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Vírus ‘zumbis’ estão acordando após 50 mil anos por mudanças climáticas; entenda 

O virologista Jean-Michel Claverie e sua equipe estão há décadas investigando os ‘vírus zumbis’’ patógenos adormecidos por mais de 50 mil anos que tem chance de retornar à vida e infectar humanos devido ao aquecimento do planeta e, consequentemente, ao derretimento das calotas polares que estão congelados. 

O cientista Claverie, de 73 anos, dedicou vários anos analisando vírus “gigantes”, incluindo um estudo com aqueles de aproximadamente 50 mil anos, localizados nas camadas mais profundas do permafrost da Sibéria. As principais reflexões levantadas seriam de que um aquecimento elevado irá libertar gases com efeito de estufa retidos, como o metano, na atmosfera, na proporção que o permafrost da região derrete, foram bem documentadas, mas os agentes patogênicos latentes são um perigo menos explorado. 

Veja um dos vírus ‘zumbis’ analisados por Jean-Michel Claverie. Reprodução: Jean-Michel Claverie

Vale lembrar, que o permafrost, é um solo que oferece as condições perfeitas para a manutenção da matéria orgânica: natural, escuro, sem oxigênio e mínima atividade química. Na Sibéria, o solo consegue ter até 1km de profundidade, sendo o local onde o permafrost possui maiores profundezas pode atingir até um quilômetro de profundidade — o único lugar no mundo onde o permafrost atinge aproximadamente dois terços do território russo. Também se descobriu que somente um grama contém milhares de espécies de micróbios adormecidos, segundo um artigo publicado na revista Nature em 2021. 

No último ano, o cientista e sua equipe teriam feito pesquisas em que foram extraídos alguns vírus antigos do permafrost e indicou-se que todos eram prejudiciais à saúde e infecciosos. No total, são 13 novos vírus, incluindo um congelado debaixo de um lago há mais de 48.500 anos. De acordo com o cientista, uma infecção viral de um patógeno antigo e desconhecido em humanos, animais ou plantas poderia ter efeitos potencialmente “desastrosos”. 

Claverie expôs pela primeira vez que estes vírus “vivos” poderiam ser extraídos do permafrost siberiano e que poderiam retornar à vida em 2014. No entanto, por motivos de segurança, os estudos se manteriam somente nos vírus com capacidade de infectar amebas, suficientemente distantes dos seres humanos para poder evitar qualquer risco de contaminação. O cientista ainda alertou que a escala da ameaça à saúde pública que as pesquisas realizadas apontaram foram subestimadas. 

O virologista Jean-Michel Claverie passou décadas estudando vírus ”gigantes”. Reprodução: Imagens de Bloomberg.

‘‘50 mil anos atrás no tempo nos levam à época em que o Neandertal desapareceu da região. Se os neandertais morressem de uma doença viral desconhecida e este vírus ressurgisse, poderia ser um perigo para nós’’, afirmou o pesquisador. 

A equipe de cientistas prometeu que, por enquanto, ainda não há razões para algum pânico, visto que, o risco de exposição humana aos vírus mais antigos ainda é muito baixo. O Ártico, onde está localizado o permafrost, é um ambiente pouco povoado e ainda não se teria certeza acerca dos vírus congelados ou se esses permaneceriam infecciosos ao serem colocados nas condições climáticas atuais e se haveria um hospedeiro mais adequado.  

Entretanto, é necessário lembrar que até 2019, o vírus da Covid-19 ainda era de pouco conhecimento público e que não havia noções sobre o potencial de devastação e proliferação. Além disso, em julho deste ano, outro conjunto de pesquisadores conseguiu reanimar uma lombriga de 46 mil anos do permafrost siberiano somente com reidratação.  

Cratera de Batagaika desmoronando à medida que o permafrost descongela. Reprodução: Reuters.

Por quatro séculos, as camadas do permafrost estiveram estáveis. Um exemplo disso é o nascimento de cidades na região. Porém, as mudanças climáticas estão alterando esse cenário, já que estão surgindo crateras na área, e até mesmo cidades estão afundando. 

Durante os últimos anos, agências de saúde globais e autoridades governamentais têm analisado algumas doenças infecciosas não conhecidas que humanos não teriam imunidade ou tratamento apropriado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou, em 2017, uma “Doença X” em conjunto de outros já conhecidos, como a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e o ebola. “A OMS trabalha com mais de 300 cientistas para analisar as evidências de todas as famílias de vírus e bactérias que podem causar epidemias e pandemias, incluindo aquelas que podem ser liberadas com o descongelamento do permafrost”, explicou a porta-voz da OMS, Margaret Harris.