Na densa teia de mitos e lendas que permeiam a Amazônia, a fascinante história da cobra grande destaca-se como um dos elementos mais enigmáticos do imaginário popular. A região, repleta de histórias, personagens encantados e misticismo, encontra na lenda da cobra grande uma narrativa que ecoa pelos séculos.
A Boiúna: Entre a História e o Misticismo
Conhecida como “boiúna”, a cobra grande possui sua morada lendária sob a cidade de Belém, entre os bairros da Cidade Velha e Nazaré. De acordo com a tradição, a cabeça da cobra repousa na imponente Catedral da Sé, enquanto seu corpo serpenteia até a majestosa Basílica. A crença sugere que, caso essa gigantesca serpente acorde de seu sono milenar, a capital paraense afundaria nas águas do rio.
As histórias sobre como a cobra grande poderia despertar são tão diversas quanto intrigantes. Alguns afirmam que ela poderia se aborrecer, enquanto outros contam que ela já se movimentou em momentos de tremores de terra em Belém. Há até uma curiosa narrativa que sugere que a cobra grande acordaria se o tradicional Círio não fosse realizado, sendo a corda da procissão considerada a representação simbólica da serpente.
O Mistério Durante a Pandemia
Em 2020, durante a pandemia, a lenda da cobra grande voltou a intrigar a população. A incerteza sobre a realização do Círio alimentou o imaginário popular, pois, segundo a crença, o encantamento da cobra se renova a cada ano quando os promesseiros, em sua peregrinação, “pisam” na cobra para acalmá-la. A questão de se haveria ou não Círio tornou-se um capítulo adicional na misteriosa história da boiúna.
O Enigma da Pajelança Cabocla
A cobra grande não é apenas uma figura lendária; ela é um elemento comum nas tradições da pajelança cabocla. Essa prática espiritual frequentemente relata histórias de pessoas que se transformam em seres místicos, como o boto, a matinta-perera ou, justamente, a temível cobra grande.
A lenda da boiúna continua a envolver Belém com seu toque de mistério, unindo a história, o folclore e a espiritualidade em uma trama que transcende o tempo. Enquanto a cobra grande repousa em seu sono lendário, a cidade às margens do rio Amazonas mantém viva a tradição de um dos mitos mais intrigantes da região.
Adaptação: professor Kleber Pinheiro
