Desde o final de semana, regiões no Chile queimam devido a incêndios florestais sem precedentes que já deixou pelo menos 112 pessoas mortas e um rastro de devastação. A cidade de Valparaíso é a mais afetada pelo fogo e já teve mais de 3 mil casas destruídas.
O presidente do país, Gabriel Boric, declarou luto nacional por dois dias e segue atuando no combate ao fogo. O governo também investiga se o incêndio pode ter sido criminoso. O evento já é considerado pelas autoridades como a maior tragédia nacional desde o terremoto de 2010, que vitimou mais de 500 pessoas.
Os primeiros registros de vítimas foram feitos na sexta-feira (2), e a expectativa é que o número de mortos aumente “significativamente” enquanto bombeiros, soldados e brigadistas lutavam para apagar vários incêndios no centro e no sul do país, informou Boric.
“Dadas as condições da tragédia, o número de vítimas certamente aumentará nas próximas horas”, disse Boric, que viajou à região no domingo, 4, para acompanhar os trabalhos de resgate.
HISTÓRICO
Dados da Global and Planetary Change, os pesquisadores Xavier Úbeda, da Universidade de Barcelona, e Pablo Sarricolea, da Universidade do Chile, mostram que o número de incêndios tem crescido substancialmente desde 1985, aumentando de gravidade progressivamente.
No país, a maioria dos incêndios é provocada pelo ser humano, propositalmente ou não. Mas são fatores naturais que os levam a tomar grandes proporções.
Dados da autoridade florestal chilena (Conaf) mostram que 58,2% dos incêndios são resultado de negligência ou acidentes. Os incêndios intencionais somam 24% e 17,6% têm causas desconhecidas. Apenas 0,2% têm causas naturais (raios e erupções vulcânicas).
Numerosos estudos alertam há anos para a combinação literalmente explosiva de clima (semiárido e árido), vegetação altamente inflamável (plantações de eucalipto e pinus) com uma população crescente no entorno. Bairros inteiros são contíguos a florestas plantadas, em encostas expostas ao vento, que espalha as chamas, e onde o combate do fogo é difícil.
Somado a isso, a própria vegetação nativa também é bastante inflamável, embora tenha alguma tolerância ao fogo. Porém, a frequência de incêndios tem sido tão grande que ameaça a existência da palmeira chilena (Jubaea chilensis), que formava florestas, hoje bastante reduzidas.
Em Valparaiso, se sobressai o avanço das áreas urbanas sobre as florestas plantadas ou não e o fato de o país não ter desenvolvido sistemas de prevenção de incêndios eficientes e planos de desenvolvimento territorial que levassem em conta o risco do fogo.
Os cientistas dizem que incêndios de grandes proporções como esses de agora no Chile têm raízes ambientais (mudança do clima, degradação e desmatamento) e sociais (construção em áreas de risco, falta de educação da população sobre práticas para evitar o fogo).
Incêndios florestais tem se tornado mais frequentes no mundo nos últimos 40 anos. Não à toa, o historiador americano Stephen Pyne, cunhou em 2019 o termo piroceno, a era do fogo. O Chile é um dos países mais afetados não apenas devido ao clima, mas à proximidade entre florestas e áreas densamente povoadas.
No ano passado, o Canadá teve os piores incêndios de sua história. As chamas também consumiram boa parte da Ilha de Mauí, no Havaí, matando mais de 90 pessoas. E na Austrália incêndios devastadores se tornaram recorrentes na última década.
No Brasil, os incêndios estão quase sempre relacionados ao desmatamento e a abertura de áreas para plantações e pastagem. Cientistas dizem que a maioria tem causa humana, mas nem todos são criminosos.
*Feito com informações de O Globo.