Policial Civil, ator, músico, vegetariano, budista, mestre em Direitos Humanos e criador de um personagem chamado ‘O Patriota’. Esse é Leonel Radde, o vereador mais bem votado do Partido dos Trabalhadores (PT) em Porto Alegre em 2020 e uma figura política que cresce o seu capital social dia após dia, com um trabalho ativo nas redes sociais. Usando uma camisa com a palavra ‘ANTIFASCISMO’ em destaque, o vereador falou com a jornalista Mary Tupiassu para novo quadro do Belém Trânsito, “Incomoda”, sobre suas origens, o atual cenário político no país, sobre a ‘lacração’ em debates da esquerda e não poupou críticas a Ciro Gomes (PDT).
Aos 40 anos, Leonel, que tem esse nome em homenagem a Leonel Brizola, político de esquerda falecido em 2014, e muito admirado por seu pai, conta com mais de 180 mil seguidores em suas redes sociais. Foi para esses seguidores que ele apresentou ‘O Patriota’, seu personagem que faz uma crítica aos eleitores do Bolsonaro. “O Patriota, o personagem que a gente criou, foi uma invenção minha. Eu acredito que a sátira seja um dos principais fatores políticos que a gente devia utilizar mais. As pessoas acham que a sátira é uma babaquice, que tem que ser sempre um discurso formal, quadrado, técnico. Mas muitas vezes a sátira consegue um efeito maior de reflexão, mais duradouro e propagador de conteúdo do que tu ser doutoral.”, opinou ele.
Ao ser questionado sobre se essa Intelectualidade excessiva da esquerda cria bolhas, o vereador afirmou que a esquerda, em muitos casos, prefere atacar as contradições da própria esquerda, por menores que sejam, do que ir para o enfrentamento da extrema direita. “Eu não nego a relevância da academia nos debates para políticas públicas. Mas eu acredito sim que a gente tem se prendido a pautas muito restritas. Eu não nego o identitarismo, por exemplo. Eu não nego o debate sobre negritude, sobre lgbt’s, sobre mulheres. Eu reconheço a relevância e vejo a diferença no mercado de trabalho, na política, na ocupação das mulheres, dos negros, do racismo estrutural. Mas me parece que muitas vezes a gente entra naquela lógica da lacração, sabe? A gente prefere atacar as contradições do nosso campo do que fazer um enfrentamento com a extrema direita.”, declarou Leonel.
Leonel falou ainda sobre suas origens e explicou que deve sua consciência de classe a criação que teve de seus pais. Filho de Suzana Guterres, uma das fundadoras do PT, e do dramaturgo e diretor de teatro Ronald Radde, o político sempre conviveu com a luta de classes. “Essa luta vem do berço. A minha mãe foi fundadora do PT, meu pai era diretor de teatro. Eu nasci na constituição do PT. Reunião do Sindicato dos Bancários, greves, Diretas Já. E por conviver direto com a área da cultura, por conta do meu pai. A área da cultura sempre foi um espaço muito diverso, tanto em termos raciais quanto em termos de orientação sexual. Vários tabus não existiam no teatro, mesmo na década de 80.”, contou ele.
Outro tema debatido foi a corrida presidencial de 2018, em que o discurso antipetista foi fortemente espalhado na campanha do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na época, uma terceira via foi levantada: Ciro Gomes. O vice-presidente do Partido Democrátido Trabalhista (PDT), era um defensor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e chegou a afirmar diversas vezes que a prisão de Lula era ilegal. Entretanto, há alguns dias afirmou que o ex-Ministro Sérgio Moro (Podemos) demosntrou ser incompetente por, segundo ele, “garantir a impunidade” do ex-presidente. Quando questionado sobre isso por Mary, Leonel foi taxativo em afirmar que o pré-candidato à Presidência da República pelo PDT é um ‘ressentido político’. “Pra mim o Ciro é um ressentido político. Pra mim, o que ele tem de inteligência acima da média ele tem de falta de inteligência emocional. Não tem outra explicação. No meu ponto de vista ele foi o próprio inimigo. Porque depois dessa eleição ele dificilmente vai ter a chance de tentar novamente ser Presidente da República. Ele vai pra uma lógica de tentar angariar um bolsonarismo fanatizado, achando que o discurso antipetista dele vai surtir efeito. Mas não vai.”, afirmou Leonel.
Leonel também foi questionado sobre se seria um contrassenso budismo e política, já que a política, por natureza, é dualista, maniqueísta. Sobre isso, Leonel reconhece as críticas do budismo em relação à participação política. “O budismo é muito crítico em relação à participação política porque considera que estamos lidando com ego. Por isso eu digo que eu não sou vereador, eu estou vereador.”, afirmou.
Por fim, Leonel admitiu a possibilidade de concorrer a Deputado Estadual nas eleições de 2022. “A gente está construindo a possibilidade de candidatura a Deputado Estadual aqui no Rio Grande do Sul”, revelou.
Confira na íntegra a entrevista feita com Leonel Radde.