólica inédita de 21°C, muito acima de todos os números registrados até então.
“O aquecimento dos oceanos leva ao aquecimento da atmosfera e ao aumento da umidade, o que provoca chuvas mais intensas e um aumento da energia disponível para os ciclones tropicais”, alerta Burgess.
O superaquecimento também afeta a biodiversidade: “Há menos nutrientes no oceano (…) e menos oxigênio, o que ameaça a sobrevivência da fauna e da flora”.
“As temperaturas seguirão aumentando enquanto não fecharmos a torneira das emissões”, procedentes em grande parte da combustão de carvão, petróleo e gás, conclui a cientista.
*Feito com informações de UOL e EXAME.