As enchentes que estão provocando desastre e destruição na Líbia, podem ter deixado 20 mil mortos, de acordo com o prefeito da cidade mais atingida, Derna. Os estragos gerados pela passagem da tempestade Daniel e a quantidade de vítimas, no entanto, poderiam ter sido ao menos minimizados, de acordo com autoridades mundiais do clima.
Imagens aéreas mostraram como as inundações foram devastadoras para a cidade costeira, que é dividida por um rio. O centro do município é situado em uma região de vale. E com a chuva, a força e o volume das águas romperam as barragens e derrubaram o leito original do rio.
As equipes de resgate ainda vasculham as ruínas em busca de desaparecidos. Doações enviadas de várias partes da Líbia estão chegando, mas lentamente. A restauração das estradas já começou, mas muitas pontes também foram destruídas.
Outra preocupação é com a saúde dos desabrigados: as autoridades temem um surto de doenças, motivado pelos corpos em decomposição – que são muitos.
ALERTA DA ONU
Em meio à reconstrução, a ONU alertou nesta quinta-feira, 14, que o grande número de vítimas poderia ter sido evitado se as autoridades tivessem feito um plano de retirada dos moradores antes da inundação.
Já o chefe da Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, afirmou que “se a Líbia tivesse um serviço meteorológico funcional, capaz de emitir alertas, a quantidade de vítimas poderia ter sido limitada”.
A Organização Internacional para as Migrações acredita que as inundações tenham desabrigado 35 mil pessoas.
RELATOS DE DOR
Um dos sobreviventes contou a uma emissora de TV local que perdeu onze pessoas da sua família por conta das enchentes.
Outro homem contou que a sua família se salvou apenas porque todos se agarraram aos móveis da casa enquanto a água corria.
“Quando o vale estourou, o marido da minha filha a colocou em cima de um armário. A outra filha que estava no segundo andar, correu para o telhado com os filhos dela”, explicou.
Os dados mais atuais do desastre contabilizam quase 4 mil mortes e mais de 10 mil desaparecidos.
As testemunhas compararam as inundações a um tsunami. Duas barragens do rio Derna romperam e provocaram inundações de água e lama que destruíram edifícios e veículos no caminho. Muitas pessoas foram arrastadas para o Mar.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU afirmou que a maioria das vítimas “poderia ter sido evitada”, caso os sistemas de alerta precoce e de gestão de emergências tivessem funcionado da maneira correta.
Este é o segundo fenômeno natural que afeta o norte da África nos últimos dias. O Marrocos também vem sofrendo com um terremoto que estremeceu o país. Foi o maior tremor de terra dos últimos 60 anos no Marrocos.
AJUDA
Aviões e navios militares de países do Oriente Médio e Europa transportam ajuda de emergência ao país do norte da África, já devastado pela guerra.
“As rodovias estão obstruídas, destruídas e inundadas, o que dificulta o acesso de ajuda humanitária”, afirmou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Além disso, as pontes sobre o rio Derna que ligam a zona leste da cidade com a zona oeste desabaram, informou a agência da ONU.
O Reino Unido anunciou uma ajuda inicial de US$ 1,25 milhão (R$ 6,1 milhões na cotação atual) e afirmou que está trabalhando com “parceiros confiáveis no local” para identificar as necessidades básicas mais urgentes, incluindo abrigo, atendimento médico e saneamento.
O presidente do vizinho Egito, Abdel Fattah al-Sissi, ordenou a criação de acampamentos para os desabrigados, segundo a imprensa estatal.
A França enviou quase 40 socorristas e toneladas de material de saúde, além de um hospital de campanha.
A Turquia, uma das primeiras nações a oferecer assistência, anunciou o envio de ajuda adicional por barco, incluindo dois hospitais de campanha.
O país também aguarda a chegada de um navio italiano com assistência logística e médica. A União Europeia anunciou o envio de ajuda por parte da Alemanha, Romênia e Finlândia.
Argélia, Catar e Tunísia também prometeram auxílio. O governo dos Emirados Árabes Unidos enviou dois aviões com 150 toneladas de ajuda.
A imprensa palestina anunciou o envio de uma missão de resgate, e a Jordânia enviou um avião militar com alimentos, barracas, cobertores e colchões.
O porta-voz do Ministério do Interior do governo instalado no leste do país, o tenente Tarek al Kharraz, afirmou que, até quarta-feira, foram contabilizados 3.840 mortos na cidade de Derna. Deste total, 3.190 já foram enterrados. Entre as vítimas, estão ao menos 400 estrangeiros, principalmente sudaneses e egípcios.
A ONU prometeu US$ 10 milhões (R$ 49,2 milhões, na cotação atual) para ajudar os sobreviventes na Líbia, incluindo ao menos 30.000 pessoas que, segundo a organização, ficaram desabrigadas em Derna.
A TEMPESTADE
A tempestade Daniel chegou à costa leste da Líbia no domingo. Atingiu, primeiramente, a metrópole de Benghazi e, depois, seguiu para o leste, impactando as cidades de Jabal al Akhdar (nordeste), Shahat (Cirene), Al Marj, Al Bayda e Susa (Apolônia). Derna foi afetada com particular violência.
Os cientistas vinculam a tragédia ao aumento da temperatura da água no Mediterrâneo, ao caos político e às infraestruturas deficientes do país.
*Feito com informações de G1/Jornal Hoje e O Estado de Minas.